Capítulo 15 - O Exorcista

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Narração Alice

Pensei muito antes de me apresentar. Porque... Como posso dizer? Não sei me expressar muito bem, eu acho. Pelo menos quando o assunto em questão sou eu. Eu e meus sentimentos. Que brega.

Sou Alice Hessel. Tenho 16 anos. Dezesseis anos de instabilidade, no melhor estilo placas tectônicas no Japão. Em Fukushima para ser mais exata. Ok. Deixa eu explicar melhor, avisei que não era boa em me expressar, às vezes, recorro á comparações e só piora a situação.

O negócio é que quando eu era bem pequena, meu pai, Bento e Cezar eram meus heróis. Me sentia protegida com eles e adorava segui-los. Não que eu também não gostasse de estar com minha mãe, mas como ela estava sempre em casa, sair com meu pai ou seguir Bento e Cezar era como uma aventura, e irritá-los pelo caminho era bem legal. Tive uma infância boa. Não é todo mundo que tem a chance de jogar futebol na rua, ou comer manga direto do pé. Mas então aconteceu o divórcio. Fiquei muito triste quando meus pais se separaram. Aquilo quebrou um pedacinho meu, foi uma fase difícil, mas foi se restaurando com o tempo...

Agora vamos falar de coisa boa?! (Leia imaginando a voz do cara da tecpix, a câmera mais vendida no Brasil. Odeio tanto esse cara...).

Enfim...

Sabe, sempre fui uma leitora intensa, mas sempre achei um tanto exageradas as descrições das ditas mocinhas. Por favor, né, daí o sujeito coloca uns fios atrás da sua orelha e surgem arrepios, borboletas e fogos de artifício? E que negócio é esse de corar a toa? Coração acelerado, pernas moles, tremedeira? Eu sempre achei isso tudo muito parecido com doença...

Então, um belo dia, dando a volta no quarteirão de bicicleta, com uns onze anos, no início do meu período de mutação – como eu chamo a adolescência – me estabaquei no chão, quando minha bicicleta passou por umas pedras no meio fio. As correntes dela já eram e meus joelhos e cotovelos também. Estou exagerando, só ralei e saiu um pouco de sangue.

Do chão, vi uma mão estendida. A segurei e levantei. Ele sorriu balançando a cabeça. Pegou uma mexa dos meus fios bagunçados da frente dos meus olhos e colocou atrás da minha orelha, me fazendo vê-lo melhor. Então eu percebi que estava doente.

Adivinhem quem era? Exato. Cezar desgraçadamente lindo Sartori. Ele levantou minha bicicleta capenga e foi andando em direção à sua casa. Só aí percebi que caí bem ali na rua dele, atrás da minha.

- Ei! Quer ser atropelada também? Sai da rua! – a voz dele me tirou do transe e comecei a segui-lo.

Cezar colocou minha bicicleta num canto do jardim e foi me empurrando pelos ombros – mais sintomas – até eu sentar no sofá da sala.

- Você bateu a cabeça? Está toda lerda... Espera aí – ele disse indo para o corredor, como se eu fosse sair do lugar.

Cezar voltou com uma maletinha vermelha. Ele limpou a poeira e o pouco de sangue da minha pele. Percebi que estava definitivamente doente, quase em estado terminal, quando ele fez questão de procurar na embalagem de band-aid de super heróis, aqueles que tinham a mulher maravilha.

Sorri olhando para meus joelhos levemente ardidos, meio em coma.

Isso não é a coisa mais boba do mundo? Um curativo! Então, foi aberta a temporada de idiotices sucessivas. Depois desse dia, vivi uma ambivalência entre irritar Cezar e fugir dele, porque eu realmente não sabia como agir com o que estava sentindo, era uma criança! Contei tudo a Josy, que achou tudo lindo. Passei a escrever meu nome junto com o de Cezar dentro de corações e meu nome com o sobrenome dele... Eu sei. Patético!

(No) Directed By Cezar SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora