- O que aconteceu, colega, é que eu sou uma idiota – ela diz virando-se de costas para a cama e consequentemente para mim, jogando a cabeça para trás no colchão.
- Por quê? – pergunto me sentindo um psicanalista, só que Alice usa o chão como divã.
- Podemos falar sobre isso amanhã?
- Não mesmo – digo firme.
- Ok... - Ela respira fundo - Como eu já havia te falado, eu saí com Rodrigo. Nós fomos comer pizza no Deannabeats...
- Uhn – murmuro.
Só para o conhecimento de vocês, Deannabeats tem as melhores pizzas da região. Recomendo a portuguesa.
- Comemos, conversamos – ela continua – Rodrigo me contou muitas novidades e depois ele me chamou pra ir ao Babilônia Club. Eu já tinha ouvido falar desse lugar, que tem shows e tudo mais... E... Como talvez você já saiba, lá é proibido para menores de 18 anos...
Sim eu sabia. Também para conhecimento de vocês, Babilônia Club é uma casa de shows. Aos finais de semana, geralmente rolam shows de artistas muito ou pouco famosos e nos outros dias, funciona como uma boate, mas que mistura apresentações ao vivo de bandas independentes e DJs.
Como eu sei? Porque eu já fui lá. No dia em que tomei meu primeiro, único e espero que último porre da minha vida. Foi o presente de aniversário que Igor me deu pelos meus dezesseis anos, conseguir entrar lá subornando o segurança. Claro que minha mãe e minha avó nunca ficaram sabendo, só meu avô.
Não ia funcionar dizer a elas: Ei ascendência! Vou comemorar meu aniversário na Babilônia! Arrivederci!
Elas acham que dormi na casa de Igor. Na verdade eu dormi, depois de ter acordado pela manhã na calçada em frente. Não me orgulho disso. Igor diz que fico muito engraçado quando bebo e que valeu totalmente a pena. Só se for para ele.
Mas quando busquei Alice, nem me dei conta de que era aquele lugar, estava tão preocupado... Aliás, vamos focar no que ela está dizendo, não no meu passado de arrependimentos. O que aquele cachorro louco estava pensando quando a levou lá? Ele está querendo morrer?
- Eu sei que é proibido – respondo finalmente – por que aceitou ir até lá?
- Bom... Eu... Não sei direito, queria saber como era lá dentro, ouvir boa música ao vivo... Rodrigo disse que conseguiríamos entrar pelos seus contatos da banda que ele agora faz parte, eu não sei se eu já te falei, mas ele toca guitarra.
- Uhn – resmungo, mas minha vontade era gritar aquela palavrinha que rima com exploda-se.
- Então, estávamos numa fila e um grupo de pessoas se aproximou de Rodrigo, o cumprimentando e elogiando pelo último show. O segurança parecia ser super íntimo de Rodrigo e daquele pessoal e nem ligou para mim. Todos entramos juntos. Mas algumas meninas desse grupo disseram que levariam Rodrigo para conhecer a banda da noite, que pelo o que ouvi, ele é muito fã. Ele pediu para eu esperar perto do bar e eu fiquei lá admirando tudo. Só que... Um cara se aproximou de mim com um copo...
A cada palavra de Alice, a raiva de cachorro louco por ter deixado ela sozinha e dela também, por ter aceitado tudo só aumentava.
- O cara me ofereceu a bebida, mas bem, você sabe de quem sou filha, a neurose e precaução estão em minhas veias. Claro que não aceitei. Mas o cara achou que eu estava esnobando, ou fingindo não querer, porque ele bebeu todo o líquido de uma vez só, com certa raiva e me puxou para a pista pelo braço, com força – ela diz e passa a mão de leve sobre o braço – Fiquei com medo, nunca havia passado por isso, então dei um chute no meio de suas pernas e saí correndo sem rumo. Esbarrei em algumas pessoas, algumas tentavam me segurar pelo caminho... Não conseguia encontrar a maldita saída, me senti perdida e sufocada...
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(No) Directed By Cezar Sartori
General FictionCezar Sartori vivia uma vida tranquila com seus 17 anos, alimentando o sonho de se tornar um grande cineasta no futuro e ver seu nome num grande telão negro "Directed by Cezar Sartori". Com uma mente muito criativa ele cria roteiros a part...