- Ainda está aí? - Me pergunto se esta era a armadilha. Se este era
o plano. Se talvez ela tivesse sido enviada para me matar neste pequeno espaço sob o manto da escuridão. Realmente nunca soube o que eles iam fazer comigo no hospício, nunca soube se eles achavam que me prender seria bom o suficiente, mas eu sempre achei que eles poderiam me matar.
Sempre me pareceu uma opção viável.
Não posso dizer que não mereceria isso.
No entanto estou aqui por alguma coisa que nunca tive a intenção de
fazer e ninguém parece se importar com o fato de ter sido um acidente.
Meus pais nunca tentaram me ajudar.
Não escuto os chuveiros funcionando e meu coração gela. Este singular recinto raramente está cheio, mas geralmente há outras pessoas,
nem que sejam apenas uma ou duas. Percebi que os residentes do
hospício ou são loucos legítimos e não conseguem encontrar o caminho para os chuveiros, ou simplesmente não se importam com isso.
Engulo em seco.
- Qual seu nome? - Sua voz rasga o ar e meu fluxo de consciência em um só movimento. Posso sentir sua respiração muito mais perto do
que ela estava antes. Meu coração está acelerando e não sei por que, mas
não consigo controlar isso. - Por que você não me diz o seu nome?
- Sua mão está aberta? - pergunto, minha boca seca, minha voz rouca.
Ela avança devagar e eu estou quase com medo de respirar. Seus
dedos roçam o tecido duro da única roupa que terei para sempre e eu consigo soltar o ar dos pulmões. Desde que ela não toque minha pele; Este parece ser o segredo.
Minha fina camiseta foi lavada tantas vezes na água desagradável deste edifício que parece um saco de pano contra minha pele. Solto o
pedaço maior de sabonete em sua mão e ando para trás pé ante pé.
- Vou ligar o chuveiro para você - explico cuidadosamente,
ansiosa por não elevar minha voz, temendo que outros me ouvissem.
- O que faço com minhas roupas? - Seu corpo ainda está muito próximo ao meu.
Pisco mil vezes na escuridão.
- Você tem que tirá-las.
Seu riso soa com um ar divertido.
- Não, eu sei. Quis dizer o que faço com elas enquanto tomo banho?
- Faça com que não se molhem.
Ela respira fundo.
- Quanto tempo nós temos?
- Dois minutos.
- Jesus, por que não disse an...
Ligo seu chuveiro ao mesmo tempo que ligo o meu, e suas reclamações afogam debaixo da ducha entrecortada das torneiras que mal
funcionam.
Os movimentos são mecânicos. Fiz isso tantas vezes que já memorizei os métodos mais eficientes para esfregar, enxaguar e racionar sabonete para meu corpo, bem como para meu cabelo. Não há toalhas, então o truque é tentar não ensopar nenhuma parte do corpo. Se o fizer,
nunca se secará adequadamente e passará a próxima semana quase
morrendo de pneumonia. Sei muito bem.
Em exatos 90 segundos eu torci os cabelos e estou me enfiando de
volta na minha roupa esfarrapada. Das coisas que tenho, meus tênis são
os únicos que ainda estão razoavelmente em boas condições. Não fazemos caminhada.
A companheira de cela segue o exemplo quase imediatamente. Estou
satisfeita por ela aprender rápido.
- Pegue a barra da minha camisa - instruo-a. - Temos de correr.
Seus dedos roçam a parte estreita das minhas costas por um vagaroso
momento e eu tenho de morder o lábio para conter a intensidade. Quase paro no lugar. Ninguém jamais coloca as mãos em qualquer parte do meu corpo.
Tenho de correr, então seus dedos me abandonam. Ela tropeça ao me alcançar.
Quando finalmente estamos presas entre as familiares quatro paredes
de claustrofobia, minha companheira de cela não para de me encarar.
Enrolo-me no canto. Ela ainda tem minha cama, meu cobertor, meu
travesseiro. Perdoo-a por sua ignorância, mas talvez seja cedo demais para sermos amigas. Talvez eu tenha me precipitado em ajudá-la. Talvez ela realmente só esteja aqui para me fazer infeliz. No entanto, se eu não me manter aquecida, vou ficar doente. Meu cabelo está muito molhado e o cobertor com que costumava enrolá-lo ainda está no lado dela do
quarto. Talvez ainda esteja com medo dela.Inspiro muito intensamente, muito depressa levanto os olhos à luz opaca do dia. A companheira de cela envolveu dois cobertores sobre meus ombros.
Um meu.
Um seu.
- Desculpa por ser tão imbecil - murmura ela para a parede. Ela
não me toca e eu estou (desapontada) feliz por ela não tocar. Queria que
ela tivesse. Ela não deveria. Ninguém jamais deve me tocar.- Sou Camila fala ela lentamente. Ela se afasta de mim até clarear o quarto. Ela usa uma mão para empurrar a armação de minha cama de volta para o meu lado.
Camila.
Um bonito nome. A companheira de cela tem um bonito nome.
É um nome de que sempre gostei, mas nunca consegui lembrar porque.Não perco tempo ao subir sobre as molas mal disfarçadas de meu
colchão e estou tão exausta que quase não sinto as espirais de metal que
ameaçam perfurar minha pele. Não durmo há mais de 24 horas. Camila é
um bonito nome é a única coisa em que consigo pensar antes de a
exaustão invalidar meu corpo.
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Estilhaça-me (camren)
FanfictionLauren não toca alguém a exatamente 264 dias. A última vez que ela o fez, que foi por acidente, foi presa por assassinato. Ninguém sabe por que o toque de Lauren é fatal. Enquanto ela não fere ninguém, ninguém realmente se importa. O mundo está ocup...