A sala de jantar é grande o bastante para alimentar milhares de órfãos. Em vez disso, há sete mesas de banquete arranjadas pela sala, seda azul escorregando do topo da mesa, vasos de cristal prestes a rebentar de orquídeas e lírios stargazer, tigelas de vidro cheias de gardênias. É encantador. Pergunto-me onde conseguiram as flores. Warner está posicionado à mesa logo do centro, sentado à cabeceira. Assim que me avista Camila, ele se levanta. A sala inteira fica em volta. Percebo quase imediatamente que há um assento vazio em ambos os lados dele e não pretendo parar de me mover, mas paro. Faço um inventário rápido dos presentes e não consigo encontar nenhuma outra mulher.Camila toca de leve minhas costas com três pontas de dedo e estou extremamente assustada. Apresso-me adiante e Warner sorri para mim. Ele tira a cadeira à sua esquerda e faz um gesto para que me sente. Sento- me. Tento não olhar para Camila quando ela se senta na minha frente. - Você sabe... há roupas em seu armário, minha querida. - Warner senta-se a meu lado; a sala senta-se novamente e retoma um fluxo constante de tagarelice. Ele está voltado quase inteiramente em minha direção, mas, de algum modo, a única presença de que tomo consciência está imediatamente à minha frente. Concentro-me no prato vazio a poucos centímetros dos meus dedos. Desço as mãos ao meu colo. - E você não tem mais de vestir aqueles tênis imundos - continua Warner, furtando-me outro olhar antes de entornar algo em meu corpo. Parece água. Estou com tanta sede que poderia beber uma cachoeira. Odeio seu sorriso. O ódio se assemelha exatamente ao que sinto por todos os outros, até que cada qual sorria. Até que cada qual se volte e minta com seus lábios e dentes entalhados no semblante de algo dócil demais para socar. - Lauren? Aspiro com bastante rapidez. Uma tosse reprimida está inflando minha garganta. Seus olhos verdes vítreos cintilam na minha direção. - Não está faminta? - As palavras mergulham no açúcar. Sua mão trajando luva toca meu pulso e, na afobação, quase o desloco para distanciar-me dele. Poderia comer todas as pessoas nesta sala. - Não, obrigada. Ele lambe o lábio inferior em sorriso. - Não confunda estupidez com bravura, amor. Sei que você não come nada há dias. Algo em minha paciência estoura. - Realmente preferia morrer a comer sua comida e escutá-lo me chamando de amor - digo a ele. Travo meu maxilar. Camila derruba seu garfo. Warner dispensa-lhe um olhar ligeiro e, quando ele olha novamente para mim, seus olhos endureceram. Ele retém meu olhar por alguns infinitamente longos segundos antes de puxar uma arma do bolso de seu casaco. Ele dispara. A sala inteira grita e para. Meu coração está batendo asas contra minha garganta. Viro a cabeça muito, muito lentamente para seguir a direção tomada pela arma de Warner somente para ver que ele deu um tiro que atravessou direto o osso de um tipo de carne. A bandeja de comida está fumegando levemente pela sala, a comida amontoada a menos de trinta centímetros dos convidados. Ele atirou sem nem mesmo olhar. Podia ter matado alguém. Emprego toda a minha energia para manter-me muito, muito tranquila. Warner larga a arma sobre meu prato. Dá-se ao silêncio espaço para dar a volta ao mundo e retornar. - Seja sábia na escolha das palavras, Lauren. Uma palavra minha e sua vida aqui não será tão fácil. Pisco. Camila empurra um prato de comida na minha frente; a força de seu olhar é como uma pá incandescente prensada contra minha pele. Levanto os olhos e ela inclina a cabeça o mais ínfimo milímetro. Seus olhos estão dizendo ―por favor. Pego meu garfo. Warner não perde nada. Ele limpa a garganta um tanto ruidosamente.
Ele ri um riso sem humor enquanto corta a carne no prato. - Tenho de convencer Camila a fazer todo o trabalho por mim? - Perdão? - Parece que ela é a única que você escuta. - Seu tom é alegre, mas sua mandíbula está, sem sombra de dúvida, travada. Ele se volta para Camila. - Estou surpreso por você não ter dito a ela para mudar de roupa, como lhe pedi. Camila endireita-se na cadeira. - Eu disse, senhor. - Gosto das minhas roupas - digo-lhe. Gostaria de dar-lhe um soco no olho - é o que não lhe digo. O sorriso de Warner volta suavemente ao lugar. - Ninguém perguntou do que você gosta, amor. Agora coma. Preciso que você mostre seu melhor quando estiver ao meu lado.
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Estilhaça-me (camren)
FanfictionLauren não toca alguém a exatamente 264 dias. A última vez que ela o fez, que foi por acidente, foi presa por assassinato. Ninguém sabe por que o toque de Lauren é fatal. Enquanto ela não fere ninguém, ninguém realmente se importa. O mundo está ocup...