7 Capítulo

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Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca.
O horror rompe-me as pálpebras.
Meu corpo está ensopado de um suor frio, meu cérebro, nadando em
ondas de dor não esquecidas. Meus olhos fixam-se em círculos negros
que se dissolvem na escuridão. Não faço ideia do quanto dormi. Não faço
ideia se assustei minha companheira de cela com os meus sonhos. Às vezes
grito bem alto.
Camila está me fitando.
Estou respirando com dificuldade e consigo me levantar. Puxo os cobertores para mais perto de meu corpo apenas para me dar conta de
que roubara seu único meio de se aquecer. Nunca me ocorreu que ela
poderia estar congelando tanto quanto eu. Estou tremendo, mas seu
corpo está inabalável na noite, sua silhueta, uma forma rija contra o pano de fundo negro. Não faço ideia do que dizer. Não há nada a dizer.
- Os gritos nunca param neste lugar, não é?
Os gritos são apenas o começo.
- Não - digo quase em silêncio. Um fraco rubor surge-me no rosto e eu estou feliz que esteja escuro demais para que ela repare. Ela
deve ter escutado meus gritos.
Às vezes gostaria que nunca tivesse de dormir. Às vezes penso que, se eu ficar muito, muito quieta, se eu não me mover de modo nenhum, as
coisas podem mudar. Penso que, se me congelar, eu posso congelar a dor.
Às vezes não me movo por horas. Não movo um dedo.
Se o tempo permanece imóvel, nada pode dar errado.
- Você está bem? A voz de Camila está preocupada. Examino seus punhos cerrados mantidos de lado, a tensão em sua mandíbula. Esta pessoa que roubou minha cama e meu cobertor é a mesma que ficou privada deles esta noite. Tão arrogante e descuidada poucas horas atrás; tão cuidadosa e quieta neste momento. Assusta-me que este lugar pudesse tê-lo destruído tão rapidamente. Me pergunto o que ela escutou enquanto eu estava dormindo.
Gostaria de poder salvá-la do horror.
Algo se quebra; um grito atormentado soa a distância. Estes quartos
são entranhados em concreto, paredes mais grossas que pisos e tetos
combinados de modo a impedir que os ruídos escapem para muito longe.
Se posso ouvir a agonia, é porque ela deve ser impossível de dominar.
Todas as noites há sons que deixo de escutar. Todas as noites pergunto-
me se sou a próxima.
- Você não é louca.
Levanto bruscamente os olhos. A cabeça dela está inclinada, seus
olhos concentrados e nítidos apesar da mortalha que nos envolve. Ela
respira fundo.
- Pensei que todo mundo aqui fosse louco - continua ela. -
Pensei que eles tinham me prendido com um psicopata.
Dou uma forte tragada de oxigênio.
- Engraçado. Eu também.

Estilhaça-me (camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora