Minha pele está suando frio, meus dedos tremem de repulsa, minhas pernas são incapazes de suportar o esbanjamento egoísta nestas quatro paredes. Vejo vermelho por toda parte. O sangue dos corpos respingados na janela, espalhados pelos tapetes, pingando dos candelabros. - Lauren... Interrompo-me. Estou de joelhos, meu corpo rachando da dor que engoli em seco por tantas vezes, agitando-se com soluços que não consigo mais segurar, minha dignidade dissolvendo-se em lágrimas, a agonia desta última semana rasgando minha pele em tiras. Não consigo sequer respirar. Não consigo capturar o oxigênio à minha volta e estou com vontade de vomitar na minha camisa e escuto vozes e vejo rostos que não reconheço, fios de palavras evaporados pela confusão, pensamentos tantas vezes embaralhados que não sei sequer se ainda estou consciente. Não sei se, oficialmente, enlouqueci. Estou no ar. Sou um saco de penas em seus braços e ela está abrindo caminho entre os soldados e soldadas que se aglomeram em volta para uma espiadela na comoção e, por um momento, não quero me importar com o fato de que eu não deveria querer tanto isso. Quero esquecer que deveria odiá-la, que ela me traiu, que ela está trabalhando para as mesmas pessoas que estão tentando destruir o pouquíssimo que resta de humanidade e meu rosto está enterrado no suave tecido de sua camisa e minha bochecha está pressionada contra seu peito e ela cheira a força e coragem e o mundo afogando-se em chuva. Não quero que ela solte meu corpo nunca nunca nunca nunca. Desejo tocar sua pele, desejo que não haja barreiras entre nós. A realidade esbofeteia-me na cara. A mortificação bagunça meu cérebro, humilhação desesperada turva meu julgamento; o vermelho pinta meu rosto, sangra pela minha pele. Agarro-me com força à sua camisa. - Você pode me matar - digo a ela. - Você tem armas... - estou livrando-me de seus braços e ela enrijece em volta de minha cintura. Seu rosto não demonstra emoção nenhuma fora uma súbita pressão no maxilar, uma inequívoca tensão nos braços. - Você pode simplesmente me matar - eu imploro. - Lauren. - Sua voz é sólida, com uma ponta de desespero. - Por favor. Estou novamente paralisada. Novamente impotente. Derretendo por dentro, a vida escoando-me do corpo. Estamos de pé em frente a uma porta.
Camila pega um cartão magnético e o desliza em um painel de vidro preto instalado ao lado da maçaneta, e a porta de aço inoxidável abre-se facilmente. Damos um passo para dentro. Estamos sozinhas em uma nova sala. - Por favor, não se solte de mim me destrua - digo a ela. Há uma cama grande no meio do ambiente, um tapete exuberante adornando o chão, um armário nivelado à parede, luminárias reluzindo do teto. A beleza é tão corrompida que não posso suportar sua visão. Camila me acalma sobre o colchão macio e dá um passo para trás. - Você ficará aqui por enquanto, penso eu - é tudo o que ela diz. Fecho os olhos em aperto. Não quero pensar sobre a tortura inevitável que espera por mim. - Por favor - digo-lhe. - Quero ficar sozinha. Um profundo suspiro. - Isso não é exatamente uma opção. - O que você quer dizer? - viro-me. - Tenho de observá-la, Lauren. - Ela diz meu nome como em sussurro. Meu coração meu coração meu coração -Warner quer que você compreenda o que ele está oferecendo a você, mas você ainda é... uma ameaça. Ele fez de você uma atribuição minha. Não posso sair. Não sei se fico entusiasmada ou amedrontada. Fico amedrontada. - Você tem que morar comigo? - Moro no alojamento na extremidade oposta deste edifício. Com os outros soldados. Mas, sim. - Ela limpa a garganta. Ela não está olhando para mim. - Vou me mudar. Há uma dor na boca do estômago que está me roendo os nervos. Quero odiá-la e gritar para sempre, mas estou falhando porque tudo o que vejo é um garota de oito anos que não se lembra de que costumava ser a pessoa mais bondosa que já conheci. Não quero acreditar que isso esteja acontecendo. Fecho os olhos e coloco a cabeça nos joelhos. - Você tem que se vestir - diz ela depois de um momento. Ergo a cabeça. Olho para ela como quem não entende o que ela está dizendo. - Eu estou vestida. Ela limpa a garganta novamente, mas tenta ficar calada sobre o assunto. - Tem um banheiro por ali - aponta ela. Vejo um uma porta conectada a uma sala e estou repentinamente curiosa. Já ouvi histórias sobre pessoas com banheiros em seus quartos. Suponho que eles não estejam exatamente no quarto, mas próximos o bastante. Escorrego da cama e sigo seu dedo. Assim que abro a porta, ela recomeça a falar. - Você pode tomar banho e se trocar ali. O banheiro... é o único lugar onde não há câmeras - adiciona ela, sua voz diminuindo. ―Há câmeras no meu quarto. É claro. - Você pode encontrar roupas ali. - Ela acena com a cabeça para o armário. Ela se mostra subitamente desconfortável.
- E você não pode sair? - pergunto.
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Estilhaça-me (camren)
FanfictionLauren não toca alguém a exatamente 264 dias. A última vez que ela o fez, que foi por acidente, foi presa por assassinato. Ninguém sabe por que o toque de Lauren é fatal. Enquanto ela não fere ninguém, ninguém realmente se importa. O mundo está ocup...