A Entrevista

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-Quase atrasou. Dormiu mais que cama? – falei entrando na sala.

-Eu estava resolvendo um assunto com Ren. – respondeu Kishan.

-Sobre a festa? – perguntei mostrando interesse

-Não. Falando da festa, você vai de que? Pensei que poderíamos ir com fantasia de casal.

Nós nos sentamos nos lugares de sempre e ele se virou para mim.

-Eu nem sei se vou para essa festa. – falei tirando o caderno da mochila.

-Como? Você está brincando, não é? – ele colocou a mão sobre a minha, me forçando a olhar para ele – Diz que está.

Eu sorri e concordei.

-Eu vou se você prometer não chamar toda a atenção para mim.

-Eu não posso prometer isso.

-E o que você tem em mente para a fantasia?

-Surpresa. Não vamos estragar. A entrevista é hoje, está ansiosa?

-Um pouco.

-Você vai se sair bem. – ele apertou a minha mão e a soltou.

No fim da aula, mamãe me levou até o campus da universidade.

Fomos direto para a sala de entrevistas e lá me esperava uma mulher de cabelo inexplicavelmente arrumado, terninho e saia social cinza e sapatos de bico fino preto. Eu me sentei diante dela e controlei a respiração.

Ela pegou um papel, ajustou o óculos no dorso no nariz e o leu.

-Cinema – ela falou sem olhar para mim – O que fez você se interessar por cinema?

-Eu gosto de dirigir, criar, pensar em cenas e usar o máximo da minha criatividade. – eu respondi tentando controlar as minhas mãos tremulas.

-Hum... já dirigiu algo?

-Já ajudei em uma peça de escola.

-já criou algo?

-Já, mas ainda está no papel.

-Qual o tema?

-Romance e tragédia.

-Interessante – ela anotou algo no papel e prosseguiu – Srta. Urie, a faculdade tem um programa de estágios. Você pretende estagiar caso consiga a vaga?

-Sim, pretendo. Seria uma oportunidade e não podemos recusar oportunidade.

Ela continuou a fazer perguntas e anotando em sua folha.

No fim da entrevista, ela apertou a minha mão e me desejou sorte. Saí da sala e dei de cara com Kishan. A mulher veio logo atrás de mim e o chamou. Ele passou por mim e soltou uma piscadela. Pedi para mamãe me levar embora quanto antes.

Chegamos em casa e ela me devolveu as chaves e o celular.

-Pelo seu bom comportamento e sua dedicação. – ela os colocou na minha mão – Não fuja de novo.

Ela sorriu e passou a mão no meu cabelo.

-Posso ir no Brendon? – perguntei sorrindo

-Pode, mas antes, cuide da gata. – ela apontou para cima.

Bilauta estava dormindo em cima do tapete perto da minha cama. Procurei por sujeira mas não encontrei nada. Eu enrolei ela no cobertor de Kishan e a coloquei na mochila com cuidado para não sufoca-la.

Meu telefone tremeu no bolso, era Kishan, recusei a chamada.

Desci a escada e avisei que estava saindo.

No apartamento, eu tirei a gata da mochila e a coloquei no sofá. Brendon a adorou mas Dallon tinha algum receio.

-Bay, você pode ouvir uma demo que gravamos? – perguntou Brendon.

Eu concordei e eles colocaram a música.

O nome era Girls/Girls/Boys. Bem dançante e gruda na cabeça feito chiclete. A voz de Brendon estava em tom bem harmônico com a banda e a sincronia também era muito boa.

-Essa música... – comecei fazendo cara de nojo quando a música terminou – é um lixo. Que letra é essa? Querem revolução? E esse ritmo brega? Parado demais. Eu não quero escuta-la nunca mais.

Eu continuei seria até Brendon dar uma gargalhada e me abraçar.

-Que bom que gostou.

-Eu amei.

-Vamos apresenta-la para uma gravadora essa semana. – começou Dallon

-Já tínhamos mostrado "The Ballad Of Mona Lisa" mas eles querem algo novo. Algo mais dançante. – concluiu Brendon.

-Parabéns, vocês conseguiram. – eu dei tapinhas no ombro de Brendon.

Meu telefone começou a tocar e eu o ignorei.

-Não vai atender? – perguntou Brendon apontando o celular na minha mão.

Eu neguei.

-Atende. Pode ser importante. – Dallon viu que era Kishan.

Eu continuei a ignorar.

-O que ele aprontou? – perguntou Brendon acariciando Bilauta.

-Ele anda aprontando demais ultimamente.

Brendon pegou a gata e a colocou no colo enquanto se inclinava no sofá.

-Quer falar sobre isso? – perguntou

-Ele está te pressionando? – Dallon parecia mais preocupado com o assunto que Brendon.

-Não. Ele tem sido bem compreensivo nesse ponto mas ele... – eu respirei fundo – Esquece... Eu preciso resolver isso sozinha.

-Você que sabe. Mas se quiser desabafar. Contar o que rolou entre vocês nos dois dias isolados... – falou Brendon sorrindo.

-Atende logo esse telefone. - ordenou Dallon massageando os têmporas.

Eu fui atender o telefone na cozinha.

-Alô – falei ríspida.

-Você está brava comigo? – ele perguntou

-Hum-hum.

-Por que? Por eu querer ficar perto de você? – ouvi ele bater à porta do carro.

-Por você desistir do que gosta de fazer para ficar comigo, sendo que não é necessário.

-Eu achei um curso bom lá. – ele falou calmamente

-E qual seria?

-Eu serei o seu ator.

Eu gargalhei.

-Você vai estudar dramaturgia? – perguntei ainda dando risada.

-Não sei qual é a graça. Eu tenho um rosto lindo, e sei fazer drama. – ele riu.

Pensei a respeito e decidi não protestar.

-Está bem... como foi na entrevista?

-Foi... Irrelevante.

-Como assim?

-Sou rico.

-Ah...

Ele riu.

-Está em casa?

-Não... Mamãe me tirou do castigo. Achei que ia demorar mais, sabe... Você falou com ela?

-Eu? Não... Onde você está?

-Brendon.

-Ah. Eu tenho que falar com você.

-Fala.

-É um assunto muito delicado para falar por telefone.

-Está bem. Quer me encontrar no Point Gale?

-Pode ser.

ȦA

O Final Feliz Prometido [2014]Onde histórias criam vida. Descubra agora