Cap. 4 - A pétala vermelha

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A próxima aula era a de premonições. A professora ainda não estava na sala e eu aproveitei para procurar o rosto de Alex entre os alunos. Todos que participaram da aula de força estavam presentes, exceto ele. Notificar isso foi como uma previsão de quão terrível aquela aula seria.

Logo no inicio, a professora Dina discursou sobre a nova aluna que, infelizmente, era eu. Ela mencionou meus pais e explicou algumas de suas habilidades. Nada além do que eu já sabia. O pior, entretanto, estava por vir. Sua dedicação em me apresentar foi tão fervorosa que ela não deixou de mencionar o que eu supostamente era capaz de fazer.

Surpreendi-me em como ela podia saber da minha mente, minha força, minha velocidade e minha premonição, se até Vitor e Lisa deviam conhecer somente minha habilidade da mente, já que eu não havia mencionado nada a eles a respeito das outras.

Dina falou por um bom tempo, entusiasmada pelo novo grande acréscimo àquela instituição. Quanto a mim, tratei de esconder meu rosto, que queimava em brasas, por trás dos meus cabelos. Ouvia alguns risinhos incrédulos e algumas exclamações de surpresa durante aquele discurso, o que me fez considerar seriamente a opção de escapar dali da mesma forma abrupta que Alex tinha feito na aula de força.

Eu pressentia que a aula seria ainda mais embaraçosa, mas foi pior do que tinha imaginado. Quando Dina finalmente terminou o discurso, ela se dirigiu a mim, pedindo-me para ter uma premonição.

- Nada muito distante – pediu, confiante que eu era capaz de dominar minha habilidade.

Eu podia sentir cada par de olhos daquela sala sobre mim, o que, ainda que eu soubesse prever algo de forma voluntária, teria me impedido de fazê-lo.

- Acho que não... – respondi, sorrindo encabulada.

Sorrir era inevitável quando eu me sentia constrangida. Era um sorriso tímido, totalmente incontrolável. Procurava evitar os olhares que me acompanhavam e tentava apagar aquele maldito sorriso. Dina me encarou sem entender, pigarreou e forçou naturalidade ao responder.

- Todos nós temos um dia sem inspiração – brincou, levantando as mãos para o alto, como se não se incomodasse. As sobrancelhas franzidas refletiam sua confusão.

Depois disso, ela começou a aula. A sala, diferente do local em que tivera a aula da força, não parecia um ginásio, e sim uma lojinha exótica de búzios, tarô e itens místicos, daquelas que são encontradas em shoppings.

O espaço era ocupado por diversos puffs coloridos. Entre eles havia uma série de incensos queimando. Não havia janelas e a pouca luz ambiente era proveniente de quatro abajures, um em cada canto da sala.

Eu sabia que seria impossível gostar de todas as aulas, só não esperava que a aversão a alguma delas viesse tão depressa. Mas veio. Foi quase um pesadelo. Apesar de todos os alunos presentes se sentarem nos puffs e "abrirem sua mente", de acordo com a recomendação de Dina, ela se voltou a mim de forma ainda mais irritante. De cinco em cinco minutos ela perguntava, em voz alta e desconcentrando todos os outros, se eu havia visto alguma coisa.

Não que os demais alunos estivessem em melhor situação. Lisa e Vitor já tinham me falado sobre o potencial de cada um, explicando que é possível passar uma vida inteira sem desenvolvê-lo totalmente. Por isso, todos os alunos tinham que comparecer a todas as aulas, sendo ou não fortes, ou rápidos, ou mentalmente capacitados. Assim, não foi surpresa ninguém ter nenhuma premonição na primeira metade da aula.

Na segunda metade, Alice afirmou, depois de fechar os olhos por alguns segundos, que tinha visto frango na mesa do jantar. Eu não tinha dúvidas de que ela estava inventando aquilo para se destacar. Afinal, nós havíamos tido isso para o almoço e não seria surpresa se, entre as inúmeras opções à mesa, houvesse também um pedaço de frango.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora