Cap. 21 - Revelação

500 69 20
                                    

***Pelo título desse capítulo, já dá pra criar altas expectativas, né? rsss Eu o considero um dos capítulos mais emocionantes da história, e eu chorei enquanto escrevia uma parte dele...Espero que gostem! ***


Apertei os olhos, tentando esquecer as feições de Lipônidas, que pareciam fixas na minha mente. Eram imagens vívidas e assustadoras. Achei que, com a sonolência, as lembranças daquele dia me deixariam. Não podia estar mais enganada.

O rosto de Lipônidas me perseguia, forçando-me a lembrar de algo que estava perdido em mim. Não havia sido nosso primeiro encontro, porque não era a primeira vez que eu sentia um medo capaz de paralisar todos os meus ossos.

Consegui dormir, mas parecia estar consciente. Guiava a mim mesma, sem ter certeza de onde estava indo. Duas vozes infantis e risos inocentes atraíam minha atenção. Eu os ouvia no escuro e, antes que pudesse entender o que era aquilo, houve luz e pude ver onde estava.

– Eu ganhei de novo! – disse uma menininha.

– Só porque eu deixei – retrucou um garoto.

O local era muito simples e não havia janelas em nenhum lugar, lembrando um sótão ou porão. Teto, chão e paredes eram de madeira. Um suave aroma de rosas amenizava a claustrofobia que aquele cubículo propiciava.

Sentados sobre um tapete improvisado e separados por um tabuleiro de peças, um menino e uma menina que pareciam ter cinco ou seis anos, divertiam-se jogando damas. Os cabelos da garota eram do mesmo ruivo escuro que os meus, antes de se tornarem pretos. Os olhos também era castanhos e a pele era como a minha, antes das mudanças.

– Quanto tempo você acha que vamos ficar aqui? – a menininha perguntou.

– Não sei – o garoto deu de ombros.

– Mamãe e papai estão preocupados. Eu os ouço algumas vezes...não é porque eu quero. Acontece... – ela se encolheu.

– Acontece comigo também, Vicki – ele sorriu gentilmente.

Vicki. Aquela garotinha era mesmo eu. E havia uma única pessoa que me chamava daquela maneira.

Sua pele pálida e perfeita, os cabelos escuros como carvão, o rosto de anjo e os olhos azuis. Não havia raiva em seu rosto, dor ou tristeza e, talvez por isso, eu não o reconheci imediatamente, mas não havia dúvida de que aquele garoto era Alex.

– Lanche da tarde! – uma voz invadiu o quarto.

As duas crianças se viraram em direção à porta. Era minha mãe e ela sorria. Tão linda e doce como nunca pensei que alguém podia ser. Seus cabelos castanhos caíam sobre os ombros como uma bela cascata. Os olhos verdes lembravam esmeraldas brilhantes. Quis correr ao seu encontro e abraçá-la.

Ela carregava uma cesta pequena com pães e outra mulher vinha logo atrás. A desconhecida segurava duas canecas e sorria para as crianças. Meu primeiro pensamento era que fosse a mãe de Alex, embora nenhuma semelhança física pudesse ser encontrada entre os dois.

Seus cabelos loiros estavam puxados para trás em um rabo de cavalo alto, os olhos eram castanhos e a pele bronzeada. Ela era muito bonita, tanto quanto mamãe e, ainda que Alex não tivesse me contado, algo nela era claramente humano.

As duas trajavam vestidos compridos e possuíam no rosto um sorriso forçado que encobria seus verdadeiros sentimentos. Passei tempo suficiente tendo uma vida de aparências, na companhia de Ana e Greg, e conhecia os falsos sinais de felicidade. Encostadas próximas à porta, elas conversavam por murmúrios.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora