Cap. 8 - O Desafio

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Procurei algum lugar onde pudesse me sentar. O dia que iniciara ligeiramente frio estava mudando e o sol começava a esquentar. Decidi me acomodar na sombra de uma árvore próxima.

A floresta que cercava os campos era excepcional, como quase tudo naquele mundo. Identifiquei macieiras, cajueiros, cerejeiras, inúmeros pinheiros e palmeiras. As folhas eram de um verde escuro e intenso, já as frutas eram grandes, suculentas e de uma cor viva. Alguns alunos as comiam.

Além das espécies conhecidas, havia outras que eu nunca vira. Algumas eram espessas e altas. A madeira maciça, de tonalidade acinzentada, tornava-as semelhantes a uma pedra. Outras eram mais baixas, de cor branca, e o tronco muito fino parecia ser frágil. Os dois tipos tinham folhas de cor peculiar. As primeiras eram douradas e, as segundas, vermelhas.

- Oi, Vic. Pensativa? – perguntou Thiago, sentando-se ao meu lado. Sorri, contente por ter alguém que me fizesse companhia.

- Este é Gabriel – apontou para o garoto que momentos atrás voava com ele.

- Oi - falei.

Os cabelos dele eram de um vermelho gritante, semelhante aos de Ben. O garoto deveria ser um ano mais velho do que eu e esboçava nos lábios o mesmo sorriso confiante do meu amigo Voador. Ele me analisou por alguns instantes. Antes que o silêncio se tornasse embaraçoso, o garoto se pronunciou.

- Ouvi falar muito de você – comentou, sentando-se junto a nós.

- Você não sabia? Sou famosa por aqui – brinquei. É claro que, para mim, a frase tinha conotação diferente, já que, aparentemente, eu era a única que não sabia nada sobre meus pais.

Eu ainda não havia conseguido desvendar esse mistério. O livro que encontrara na biblioteca repousava no mesmo lugar em que eu o tinha deixado. Não tive muito tempo nos últimos dias e sempre que o abria vinha-me a recordação daquela tarde em que Alex me ajudou a não ser vista por Vitor. Pensar em Alex era algo que eu me proibia.

Havia cogitado perguntar sobre meus pais para um dos meus amigos, mas eu me contive. Não estava acostumada a dividir meus sentimentos e o assunto era muito pessoal.

- O Thiago me contou o que você fez com o Hugo na aula da mente – disse, animado.

Contive o impulso de estrangular Thiago. Era impossível evitar que as pessoas não esperassem muito das minhas habilidades. Gabriel me encarava com os olhos brilhantes e extasiados.

- Ele gosta de exagerar – desconversei.

- Você sabe que eu só falo a verdade – Thiago retrucou.

- Você já tem par para o domingo? – perguntou Gabriel e, mesmo sem saber sobre o que se tratava, relaxei com o novo rumo da conversa.

- Eu ia convidá-la – Thiago interferiu antes que eu respondesse. Havia tensão em sua voz.

- Calma aí – intrometi-me entre os dois, confusa. – O que tem no domingo?

- Nós vamos à cidade aos domingos – explicou Gabriel, enquanto Thiago permanecia carrancudo.

- Cidade? – perguntei.

- Sim. A nossa cidade - disse Thiago.

- É onde os professores costumam ir sábado à tarde - falou Gabriel.

– E essa cidade... é de pessoas como nós? Ou de humanos? – eu quis saber, imaginando como ela seria.

- Os dois. Os poucos humanos são parentes dos que moram lá ou dos que estudam aqui – explicou Gabriel.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora