Cap. 25 - As três palavras

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Alex não havia despertado quando voltei. Vê-lo morrer, ainda que em sonho, era uma imagem que me atormentava. Mais do que antes, eu me dava conta de quanto o amava.

Depois de trocar de roupa, enfiei-me debaixo do edredom, observando-o. Aquela era a última vez que eu podia demonstrar o meu amor por ele. Eu sabia o que tinha que fazer. Seria pior do que enfrentar Lipônidas: eu precisava quebrar seu coração.

A última imagem que teria dele seria do seu semblante entristecido, decepcionado e, quem sabe, enfurecido. A última palavra que trocaríamos seria de desprezo e indiferença. E todos os meus sonhos de uma vida com ele eram uma doce ilusão. Nosso tempo foi curto demais...

− Desculpe-me pelo que estou prestes a fazer... − murmurei, beijando-o suavemente nos lábios. Beijo com gosto de mar por causa das lágrimas que lavavam meu rosto.

Levantei-me com cuidado para não acordá-lo e procurei um papel e uma caneta. Sentei-me no chão e pensei no que dizer. Como explicar tudo o que ele significava para mim? Como fazê-lo entender algo que eu me sentia obrigada a fazer? E como me despedir através de palavras escritas em vez de sentir seu doce beijo ou o calor do seu abraço? Disse a mim mesma que não tinha escolha e comecei a escrever.

Meu amor,

Por favor, não me odeie. Tudo o que fiz e todas as mentiras que contei foram por amor a você. Eu não conseguiria viver sem você...

Tive uma premonição hoje. Por favor, não me subestime, eu sei o que é uma premonição. E acredito nelas porque todas que tive se concretizaram...como no desafio de Ben...Além disso, não posso correr o risco de estar errada...

Vi você morrendo....e é impossível não fazer nada para evitar isso...mesmo que custe a minha vida...

Eu amo você. Eu amo você. E eu amo você...de todo o meu coração...com tudo o que sou...

Queria poder ter dito isso há muito tempo...em voz alta...mas, por favor, não duvide, porque meu amor por você é a maior certeza que já tive na vida...

Não se culpe pelo que estou fazendo. É uma escolha minha e nada me faria mudar de idéia. Eu preciso tentar....

Poderia viver uma vida inteira com outra pessoa...morrer com 100 anos...mas não teria um milésimo da felicidade que tive nos poucos meses que ficamos juntos...e eu não trocaria nosso amor por nada...

Mais uma vez: amo você. Hoje e sempre.

Para sempre sua...Vicky.

Ao final da carta, minhas mãos tremiam e soluçava compulsivamente. Eu tinha que expressar a dor que me consumia por dentro porque, naquela noite, eu deveria estar fria como gelo e insensível a qualquer emoção. Alex moveu-se na cama, fazendo-me pular e correr em direção ao banheiro.

Em um banho quente, derramei o restante da minha tristeza, transformei meu coração em pedra e minha tristeza em indiferença. Eu teria que ser forte para o que me esperava daqui a algumas horas e tinha certeza de que seria pior do que previa.

Durante todo o dia, não disse uma só palavra. Fomos para Zápia no avião de Heitor e todos pareciam agir normalmente. Alex percebeu meu distanciamento maior do que usual, mas não fez qualquer comentário. Talvez pensasse que tinha relação com nossa conversa na noite anterior.

Levava comigo sua carta de despedida e esse fardo era pesado. As risadas e os rostos dos meus amigos e dos professores me faziam lamentar a falta de tempo para escrever uma mensagem de despedida a cada um deles. Contei as horas até o amanhecer e esperei que o baile chegasse, desejando que esse pesadelo tivesse um fim rápido.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora