Cap. 23 - Controlando mentes

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Todo dia, acordava sem saber se seria o último. Lipônidas tinha destruído minha família e seu objetivo era roubar tudo o que mais me importava. O clima no castelo estava tenso. Escutava, com minha habilidade, as conversas entre os professores. O tio de Alex não fora encontrado, e eu não acreditava que seria.

Eu me sentia ansiosa e deprimida, mas isso me motivou a não esperar de braços cruzados. Eu tinha que estar preparada para nosso futuro encontro, e foi assim que decidi aprimorar minhas habilidades. Nunca pensei que pudesse me esforçar tanto.

Quando não estava nas aulas, procurava livros que falassem sobre as minhas habilidades, conversava com algum professor em busca de técnicas com objetivo de me aprimorar ou simplesmente praticava o que havia aprendido. Ao final da noite, o cansaço me impedia de participar dos encontros na sala da lareira ou de manter meus olhos abertos ao lado de Alex.

Nos primeiros dias, minha nova rotina passou despercebida. Todos achavam que a causa do meu isolamento era a descoberta sobre a morte de meus pais. Não sei exatamente quando eles começaram a desconfiar. Os olhares suspeitos passaram a acompanhar meus passos e os murmúrios cessavam quando me aproximava.

Eu não queria que Ana lesse meus pensamentos e isso me fez permanecer distante de todos. Quando me dei conta, eu estava fora do grupo. Fora de qualquer grupo. Eles não estavam nada felizes com isso. Foi uma escolha minha.

− O que está acontecendo? − Penny perguntou, aborrecida. − Você sabe que pode confiar em mim.

− Não é nada... − menti. Eu não conseguia olhá-la nos olhos.

− Fale comigo... − implorou, angustiada. − Sou sua amiga ainda, não?

− É claro que sim.

− Então me deixe ajudar − insistiu.

− Eu preciso ir − saí em passos rápidos.

Os outros também me abordaram, magoados com meu distanciamento. Eu não dei explicações. Como alguém poderia entender o que eu estava vivendo? A dor...o medo...a espera...Tentava ignorar tudo isso e direcionar minha atenção às aulas, à melhora das minhas habilidades e às descobertas que fazia através dos livros. Não queria magoar meus amigos, mas estava arrasada demais para fazer algo a respeito.

− Eu quero tentar algo novo − disse a Hugo, o jovem professor da aula da mente, ao interceptá-lo em um dos corredores.

− Suas lições com o escudo não estão acabadas − retrucou.

− Meu escudo está bom! − falei, irritada.

− E o movimento dos objetos? − perguntou, inflexível.

− Isso é ainda mais fácil.

Mover objetos era como esticar um braço invisível. Foi Alex que me ajudou a perceber isso, servindo ele próprio de alvo, enquanto Alice atirava pratos em seu rosto. Eu ainda não havia testado a técnica com pessoas, mas minha prioridade era outra.

− E o que a senhorita acredita que seria mais...desafiador? − perguntou, mostrando-se irritado e curioso.

− Quero aprender como controlar mentes − revelei.

− Entendo... − comentou, meditativo. − Uma arte avançada, devo dizer − ponderou.

− E bem útil − completei sem me alterar.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora