Cap. 22 - A verdade

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Ele parecia mais pálido do que o normal e os olhos estavam escuros. Desci da cama e caminhei em direção a ele. Os professores se moveram, incertos sobre o que eu faria e talvez inseguros com relação ao meu estado mental, mas não tentaram me impedir.

Nada poderia me deter. Nem sua beleza angelical, nem os momentos maravilhosos que passamos juntos, nem mesmo meus sentimentos por ele, porque, naquele momento, eu estava decepcionada e ferida. E o esbofeteei sem piedade.

Seu rosto virou e minha mão ardeu com o impacto. Virou o rosto de volta e me surpreendeu com o olhar submisso. Seu semblante passivo revelava que ele não reagiria a essa ou a qualquer outra agressão. Ele reconhecia que tinha errado comigo e que merecia o meu desprezo.

− Eu tinha o direito de saber − falei, fria.

Não acreditava que ele fosse se explicar e, ainda que pretendesse, eu não estava disposta a ouvir. Alex teve meses para me contar sobre nossos pais e não o fez. Apavorava-me a idéia de que, se não fosse pelo sonho, e se dependesse unicamente dele, eu nunca saberia a verdade. Caminhei em direção à saída, decidida a partir.

− Estou indo embora daqui! − avisei-os, batendo a porta atrás de mim.

Vários alunos espiavam de dentro dos seus quartos. Não parei quando ouvi Penny e de Thiago me chamando. Continuei descendo as escadas em passos rápidos. A temperatura do meu corpo voltou ao normal, mas meu rosto estava morno por causa das lágrimas que escorriam uma após outra.

− Victoria, espere! − pediu Lisa. Um braço rígido me parou na metade das escadas. Virei-me e encontrei Vitor, que me segurava. Lisa estava com ele.

− Eu sei que ninguém fica aqui contra a vontade − falei, recordando uma das conversas com Alex. − E a última coisa que eu quero é ficar aqui! − puxei meu braço e continuei em frente.

− Por favor, Vic! − Lisa implorou, agoniada, apressando seus passos para conseguir me alcançar.

− O que você vai fazer? Onde vai morar? − perguntou Vitor, certo de que eu não tinha resposta. − Seus pais não a querem de volta! − lembrou, insensível. Ele era prático e procurava me persuadir a ficar.

− Primeiro, eles não são meus pais − parei e me virei para enfrentar Vitor. − Nós dois sabemos muito bem quem são meus verdadeiros pais − fechei os olhos e o sorriso doce de mamãe me veio à memória. Uma lágrima salgada molhou meus lábios. − Segundo, eu não me importo. Não sei para onde vou, o que vou fazer ou com quem vou ficar − falei. − Eu só não quero mais ficar aqui − olhei ao redor. A entrada do castelo estava a poucos metros e o céu estava alaranjado, pois o sol começava a nascer. − Não quero estar com pessoas que só me contam mentiras.

Eu me sentia vazia. Todos eles sabiam. Lisa, os professores, Alex...e todos tinham mentido para mim. Pessoas com quem eu me importava, amava...privaram-me de uma informação que era minha por direito. Eu não podia esquecer o que meus pais tinham feito por mim. Era o mínimo que devia a eles.

Dei-lhes novamente as costas e fui para fora do castelo. O clima estava frio e úmido e eu ainda usava pijama. Não me incomodei. Nada me impediria de partir.

− Fique − pediu Vitor. Eles ainda me acompanhavam.

− Não.

− Fique, por favor – implorou Lisa.

− Para vocês mentirem de novo? − perguntei, agressiva. − Não, eu não preciso disso!

− Contaremos tudo o que você quiser saber! − ela prometeu, fazendo-me parar. Eu estava em um dos campos e não havia para onde ir sem o avião de Heitor.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora