Cap. 12 - O quebra-cabeça

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Descobrir o segredo de Alex me deu insônia. Pouco dormi naquela noite e o resultado foram manchas arroxeadas embaixo dos meus olhos no dia seguinte. Disfarcei-as com um pouco de base e corri para o grande salão. Alex não estava lá.

Não tive vontade de conversar com ninguém durante o café da manhã, mas Thiago insistia em me fazer falar. Não havia percebido que era sexta feira até que ele me lembrou da aula de combate. Estava tão concentrada em encontrar Alex que esqueci completamente que o dia da aula que eu tanta temia havia chegado.

- Não se preocupe, você vai se sair bem – encorajou-me com um sorriso nos lábios.

Meus olhos fitavam, em curtos intervalos de tempo, o espaço vazio ao final da mesa, onde o meio-vampiro costumava se sentar. Meu estômago revirava de ansiedade e os alimentos que colocava em minha boca não tinham sabor.

Penny, Verônica e Ana sentavam-se próximas e percebiam minha inquietação. Quando Alex apareceu, eu o segui com o olhar. Poderia contemplá-lo eternamente e, ainda assim, seria pouco.

Ele sempre parecia triste e irritado. Era compreensível. E eu sentia que cabia a mim a tarefa de mudar isso. A sensação era a de que ele estava se afogando, as mãos esticadas, e eu era o barco seguro. Eu o ajudaria, disse a mim mesma. Devia isso a ele. Devia isso a mim.

Quando os alunos começaram a se movimentar, saindo do salão a caminho de suas salas, desviei-me de alguns deles, seguindo em direção ao local onde Alex costumava se sentar. Tudo que encontrei foi uma cadeira de madeira vazia. Ele já havia saído.

Corri para a aula da mente, entrei apressada e quase tropecei em minhas próprias pernas. O professor já falava sobre o que faríamos e pigarreou, censurando-me com o olhar por chegar atrasada.

Encontrei quem eu procurava escondido atrás de alguns alunos. Alex usava um moletom cinza e, embora o zíper estivesse aberto, o capuz encobria parte do rosto. Ele percebeu que eu o encarava fixamente e pareceu confuso e incomodado.

Eu teria ido até ele naquele momento, mas Hugo atribuiu tarefas a mim. Dessa vez, sua aula se tornaria ainda mais intolerável, pois era Alice quem estaria encarregada de me ajudar. Ela me ensinaria a mover objetos.

Obviamente, ela não estava disposta a tornar minha vida fácil. Apesar de ainda ter alguns arranhões obtidos no desfecho do Desafio, sua beleza havia retornado, bem como sua disposição em me atormentar.

Não me aborreceu que todos os pratos que ela jogava se espatifassem sem que eu pudesse evitar, nem seus risinhos tolos quando Hugo exigia que eu me dedicasse ao que estava fazendo. Eu não conseguia me concentrar e esperei, sem me exaltar, que a aula terminasse.

Com os alunos saindo da sala, tentei alcançar Alex, mas o professor aproveitou os últimos minutos antes da minha aula seguinte para me criticar, dizendo que eu não me esforçava para desenvolver a minha mente.

- Está bem! Já chega - reclamei. – Acabou a aula e você já pode me deixar em paz! – falei, irritada. Hugo, chocado com minha atitude, saiu, escandalizado.

Nunca fiquei tão contente por estar na aula de força. Lupo não se irritava quando conversávamos ou quando não prestávamos atenção ao que ele ensinava. Ainda assim, não foi possível falar com Alex, pois, por mais que eu, disfarçadamente, me aproximasse dele, ele se esquivava, afastando-se de mim. E ficamos nesse jogo de gato e rato por quase toda a aula. Alex havia percebido minha intenção de conversar e sua atitude tentava me fazer desistir.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora