Cap. 13 - Zápia

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Penny alisava alguns fios dos meus cabelos e eu continuava absorta, olhando vagamente para o teto do quarto com a cabeça apoiada em seu colo. Ela falava com Verônica e Ana sobre o ocorrido do dia anterior. Sentia-me deprimida e teria permanecido sozinha naquele sábado à noite, mas elas estavam dispostas a me animar. Eu não queria ouvir de minhas próprias amigas que o melhor para mim seria justamente aquilo que era incapaz de fazer.

- Você tem que esquecê-lo – disse Penny.

- Todas nós vimos como ele a tratou no campo – Verônica apoiou a resolução da amiga.

- É óbvio que ele é muito bonito – Penny continuou.

- Muito, muito, incomparavelmente lindo – salientou Verônica. – E salvou sua vida no Desafio – lembrou.

- É – Penny lançou um discreto olhar de reprovação para mostrar que Verônica não estava ajudando. – Mas a verdade é que ele... – ela fez uma careta – estava enforcando você!

- Foi horrível! – Verônica exclamou. – Pensei que fosse mesmo matá-la!

Eu conseguia imaginar o que elas viram. A cena foi repulsiva. A fúria nos olhos de Alex enquanto pressionava os dedos contra minha garganta e o seu total descontrole após levantar-se do campo tinham mostrado o quão violento ele podia ser.

- Não foi tão ruim assim – murmurei. – Ele só queria mostrar o perigo que era... estar com ele – tentei explicar, sem esperanças de que a opinião das minhas amigas mudasse.

- E mostrou muito bem! – exaltou-se Penny. – Eu realmente acho que ele pode matar você... – seus olhos aflitos imploravam para que eu fosse racional.

Assenti para encerrar o assunto. Doía ouvir aquilo e saber que, no fundo, ela estava certa. Não contei a elas sobre o que havia descoberto em minha última conversa com Alex, pois não encontrei coragem para lhes dizer que não era necessário haver sangue próximo para que ele se descontrolasse. Bastava tocar outra pessoa ou zangar-se para que seu instinto o incentivasse a matar.

Foi então que lembrei de Ana. Ela havia ficado calada a maior parte da noite, o que me fez ignorar sua capacidade de ler pensamentos. Percebi seu semblante surpreso e confirmei que ela sabia toda a verdade sobre Alex. Lancei um olhar de súplica para que não comentasse nada e ela assentiu.

Fiquei mais uma vez agradecida quando ela sutilmente mudou o rumo da conversa. Um ocorrido inesperado naquele dia passou a ser o novo tópico. Vitor havia anunciado no grande salão, durante o almoço, que as visitas à cidade retornariam.

Nosso confinamento no castelo estava suspenso devido ao bom comportamento nas últimas semanas. Eu não conhecia Zápia, mas fui contagiada pela animação dos outros alunos.

- O que fazemos lá? – perguntei. – Sei que tem uma festa... – recordei o que Thiago tinha contado e que havia concordado em ser seu par.

- Oh! É ótimo! – Verônica animou-se, batendo palmas. – Alguns dos alunos que têm parentes por lá os visitam. E os que não têm aproveitam para passear, fazer compras, conhecer novas pessoas e ir ao baile!

– É mais do que isso – disse Ana. – Deve ser difícil para você entender, porque viveu toda sua vida no mundo humano, mas a maioria dos alunos está aqui há muito tempo e a cidade é o único lugar que vamos além desse castelo. Então, você imagina a importância disso.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora