Cap. 19 - Nosso paraíso

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O dia estava perfeito. Um domingo na cidade com Alex. Apenas nós dois. O que mais eu poderia querer? O sol quente era parcialmente contido pela densa floresta que nos encobria. O som da água caindo era relaxante. Gotículas de água ficavam presas no ar e a umidade nos envolvia em uma deliciosa sensação de frescor.

Fazia três meses que nosso relacionamento havia começado, desde a noite do baile ao qual ele inesperadamente havia comparecido, e era a primeira vez que ficávamos sozinhos. A primeira vez que os professores sabiam que estaríamos sozinhos. Até então, eles não sonhavam que, todas as noites, enquanto dormiam, Alex me visitava em meu quarto.

Não que isso pudesse preocupá-los. Alex e eu não conseguíamos ter mais do que poucos minutos de contato. Então, na maior parte do tempo, nós conversávamos. Não me cansava de descobrir coisas novas sobre ele. Queria saber tudo: seu alimento preferido, sua melhor qualidade e seu pior defeito...

– Sou paciente – disse. – Poderia esperar por você eternamente – sorriu, encantador.

– Defeito?

– Vários.

– Por exemplo? – nenhum me vinha à cabeça. Talvez teimoso, pelo tempo que resistiu antes de se aproximar de mim, mas ele escolheu outro.

– Ser violento e impulsivo está na minha natureza – ele disse. Não gostava quando ele depreciava seu lado vampiro. Eu o amava por inteiro. – Mas acredito que meu pior defeito é ser covarde – considerou, sério.

– Covarde?! – exaltei-me, perplexa. – Você é a pessoa mais corajosa que conheço! – falei, inconformada, lembrando de quando ele me salvou do fogo no Desafio de Ben.

– Existe mais de uma definição de coragem – filosofou, misterioso.

Então, lembrei quando eu o havia chamado de covarde, em minha primeira visita à cidade, pouco antes do baile. Nós havíamos chegado ao castelo, após irmos à Doce Licor e, antes de me arrumar para o baile, acusei-o de ser um covarde por ter medo de assumir riscos.

O que havia me motivado naquele momento foi a vontade de estar com ele. Sua sensatez era um obstáculo e talvez isso, não a covardia, fizesse parte da sua personalidade. De qualquer modo, eu não acreditava que Alex estivesse se referindo àquilo, bem como sabia que ele não explicaria o verdadeiro motivo de se julgar covarde.

Ele não me contava tudo e eu estava certa disso. Algumas vezes, eu continuava a perguntar, tentando derrubar a barreira invisível que sentia existir entre nós. A barreira entre o que ele me permitia saber e o que ele escondia.

Não havia esquecido o que Ana tinha falado logo na primeira semana que Alex e eu ficamos juntos. Ela também sabia que ele tinha um segredo e Alex o reprimia tanto que nem ela conseguia descobrir.

– Acho que ele está desconfiado, pois sempre que estou por perto ele começa a cantarolar uma música em pensamento – explicou. – É irritante! – desabafou, decepcionada.

– Continue tentando – pedi, igualmente frustrada.

– Pode deixar – assentiu.

Infelizmente, o tempo passou e nós continuamos sem saber o que ele insistia em guardar para si.

Deitada em uma das muitas pedras do lugar, eu o olhava como pela primeira vez. Sua beleza me ofuscava muito mais do que a luz do sol. Eu esperava pelo dia em que seu lindo rosto me cegaria. O seu semblante estava sereno e feliz. Quão mudado desde que o tinha visto na visão de Lisa...

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora