Cap. 7 - A parte mais forte

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A semana passou em um piscar de olhos. Embora as aulas sempre fossem as mesmas, não era possível estabelecer uma rotina naquele lugar. Todo dia era único e todos os dias eu aprendia coisas novas, ou sobre as aulas, ou sobre as pessoas. Eu começava a me apegar ao novo mundo, embora tentasse evitar que isso ocorresse.

Parei de estranhar minha nova vida e não me assustava mais quando alguém saía ileso da aula da força, após situações que normalmente resultariam em ferimentos fatais. E a aula da mente não me incomodou mais, uma vez que eu somente tinha que praticar o escudo. É claro que, às vezes, distraída com Alex percorrendo a sala como um ciclone, esquecia o que tinha de fazer.

Nessas horas, Hugo me lembrava das minhas obrigações, ameaçando me atacar se eu não me concentrasse no que estava fazendo. De qualquer forma, praticar meu escudo estava gerando bons resultados, pois eu me sentia cada vez menos cansada ao final do dia.

Penny também evoluía de forma surpreendente. Hugo a ensinou a criar o fogo nas mãos e distribuí-lo pelo corpo. A princípio, todos mantiveram distância. Penny, desligada, não nos surpreendia quando quase causava um incêndio. Depois de descobrir esse domínio que podia exercer sobre suas habilidades, ela sorria com mais freqüência, satisfeita consigo mesma. Era bom vê-la mais confiante.

Talvez por isso, ou por Ben, ou pelos dois motivos, ela tenha decidido mudar o vestuário, deixando as roupas largas de lado e tornando-se mais vaidosa na escolha das peças e no cuidado com o cabelo. Ben aprovou e a elogiava diariamente.

As aulas de sentidos eram as mais descontraídas. Lisa conseguia tornar as tarefas divertidas e os cenários da sala sempre mudavam. Um dia, estávamos em um deserto sob o calor fatigante do sol. No outro, estávamos submersos em um oceano.

O destino conspirava a meu favor, pois, na sexta-feira, minutos antes da aula de combate, aquela que eu mais temia desde o momento em que vi o papel da programação, Lisa nos informou que Vitor teve um compromisso e não poderia dar aula. Não há como descrever minha alegria ao saber que teria mais uma semana para me preparar psicologicamente.

Até a aula de premonições tornou-se tolerável. Não que Dina tivesse desistido de me atormentar, mas eu já não me irritava tanto em responder-lhe que não via nada. Nada, nada e nada.

Cheguei a cogitar uma pequena mentira para afastá-la por algum tempo, fingindo prever alguma coisa tola, como Alice fizera na primeira aula, na qual ela tinha dito que teríamos frango para o jantar. Entretanto, havia a possibilidade de que inventasse algo que não ocorresse e, por outro lado, se minha suposta visão se concretizasse, eu corria o risco de que a professora me pressionasse ainda mais.

O que mais me incomodou no decorrer daquela semana foi que eu não tive sucesso em falar com Lisa sobre meus pais. Depois da conversa em meu quarto, nós tivemos poucos momentos a sós e ela sempre mudava de assunto ou insistia que conversaríamos sobre isso mais para frente, quando eu estivesse pronta.

- Pronta? Como assim? - eu perguntava, sem entender.

- Confie em mim - pedia.

Quanto a Alex, percebi um padrão em suas ausências. Ele nunca assistia às aulas de premonições e sentidos, enquanto nas demais ele comparecia normalmente. Depois da nossa conversa, procurei ao máximo evitar encará-lo, até porque meu orgulho ferido insistia em desprezá-lo.

Entretanto, na prática, não conseguia ficar uma aula sequer sem contemplar sua perfeição. Não importava o que estivesse vestindo, ele sempre era a pessoa mais linda do lugar e, possivelmente, do mundo. Eu nunca o via próximo a ninguém, exceto ora ou outra, quando falava com Vitor ou Lisa.

Golfinhos e Tubarões - O outro mundo (Tais Cortez)Onde histórias criam vida. Descubra agora