Capítulo 4: A lenda da menina de olhos azuis.

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Rio de Janeiro.

Década de 90.

Quando criança todos os meses eram iguais para a menina dos olhos azuis. No segundo sábado do mês a campainha sempre tocava pela manhã e ela descia as escadas correndo para atender a porta. Ao abri-la, lá estava ele com aqueles óculos grandes e escuros esperando por ela para sair e se divertir.

Eram os dias mais esperados e divertidos para aquela criança que mal via o pai viajante. As coisas nunca mudaram mesmo depois que cresceu. O pai sempre continuou distante. Na adolescência ela gostava de sair durante as tardes de domingo. E aquela era uma tarde de domingo que não se poderia perder, em plena primavera dona de uma nostalgia que muitos apreciam, com brisas frias, longos pores do Sol, apesar de serem tristes de certa forma.

A menina dos olhos azuis cochilava em um sofá de frente a uma janela enorme com um sol frio iluminando seu rosto. Ela abre os olhos, senta-se, olha em seu relógio que marca 16h16min do dia 14 de setembro do ano de 1997, levanta-se e vai direto para o banho. Após se arrumar ela sai em sua bicicleta pelas ruas pouco movimentadas com aquele vento gelado batendo em seu rosto. Em seguida ela para em uma aromatizada lanchonete com cheiro e cara de tarde de domingo, pede seu café e lá fica vendo o tempo passar. Pouco depois, um bilhete chega por meio do garçom em suas mãos. Ela o abre e lê o recado.

"Telefone? Endereço? Caixa postal? CEP? Uma bebida e uma conversa que se joga fora por puro prazer? Alguma coisa que eu possa fazer pra te conhecer?"

Ela sorriu e olhou ao redor. Um Jovem sorriu e acenou de outra mesa que ocupava. Era um rapaz magro de um metro e oitenta de altura, branco, cabelos ondulados de tamanho médio e bem amarelados.

Com um ar risonho no rosto ela respondeu.

"E se você for um psicopata? Além de café forte, eu adoro um bom sorvete e homens que me fazem rir."

Logo se juntaram e conversaram por horas, cafés e sorvetes a fio.

Um bom tempo se passou e eles sempre se reencontravam, fazendo tardes fora do comum, maravilhosas.

O que ela mais gostava nele era o jeito que ele levava a vida. Aquele jeito de fazer as coisas acontecerem lentamente, como uma ligação após alguns dias de espera sem se falarem e as coisas consideradas até mesmo chatas que fazem um relacionamento seguir à diante.

Quanto a ele o que mais gostava nela era a pureza e a delicadeza feminina, aquele sorriso alegre entre uma conversa e outra e o olhar paralisante que possuía. A companhia perfeita que ela sempre se tornava nas tardes.

Então continuou sempre assim, um atraído pelo outro, as conversas melhorando sempre mais e gerando assim um romance ideal, brotando um sentimento incomum.

Numa definição específica eram pessoas com conceitos diferentes, não que fossem inimigas, pelo contrário, conceitos diferentes no sentido de gostos distintos que atraía um para o outro. Pessoas que necessitavam uma da outra.

No dia 16 de setembro de 1999 a menina dos olhos azuis de 17 anos casou-se escondida dos pais com o "diabo loiro" que conhecera dois anos e dois dias antes na aromatizada lanchonete com cheiro e cara de tarde de domingo.

Tempo é dinheiro - Uma herança de John DillingerOnde histórias criam vida. Descubra agora