Capítulo 20: A cidade maravilhosa, parte II.

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Rio de Janeiro.

25 e 26 de setembro de 2002.

Os pés quase descalços queimavam no asfalto. As modestas sapatilhas de número 38 não eram suficientes para protegê-los da temperatura altíssima que esquentava aquela pista. Os carros passavam, iam e viam enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto da bela menina de olhos azuis. Em sua mão direita, o jornal do dia 26 de setembro de 2002, uma quinta-feira, dia posterior ao trágico acidente, era amassado com força. A ficha ainda não havia caído, sua cabeça não aceitava ter descoberto a verdade naquelas circunstâncias. Tudo parecia um sonho com uma única regra. O seu nascimento fora fruto de um caso de traição, e dos grandes...

– Filha, você vai aparecer para o nosso compromisso hoje? – Perguntou à senhora dos olhos azuis.

– Não, mãe! Prometo que amanhã desconto a minha falta de hoje. Tenho algumas coisas para resolver da mudança.

– Tudo bem! Avisarei ao seu pai. Sabe que ele vai ficar muito triste, não é?

– Ah! Diz para ele que é apenas um dia. Amanhã estarei na porta do hotel meio dia em ponto.

– Certo. Então estou indo, o táxi chegou. Até mais, fica bem. – Falou a senhora enquanto dirigia-se para a rua onde o táxi a esperava.

No Hotel Linda do Rosário, localizado na Rua do Rosário, próximo ao Centro Cultural Banco do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, o homem que a senhora dos olhos azuis estava indo encontrar discutia negócios de sua loja em seu telefone particular.

– Mas meu filho, claro que essa minha viagem é importante. Eu sempre tratei meus negócios assim. Não estou te entendendo.

O rapaz do outro lado da linha respondia em um tom um pouco alto, deixando o senhor um tanto nervoso.

– Chega Roberto! – Aumentou o tom. – Eu sei o que é melhor para minha vida. Trabalhei duro a minha vida inteira e mereço o mínimo de respeito. Quando eu chegar nós conversamos. Estou saindo para encontrar alguns fornecedores importantes. Diz para sua mãe que no domingo chegarei. Cuide bem da loja enquanto ficarei fora. Até logo. – e desligou o aparelho sem ao menos esperar resposta do outro lado.

Pouco tempo depois o interfone do quarto tocou.

– A senhora acabou de chegar, gostaria de alguma coisa do nosso serviço de quarto?

– Não, obrigado! Quando precisar ligarei... Tenha um bom dia você também.

Após mais alguns minutos, o barulho da chave ao entrar na fechadura fez com que o coração daquele velho homem voltasse a palpitar constantemente.

– Cheguei! – Foi o que falou ela ao entrar no mesmo quarto de sempre. O Nº. 102.

– Que saudade! Falou o senhor enquanto abraçava a senhora. – Ela não veio com você?

– Hoje não! Ficou de vir amanhã!

– Tudo bem! Vamos aproveitar o dia então para ficarmos juntos.

Enquanto isso, a menina dos olhos azuis analisava um apartamento no bairro do Leblon, próximo a Praça Milton Campos, no Edifício Maestro Carlos Gomes. Algumas quadras dali localizava-se o Clube de Regatas do Flamengo, time brasileiro de expressão no cenário do futebol mundial.

Não havia dúvidas. Para ela não importava o que o vendedor estava falando ao seu lado como se estivesse no modo silencioso. Aquele apartamento seria seu.

Tempo é dinheiro - Uma herança de John DillingerOnde histórias criam vida. Descubra agora