Capítulo 12: Raul, diabo loiro.

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São Paulo e Rio de Janeiro. 

Entre 1980 e 1999.

Em 1980 no dia 14 de julho no hospital São Paulo que fica na Vila Mariana, a secretária Ana Carolina dos Santos de dezenove anos dava entrada de uma paciente que chegara às pressas para ter o filho. Poucas horas depois a criança descansava no berçário do hospital sem nem imaginar que a mulher que a pôs no mundo estava correndo risco de vida naquele momento. Exatamente as 03h05min da madrugada do dia 15 de julho, o menino recém nascido acabava de perder a mãe antes mesmo de conhecê-la. Ela não resistira às complicações do parto e perdera a vida.

Dois anos depois o menino que nasceu em São Paulo mudava-se para a cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro.

No seu quarto aniversário ele teve a primeira decepção. O pai não comparecera a sua festa, gerando assim uma das personalidades mais fortes do país no interior negro da criança.

Anos mais tarde, no décimo quinto aniversário em 1995 as coisas começaram a piorar. O relacionamento entre pai e filho que já não funcionava, tornava-se finalmente o motivo principal da rebeldia do menino. Seu pai chegara em casa bêbado o bastante ao ponto de espanca-lo.

– O Seu nascimento foi uma dupla tragédia. A tragédia menor foi sua mãe ter morrido enquanto te colocava no mundo. A tragédia maior foi que descobri não ser seu pai.

Sem forças para responder enquanto era espancado, o menino só sentia as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, pois o resto do corpo estava dormente de tanto apanhar.

Dias depois o mesmo homem agonizava na poltrona da sala sofrendo de um ataque cardíaco. O enteado que assistia aquela cena da cozinha não sentiu o menor remorso quando viu a respiração ofegante do Homem se encerrar. Daquele dia em diante a linda criança que nascera no hospital São Paulo, na Vila Mariana não existia mais. Ela se transformara em um homem perigoso e calculista.

Em 1997 o jovem rapaz magro de um metro e oitenta de altura, branco, cabelos ondulados de tamanho médio e bem amarelados se dirigiu até uma aromatizada lanchonete com cheiro e cara de tarde de domingo acompanhado de um amigo. Após entrar na lanchonete sentou-se na primeira mesa que viu e pediu uma cerveja no mesmo instante que observou à hora no relógio de parede do estabelecimento. Eram exatamente 16he16min. Quinze minutos depois outros dois rapazes chegaram à mesma lanchonete e sentaram-se à mesa.

O que chegou junto a ele foi um rapaz baixinho com o cabelo raspado. Esse mesmo rapaz ganharia uma tatuagem no pulso esquerdo no ano seguinte. Usava uma camisa folgada de um time de futebol americano e uma calça folgada.

O outro a aparecer era um homem magro de cabelo nos ombros. Seus olhos eram verdes como uma esmeralda lapidada. Segurava uma carteira de cigarros na mão esquerda e fumava com a direita.

O último foi um homem alto e forte. Era moreno e usava um boné com as iniciais "NY", sigla para abreviar um time de beisebol Americano conhecido como New York Yankees. Seus braços talvez dessem dois dos outros que chegaram antes dele.

Os nomes em ordem de chegada eram: Raul, Gabriel, Samuel e Ivo. Com exceção de duas outras peças que fariam parte no futuro, eles formavam ali uma das quadrilhas mais destemidas de todos os tempos no Brasil.

Depois de algum tempo de conversa, três dos quatro que faziam parte da reunião foram embora, deixando apenas o rapaz de cabelos amarelos na lanchonete. Sentada próxima a ele, estava uma linda menina de olhos azuis tomando um café. Sem perder tempo o rapaz pediu um papel ao garçom que passava e escreveu nele:

"Telefone? Endereço? Caixa postal? CEP? Uma bebida e uma conversa que se joga fora por puro prazer? Alguma coisa que eu possa fazer pra te conhecer?"

Ela sorriu e olhou ao redor. Ele sorriu de volta e acenou da mesa onde ocupava. Era uma bela jovem, muito atraente, possuía um cabelo esplendoroso e um olhar fulminante.

Com um ar risonho no rosto ela respondeu.

"E se você for um psicopata? Além de café forte, eu adoro um bom sorvete e homens que me fazem rir."

Logo se juntaram e conversaram por horas, cafés e sorvetes a fio.

Um bom tempo se passou e eles sempre se reencontravam, fazendo tardes fora do comum, maravilhosas.

O que ela mais gostava nele era o jeito que ele levava a vida. Aquele jeito de fazer as coisas acontecerem lentamente, como uma ligação após alguns dias de espera sem se falarem e as coisas consideradas até mesmo chatas que fazem um relacionamento seguir à diante.

Quanto a ele o que mais gostava nela era a pureza e a delicadeza feminina, aquele sorriso alegre entre uma conversa e outra e o olhar paralisante que possuía. A companhia perfeita que ela sempre se tornava nas tardes.

Então continuou sempre assim, um atraído pelo outro, as conversas melhorando sempre mais e gerando assim um romance ideal, brotando um sentimento incomum.

Numa definição específica eram pessoas com conceitos diferentes, não que fossem inimigas, pelo contrário, conceitos diferentes no sentido de gostos distintos que atraía um para o outro. Pessoas que necessitavam uma da outra.

No dia 16 de setembro de 1999 o "diabo loiro" de 19anos casou-se escondido com a menina de olhos azuis que conhecera há dois anos edois dias na aromatizada lanchonete com cheiro e cara de tarde de domingo.

Tempo é dinheiro - Uma herança de John DillingerOnde histórias criam vida. Descubra agora