18h00min. Muitas horas já haviam se passado desde o momento em que Walter Amorim fez o primeiro upload do conteúdo de sua câmera para o site da empresa onde trabalhava. Seu físico já não era mais o mesmo. Estava cansado de ir e vir na tentativa de se aproximar do local cercado pela polícia. Havia tentado inúmeras vezes e em algumas delas, quase fora pego pelas viaturas policiais que saiam a todo instante. Ele arrumara um esconderijo secreto em um estacionamento particular localizado na mesma rua do atentado. Ficava sempre observando o movimento e tirando suas fotos e vídeos. Talvez pelo caso estar tão corrido, a policia ainda não tinha tomado nenhuma iniciativa de procurar quem passava informações para a rede, afinal, a própria notícia já havia percorrido todo o país e estava agora nas telas das pessoas sendo transmitidas pelos noticiários. Walter Amorim era nesse momento o homem mais famoso da Gazeta de Alagoas. Seu telefone a todo instante era acionado por pessoas querendo informações, e ele, muito esperto, sempre fugindo das entrevistas ao vivo por telefone. Seu computador portátil já estava com a carga no fim depois de tantas transferências feitas. Uma única arma restava em suas mãos. A câmera Nikon 3500 que tinha um alcance inacreditável.
18h35min. Sofia descia de um táxi em frente a sua casa na Avenida Ceci Cunha em Arapiraca. Era fato que estava cansada, mas com o cansaço de sua mente pela tensão dos acontecimentos no decorrer do dia.
– Quanto foi a viagem, moço? – Pergunta ela ao taxista.
– Vinte reais.
Ela abre a bolsa preta e puxa de lá uma nota de cor azul com um peixe desenhado. O homem fixa os olhos na nota como se fosse uma intuição.
– A senhorita não tem dinheiro solto?
– Não se preocupe, o troco é seu.
O homem aparentemente sem palavras tenta falar alguma coisa, mas não consegue, pois Sofia já se dirigia até o portão de sua casa. A nota valia Cem reais. Ele então agradece e parte dali antes da cliente mudar de idéia.
19h00min. O silêncio que pairava no ar durante algum tempo no banco Real é quebrado.
"Vummm...mmm... Vummm...mmm"
Um telefone vibrava dentro do banco Real de dentro de um bolso de um dos terroristas.
– Ocorreu tudo como planejado? – Pergunta o terrorista.
– Sim. – Responde a pessoa do outro lado da linha.
– Entendido. A primeira fase acaba agora. Encontraremos-nos em breve. – E desliga a ligação enquanto se levanta da cadeira onde descansava.
– Senhoras e Senhores, hora de irmos embora. – Fala ele em voz alta para que todos os reféns ouvissem.
– Número 4, onde estão as mochilas? – Continua a perguntar o líder.
A freira mais alta e forte de todas leva até o líder as duas mochilas enormes que trouxeram junto a eles quando invadiram o banco.
– Aqui estão. Sigo o procedimento?
– Sim. A primeira fase foi finalizada.
O número 4, como foi chamado, virou-se e começou a gritar com os reféns.
– Todo mundo de pé, agora! Homens e mulheres, todos nus.
As pessoas começaram a se despir o mais rápido possível sem questionamentos.
19h15mim. Em outra parte da cidade, um homem é mantido preso numa pequena sala do batalhão de polícia militar da cidade. Seus olhos longínquos mostravam bem o quanto seus pensamentos estavam distantes e preocupados com outra coisa sem ser sua situação atual. Tudo parecia um enorme pesadelo, diga-se de passagem, o pior de sua vida. Sua atenção então é retomada com o vibrar de seu celular particular que se encontrava no bolso direito de sua calça. Ele então olha ao redor e atende ao chamado em voz baixa.
– Alô?
– Como prometido, sua família esta a salvo.
A ligação então foi encerrada sem que ele pudesse responder. Os olhos se encheram de lágrimas e o coração enfim sossegou um pouco.
– Sr. Emanuel?
Ele levanta a cabeça e olha em direção a porta de onde veio à voz.
– Vista para o senhor.
Alguém se aproxima. Um homem de paletó segurando uma maleta com rodinhas cruza a porta da sala e se aproxima de Emanuel. Ele encosta sua mala no canto da mesa e senta em frente a ele.
– Então... Sr. Emanuel dos Santos... Quer dizer que o Senhor fez um depósito de $1.000.000,00 sem saber quem era o beneficiado?
– Isso mesmo.
– Mas, me diga... Você também faz parte da gangue?
– Jamais! Com todo respeito, quero um advogado!
– Claro. Mas tenha calma. Eu sou a lei. E não se preocupe, não sofrerá nenhum abuso, mas, precisamos da sua cooperação.
– Olha, fiz apenas o que tinha que ser feito para salvar minha família! Não sou criminoso.
– Continue...
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Tempo é dinheiro - Uma herança de John Dillinger
AcciónO Homo sapiens sempre levou a vida social mais complicada do reino animal, sempre em comunidades cheias de intrigas, fingimentos, traições. Saber o que se passava na cabeça do outro era questão de sobrevivência - e até certo ponto ainda é. A melhor...