Capítulo 26: Samuel, o Arquiteto.

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São Paulo. 

Entre os anos 60 e 10.

Aquele 25 de Agosto de 1961 seria uma data marcante para a família Castro. Não pela renúncia de Jânio Quadros da presidência do país que gerou uma crise política no Brasil ou por Ranieri Mazzilli assumir interinamente, o que muita gente era contra naquela época, mas sim por Franklin Castro ser preso pela primeira vez.

O jovem Franklin Castro nunca teve vida fácil. Nasceu em família de pouca instrução, o que o fez crescer livremente pelas ruas da perigosa cidade de São Paulo.

Aos 27, em 1970, teve uma notícia que mudaria para sempre sua vida. A vizinha da casa à esquerda da sua estava grávida. Aquilo era demais para o jovem perturbado. Se ele tinha alguma dúvida quando pensava em ser uma pessoa malvada, perdeu-a completamente ao receber tal notícia. Diferentes de pessoas que mudam para melhor, Franklin mudaria definitivamente para pior.

Daquele ano em diante tornou-se um perito em falsificar documentos, conseguindo assim acumular muito dinheiro nos anos sessenta. Ele se disfarçava das mais diversas profissões dando os golpes mais incríveis da época. Em um desses golpes, acabou sendo preso. Conseguiu sua liberdade certo tempo depois, o que até hoje é uma incógnita para seus conhecidos. O filho, Samuel, cresceu nesse mundo e aprendeu com o pai a ser bandido. Era dono de uma personalidade ruim. Foi preso por falsificação de documentos e golpes diversos assim como seu pai quando tinha 18 anos. Cumpriu demorados cinco anos de prisão até fugir em 1995, da Penitenciária "Dr. Sebastião Martins Silveira" de Araraquara, localizada na Avenida. Francisco Vaz Filho, número 4055 no Jardim Pinheiros. Era uma penitenciária com capacidade para 1008 presos, mas que continha uma população de 1404. A área construída era de 34.339,28 m² e sua data de inauguração foi em 22 de agosto de 1977. Após a fuga, Samuel Castro continuou seguindo os passos do pai, tornando-se um dos melhores falsificadores de documentos do país. Outra coisa que herdara e, diga-se de passagem, seria bem melhor que seu pai, eram os golpes que cometia com disfarces. Era um arquiteto de planos incríveis. Organizava como ninguém os melhores roubos pequenos na cidade paulistana. Ganhou fama entre os criminosos da cidade, chegando a receber várias visitas dos "peixes grandes" do crime organizado com intuito de fornecer planos perfeitos. Com isso, ficou conhecido intimamente pelo apelido de "Arquiteto".

Em 1996, bolou seu primeiro fracasso como arquiteto dos "peixes grandes". Na tentativa de assalto de um posto de gasolina. Era o Auto posto Verdes Mares Barra, na Avenida Tomás Édson, número 700 em São Paulo. Localizado próximo a praça Orlando Zanfelixe Júnior.

Na ocasião, o atendente da noite no posto já estava desconfiado por conta do horário. Eram 03h30min da manhã. Movimentação incomum naquele horário. O carro era uma picape aberta com alguns galões na carroceria e havia encostado-se a uma das bombas de gasolina. Trazia três homens, os três armados. O funcionário ao atendê-los percebeu o clima tenso daquele automóvel e pediu licença alegando ir consertar a bomba de combustível. Apanhou em uma mochila escondida um revólver de calibre 38 e o pôs em um dos bolsos de sua farda. Antes de retornar sentiu um cheiro de cigarro pairando no ar e virou. A imagem que viu foi a confirmação de sua intuição há poucos minutos. Uma espingarda calibre 12 estava apontada em sua direção.

– Não queira bancar o esperto, camarada! – Falou o homem que segurava a espingarda.

– Ponha as mãos para cima e sugiro que nos obedeça caso queira se safar dessa.

Imediatamente o criminoso desceu do veículo e tomou o revólver do frentista.

– Agora passe todo dinheiro que tiver aí e encha esses galões de combustível. E isso é rápido.

O funcionário do posto obedeceu e encheu os galões dos homens. Depois entregou o dinheiro que guardava e recuou.

Os criminosos ligaram o carro e aguardaram a entrada do último comparsa que observava a movimentação da Avenida Tomás Édson. Ele voltou e antes de entrar no carro parou. Deu meia volta e parou em frente ao frentista que começou a demonstrar medo ao tremer involuntariamente as mãos e os lábios.

– Está com medo agora? Antes queria nos ferrar não é?

– "Arquiteto", vamos embora! – Gritaram de dentro do carro os outros.

– Já estou indo! – Respondeu ele.

– Preciso só ensinar a esse cidadão a nunca mais se meter onde não deve.

"Táááá...áá..."

Foi o som causado pelo revolver que ele havia tomado do frentista disparando contra seu próprio dono. A bala atingiu a perna do funcionário, fazendo-o cair enquanto se contorcia de tanta dor. Gritou incontrolavelmente enquanto os bandidos fugiam rua a fora.

Por azar de Samuel, uma viatura virou a esquina que ia de encontro com a Avenida Tomás Édson e achou estranha a velocidade que a picape transitava começando assim uma perseguição.

Os policiais deram vários sinais para que o carro a frente parasse. Não teve efeito. Repetiram mais algumas vezes continuando sem sucesso. Após a última tentativa foram surpreendidos pelo disparo de uma espingarda que atingiu o pára-brisa da viatura. Responderam imediatamente. A resposta foi eficiente. A bala atingira um dos integrantes do bando. Não era um ferimento grave, mas traria problemas para aquele momento. Os policiais continuaram com sorte durante o fogo cruzado. Conseguiram parar o veículo ao atingir um dos pneus. O carro capotou duas vezes deixando os bandidos encurralados. Os policiais pararam a viatura e montaram guarda até a chegada de reforços. Algumas horas depois, os três homens estavam algemados em um porta-malas de uma viatura da policia militar do estado de São Paulo.

Samuel, fugitivo, voltara a um lugar muito familiar, a Penitenciária localizada na Avenida. Francisco Vaz Filho, número 4055 no Jardim Pinheiros, conhecida como Penitenciária "Dr. Sebastião Martins Silveira". Tão rápida como sua volta, foi à saída. Em outra fuga de prisioneiros, Samuel mais uma vez conseguira o improvável. Liderara os presidiários rumo à liberdade menos de um ano após seu retorno. Passou um período escondido sem se dar ao luxo de passear por São Paulo.

Com o passar de dois anos, sua fama ainda era forte entre as mentes perigosas, considerado uma lenda por tamanha façanha de fugir da prisão duas vezes e por ser reconhecido por tantos planos brilhantes.

Certa vez, um jovem rapaz magro de um metro e oitenta de altura, branco, cabelos ondulados de tamanho médio e bem amarelados chegou até ele sem que soubesse como, dando indícios de ser uma pessoa inteligente pela façanha. A conversa foi como de costume para Samuel. Sem muito assunto, pois ele não costumava confiar em estranhos. Demorou pouco tempo e depois o jovem partiu.

Nodia 14 de setembro de 1997, Samuel saia de um pequeno carrinho de rua, dessesambulantes que ficam encostados vendendo doces, pipocas entre outras coisas comuma carteira de cigarros na mão esquerda e um isqueiro na mão direita tentandoacender o cigarro em sua boca. Seus cabelos estavam aproximadamente chegandoaos ombros. Seus olhos brilhavam a cor verde de sempre ao se chocar com osraios solares. Aproximadamente 16h30min cruzou a porta de entrada de umaaromatizada lanchonete com cheiro e cara de tarde de domingo. Duas pessoasesperavam por ele em uma mesa. Era o terceiro dos quatro que se reuniriamnaquele dia, e assim como os outros, esperariam pela chegada de mais um.Estavam ali convocados pelo líder futuro da quadrilha que seria lembradaeternamente na cidade de Arapiraca, capital do agreste alagoano.

Depois de algum tempo de conversa, três dos quatrointegrantes foram embora deixando apenas um rapaz de cabelos bem amareladosobservando uma linda jovem de olhos azuis.    

Tempo é dinheiro - Uma herança de John DillingerOnde histórias criam vida. Descubra agora