Capítulo 18: Desconfianças

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29 de Março, 15h10

- Ibicoara. - anunciara Rafael, referindo-se ao possível esconderijo do sequestrador de Bia.

Ibicoara trata-se de um município da Chapada Diamantina, situado a pouco mais de três horas de distância da cidade em que estavam, Lençóis. O nome da cidade já era tido como um mau presságio por Rafael, pois, "Ibicoara" é um vocábulo tupi que significa "buraco na terra", "cova", a partir da junção dos termos yby e kûara. Um lugar suspeito com um nome suspeito.

- Como ele pode ter certeza de que Bia está lá? - questiona Alycia.

As sete pessoas conversavam desordenadamente, falando de seus receios. Temiam tomar alguma atitude que viesse a prejudicar Bia, pensavam em comunicar seus familiares para pedir ajuda, mas era arriscado. Não podiam pedir socorro, não podiam fugir, eram reféns na zona do inimigo.

- Pelo que nos foi dito por Matias, através da descrição que ele tem do suspeito foi possível colher informações e chegar ao suposto paradeiro do nosso criminoso.

A explicação de Lândyson deixa todos em silêncio, e durante alguns segundos ele impera. Pensavam em todas as possibilidades que, em sua maioria, eram negativas.

Alguém caminhava pelo recinto, sozinho, refém de seus pensamentos, buscando compreender a situação, possivelmente Rafael. O rapaz costumava fazer isso, vivia perdido em seu casulo buscando achar o sentido daquilo tudo, de suas visões... Preocupado com seus amigos, com sua irmã, com Bia.

- Já pararam para pensar que pode ser uma cilada? - pondera Maicon, muito sabiamente - E se na realidade ele for o "homem de preto"?

- Verdade. - concorda Wesley - Ele é policial seria bastante lógico se ele fosse o criminoso, ele teria informações privilegiadas e proximidade com o caso o que justificaria o fato de ele não ter sido pego ainda.

A tensão no ambiente aumenta, torna-se palpável, densa. A paranoia havia se tornado companheira inseparável do grupo. Tinham que pensar em tudo, o inimigo poderia ser qualquer um e, por mais que Matias se mostrasse simpático e disposto a colaborar, deveriam ser cautelosos. É natural do predador se camuflar.

- Se ele fosse o culpado não seria sábio contar o caso Sofia, muito menos nos dar todas aquelas informações.

Lândyson sentia verdade no discurso do investigador, algo naquele homem causava-lhe empatia, sua dor era visível na voz. Sentia que podiam confiar nele.

- De qualquer forma não nos resta mais opções. - conclui Rafael - Temos que confiar nele, temos apenas que nos organizar, ele quer que três de nós o acompanhemos até Ibicoara amanhã caso ele consiga confirmar a identidade desse homem.

- E como ele fará isso? - Alycia tinha dúvidas, muitas por sinal, mas as respostas eram escassas e, cada vez mais, novos questionamentos surgiam.

A jovem reclamava de dor de cabeça desde o princípio da gravação dos áudios, tinha sono, todavia, sua preocupação não lhe permitia dormir, precisava se alimentar, porém, a lembrança de sua irmã caçula amarrada tirava-lhe o apetite. A fragilidade em sua voz evidenciava sua exaustão, seu medo.

- Antes de seu plantão na delegacia terminar ele vai usar um sistema de reconhecimento facial. - explica Lândyson.

- Porém, ao que parece, o sistema só cataloga quem já possui passagem pela polícia. - acrescentou Maicon. - É torcer para que o homem em questão já tenha cometido algum deslize antes.

Rafael não possuía uma visão tão otimista no que se referia a esta hipótese, visto que para um homem capaz de raptar sete crianças sem se pego, passar impune perante à lei não era algo difícil. Mas, enquanto compartilhava seu ponto de vista com o grupo, Lândyson retira seu celular do bolso e anuncia que recebera uma ligação, Matias.

- Coloca no viva voz. - pede Igor.

A pequena Lara que se mantivera calada até então, pergunta algo a alguém que lhe pede silêncio, e ela volta à sua reclusão enquanto o grupo volta sua atenção para à chamada tão importante. Após um "alô?" dito por Lândyson, a voz do outro lado da linha anuncia:

- É ele! Achei o nosso homem.

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