Capítulo 37: "Vou lutar até o fim."

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Lândyson detestava estar de mãos atadas. Seus amigos estavam além dos limites de Lençóis, em uma cidade onde os oponentes pareciam ter a vantagem e longe da ajuda deles. Alycia tentara telefonar para Matias algumas vezes, sempre caindo no correio de voz. Com Rafa e Wesley não foi diferente.

O quarto era preenchido pelo silêncio, um vácuo torturante, que como um polvo e seus tentáculos, os envolvia em desespero. A cada nova descoberta à respeito do Isdra, ficavam ainda mais em dúvida se deviam desafiar a facção religiosa.

- Como vamos saber se eles estão bem? - indagou Igor. - Eu voto por ligarmos para a polícia.

- Cê é louco? - esbravejou Alycia. - Temos que jogar o jogo deles. Já estamos nos arriscando demais batendo de frente deste modo.

- Jogar o jogo deles? - repetiu. - Estamos lidando com uma seita secular que sequestra crianças e mata pessoas. Não tem como jogar com isso!

- Igor, eu sei que está assustado, todos estamos - interferiu Lândyson -, mas não podemos nos deixar vencer, estamos muito perto.

- Perto do quê? - rebateu. - Essa busca não irá nos levar a lugar algum que não seja a morte.

Alycia fez menção de responder, porém, ele seguiu falando:

- Vocês nunca se perguntaram o porquê de estarmos sendo o alvo disso tudo? - questionou sem obter resposta. - Estamos sendo vigiados desde a nossa chegada nesse lugar; eles levaram a Bia, depois a Lara, e todas as outras crianças, para servirem de oferenda em um ritual sinistro e estão nos arrastando para um jogo de gato e rato. Advinhem quem somos nós neste jogo?

- Não sei ao certo se é essa a vontade deles, provavelmente não - ponderou Alycia. - Há algo nessa história nos fugindo aos olhos.

- Ah, não diga! - ironizou, se rendendo ao pânico. - Admitam, eles foram pegos e os próximos seremos nós.

A dupla engoliu em seco.

- Eu estou indo embora - anunciou em meio às lágrimas. - Vou voltar para Serrinha e contar às nossas famílias o que está acontecendo, eles vão nos ajudar.

- Você não pode simplesmente ir embora, Igor - disse Lândyson. - Você viu o que acontece quando os desobedecemos, temos que permanecer e lutar.

- Lutar?! Galera, seremos esmagados, nossa única chance de pará-los é voltarmos para a segurança de nossas casas e buscarmos reforços. Olha, eu sei que estou soando como um covarde e no fundo é essa a verdade: eu estou com medo. Ficamos nesse quarto por horas a fio, buscando respostas e criando teses e tudo o que sabemos a respeito desse bando de loucos não chega a um terço do que eles sabem sobre nós.

- Todos estamos com medo - gritou Alycia. - Estamos nos aproximando da verdade Igor, tenha fé.

- Precisamos da sua ajuda - completou Lândyson.

- Eu irei ajudá-los, só não estarei aqui. Vocês não veem? A possibilidade de os derrotarmos é nula. Essa prática se estende por séculos, quem somos nós para mudarmos alguma coisa? Não vamos salvar as meninas ficando aqui, precisamos tornar essa história pública. Por favor, vamos embora?

- Eu vou ficar - respondeu Alycia. - Não irei fugir como um rato, vou lutar até o fim. Devo isso a Bia.

- Eu também vou ficar.

Igor assentiu dolorosamente, não queria que terminasse daquele modo, contudo, ficar ali era um risco o qual não estava mais disposto a correr.

- O.k.

Estava decidido, iria embora ainda hoje para acionar a polícia em Serrinha e comunicar à imprensa. Se importava com os seus amigos, porém, não poderia se arriscar ainda mais. Já havia ignorado os telefonemas de sua família por medo da represaria. Não mais. Negava-se a ser o próximo na lista negra. Iria pôr um final naquilo tudo.

Sem levar uma única peça de roupa ele partiu rumo à rodoviária. Pegou seu celular, o cartão com o número de telefone de um taxista, se despediu de Alycia e Lândyson e partiu.

O silêncio voltou a reinar no quarto por alguns minutos até que Alycia quebrou o silêncio:

- Irei ligar novamente.

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