Capítulo 32: A Casa de Pedra (Parte 2)

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A imagem do médico contradizia a força sugerida por sua voz. Aparentava ter pouco mais de 30 anos de idade, possuía cabelos loiros bem cuidados, vestia uma roupa social na cor preta muito bem alinhada e de corte exemplar. Seus olhos eram claros, verdes como grama e seu rosto de traços firmes. O haviam visto no hospital quando Rafael estivera em recuperação, porém, não haviam tido a oportunidade de observar suas feições.

Não sabiam o que dizer. Estavam parados em frente ao anfitrião, espantados com a sua destreza, o médico estava bem informado. Tudo o que podiam fazer era esperar que ele movesse a próxima peça do jogo.

Felipe sorriu sem graça, parecia cansado. Fez um gesto a mão direita convidando a dupla a se sentar e eles o fizeram.

- Admiro a coragem de vocês. - começou ele - Ou deveria dizer loucura?

- Queremos as nossas crianças e não vamos parar até que as tenhamos em segurança.

Matias mantinha sua arma empunhada, estava pronto para qualquer imprevisto. Poderiam ser pegos mas não se entregaria sem lutar.

- Não esperaríamos outra conduta de pessoas tão honradas. - Felipe riu e tomou mais um pouco de sua bebida - Meu pai costumava me dizer que a maior riqueza de um homem é a sua honra, já eu acho que é sua maior fraqueza. Gente honrada é tão tola, vive correndo atrás de uma conduta impecável e sempre acaba metendo os pés pelas mãos. Eu teria mais cuidado se estivesse no lugar de vocês...

- Somos nós quem fazemos as ameaças aqui.

Agora o policial segurava a sua arma sobre a mesa apontando-a para Felipe que riu contrariado ao se ver ameaçado.

- Por favor Matias, que indelicadeza a sua apontar uma arma para o seu anfitrião. - ironizou - Mas, devo admitir que prefiro ser morto por vocês do que pelas mãos deles, seria um final mais digno. De toda forma, já sou um homem morto.

- Como assim? - questionou Maicon - Alguém quer te matar?

- A questão é: quem não iria querer me matar?

- Fale sério. - repreende-o o policial - Não temos tempo a perder.

- Estou falando sério investigador. Um homem como eu desperta inúmeras inimizades principalmente quando está envolvido com atividades cujo o erro é inadimissível. Eu falhei e serei punido.

- Então cobre-nos tudo já que você está condenado. - ordenou Martias.

- Você não me dá ordens, policial. Pode me dar um tiro, será um favor que terá me feito, mas, não pense que isso o deixará mais perto de resgatar a sua filha e as irmãs dos seus cúmplices. - o tom sarcástico havia se esvaído, agora o médico possuía em sua voz um tom ameaçador e havia em seus olhos uma fúria implacável - Vocês não podem salvá-las, não há nada que possam fazer. Mesmo que matem a todos os nossos membros e os enterrem em covas improvisadas mata à dentro isso não os parará.

- É o que veremos.

Matias se pôs de pé e apontou a arma para o rosto do médico. Maicon se levantou em seguida, rezava em silêncio na esperança de que a ajuda divina aplacasse o seu pânico.

- Mate-nos um a um e dois nascerão no seu lugar. A nossa causa é nobre e sua filha será privilegiada de participar de nosso plano.

- Filho da puta!

O investigador dispara contra o ombro do médico que cai. Ainda não chão ele ri e recita o trecho de um poema já bastante conhecido pela dupla:

- "Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco."

- Sem enigmas, seu desgraçado. - Matias caminha até o médico que permanecia caído no chão sob uma poça de sangue que se formava sob ele , o pegou pela gola da camisa e o jogou contra a parede - Fale de uma vez o motivo de vocês estarem sequestrando essas crianças.

- Quem disse que estamos sequestrando todas elas?

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