Capítulo 33: Habitantes da Floresta

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31 de Março, 12h11

- Que local mais inusitado para se morar.

O comentário de Wesley expressava com perfeição o pensamento de Rafael quanto à moradia da família Moreira.

A casa situada à beira de uma estrada ficava na saída da cidade, era rodeada por árvores e não possuía outras maradias em suas proximidades. Ao que puderam observar, as pessoas da Chapada Diamantina possuíam uma predileção por casas em locais isolados.

- Não me espanta que tenham tido o filho sequestrado. - observou Rafael - Se eu desaparecesse demorariam dias para me encontrarem nessa mata.

A paisagem que rodeava a casa era a de uma vastidão esverdeada, bucólica e solitária. Árvores formavam um muro desde as paredes laterais até onde a visão alcançava, um refúgio em meio à natureza. A família morava em meio ao nada e nem mesmo o cantar dos pássaros aplacava a sensação de claustrofobia que os acometia.

Deram alguns passos em direção à construção quando notaram algo na janela: uma mulher de semblante triste os osbservava, curiosa. Após notar que tinha sido descoberta fechou as cortinas, seu olhar assustado antes de desaperecer atrás dos tecidos demonstrava sua desconfiança para com os visitantes.

A dupla se aproximou da porta, não havia campanhia, bateram. Esperaram alguns segundos e tornaram a fazê-lo. Nada. Bateram uma terceira vez e novamente não obtiveram resposta.

- Queremos apenas conversar. - gritou Wesley - Não vamos incomodá-la, somos amigos.

A resposta não veio. Ficaram preocupados, não poderiam retornar sem respostas para somarem às que já tinham. Precisavam das informações deles para seguirem em sua caçada.

- Por favor senhora. - implorou Rafael - Não viemos te fazer...

A porta foi aberta abruptamente. Seus corações dispararam devido a surpresa. Durante alguns segundos ficaram encarando-se, apenas. Não sabiam o que dizer. Não sabiam como agir.

- O que vocês querem?

A mulher possuía olheiras fundas, tinha uma aparência abatida como se sofresse de uma doença crônica que a matava aos poucos. Possuía uma baixa estatura o que contribuía para a sua imagem frágil, seus cabelos curtos, lisos e ruivos dançavam com a brisa como se fossem feitos de fogo. Seu olhar era profundo e cansado, sua voz soava triste como a de quem chorara por dias. Olhá-la partia o coração, pois, bem maior que a dor de um irmão em busca de sua caçula, é a dor de uma mãe que perdera o filho.

- Viemos conversar sobre seu filho. - explicou Rafa - Minha irmã também foi sequestrada e podemos ajudá-la a encontrar seu filho, mas, precisamos fazer algumas perguntas.

- Vocês são da polícia?

- Não mas...

- Então como podem me ajudar?

A mulher era desconfiada, mas era compreensível, estavam passando pelo mesmo e sabiam o quão desesperadora é a situação na qual ela se encontrava. Além do mais, possuíam a vantagem de terem uns aos outros enquanto eles viviam isolados naquela casa em meio ao nada convivendo com as lembranças.

- Sabemos que você está com medo, estamos passando por algo parecido e é justamente por isso que estamos aqui. - tentou contornar Wesley - Podemos ajudar você a ter seu filho de volta, mas por favor, deixe-nos conversar com a senhora.

- Lúcia?

A mulher olhou para o fim do corredor e os rapazes puderam notar um homem parado a alguns metros. Ele vestia um casaco cinza e bermuda jeans, em seus pés um par de chinelos de couro.

- Quem são esses homens? - questionou.

- Vieram fazer perguntas a respeito do que aconteceu com o João Pedro. - respondeu a mulher que tornou a olhar para os rapazes - Eu já os mandei embora.

- Não seja rude. - o homem enrubesceu, aparentou se envergonhado com a indelicadeza de sua companheira - Perdoem a minha mulher, a perda mexeu conosco.

Lúcia, como se chamava a mulher, afastou-se da porta e foi para dentro de sua casa, soluços escapavam enquanto enchugava as lágrimas que tornavam a cair. Seu marido se aproximou dos rapazes parados à porta, a dor também estampava seu rosto, porém, de um modo mais reservado.

- Entrem. - convidou.

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