Devoção Obsessiva

Capítulo 39: Trilha entre a mata

Igor aguardava o táxi, ansioso.

Suava frio, tremia. Não quisera fazer malas ou levar qualquer um de seus pertences, almejava apenas sair daquela cidade antes que notassem a sua fuga.

Finalmente!, comemorou ao avistar o veículo. Assim que o motorista parou, ele entrou apressadamente e pediu:

- Terminal rodoviário do Morro do Chapéu, por favor.

- Intermunicipal custa o triplo do valor combinado - anunciou o motorista.

- Sem problemas - respondeu ele. - Apenas vá.

O jovem olhou para trás assim que o carro voltou a se mover, vasculhou a área com o intuito de saber se estava sendo seguido. Nada. Estava dando certo.
Pôs-se a rezar em silêncio, uma prece desesperada e com sabor amargo, uma oração por aqueles que ficavam e por ele que partia. Para disfarçar, afundou no banco de trás e ficou observando a paisagem através da janela entreaberta.

O motorista, cautelosamente, o analisava através do espelho retrovisor. Igor não notou de imediato, pois, respirava e inspirava calculadamente afim de evitar um surto nervoso, suava, mesmo com a temperatura estando agradável. Permaneceu assim por um certo tempo, até que seus olhos encontraram os do homem fintando-o através do retrovisor. Ajeitou-se no banco, engoliu em seco e questionou:

- Tudo bem, senhor?

O motorista não respondeu. Ao invés disso, ele travou as portas do carro e fez uma curva brusca para entrar em uma trilha entre as árvores que ladeavam a estrada.

Graças a inesperada manobra, Igor, bateu a cabeça contra o vidro da janela, adquirindo um ferimento na testa, sangue fresco lhe escorria pela face.

- Mas que porra é essa? - interrogou a plenos pulmões. - Para onde está me levando?

O condutor permaneceu em seu silêncio inabalável, pisou no acelerador. Agora estavam a toda velocidade em meio à mata do cerrado.

O jovem investiu contra o motorista, tentava desesperadamente forçá-lo a parar o carro. Desferia golpes aleatórios que eram contidos pelo rival sem que ele precise abandonar a direção - usava apenas o braço direito para conter os ataques. O motorista conseguiu agarrar o seu pescoço, pressionou a sua traqueia, forçando-o a parar. Pressionou com ainda mais força e, com um golpe de cabeça, o atingiu no nariz. Igor desabou no banco de trás com o nariz quebrado e, atordoado pelo asfixiamento, desmaiou enquanto o carro desaparecia na trilha.