Capítulo 25: Sussurros

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31 de Março, 03h03

- Como?

Rafael não conseguia mais conter as lágrimas. Sua irmã agora estava nas mãos daqueles sádicos e tudo por terem sido desobedientes e ido contra as condições impostas. A culpa é minha.

- Alycia, Wesley e Igor estavam do pátio da pousada estudando as coisas da pasta, a haviam deixado dormindo, foi quando invadiram o quarto e a levaram. - explica Lândyson.

- Meu Deus, a minha irmã... - Rafa não consegue mais esconder o seu desespero, sua cabeça dava voltas, o pânico o dominava.

A culpa é minha.

- Ela foi esperta, se escondeu no armário e ligou para Wesley. - Rafael se apoia na cama para ficar em pé, Lândyson corre e o apoia - Iremos encontrá-la, não se preocupe.

- Cadê o Matias?

Matias entra no quarto apressado, estivera escutando tudo do lado de fora.

- Chamou? - pergunta o policial.

O investigador estava num estado deplorável, a camisa que haviam comprado havia ficado larga, seus cabelos estavam desgrenhados e seus olhos vermelhos evidenciavam o seu choro.

- Sim. - responde Rafael - Cadê as minhas roupas? Quero ir embora.

- Você ainda está fraco, mano... - previne Lândyson - Você tem que ficar em observação...

- Dane-se! - esbraveja - Eu vou achar a minha irmã, estou farto disso tudo.

- Calma, você vai acabar chamando a atenção do hospital inteiro. - repreende Matias.

- Não podemos chamar atenção, temos que ter cautela. - sussurra Lândyson - Sei que você está abalado com a notícia mas temos que ter cuidado.

- Cuidado? - o jovem passa a mão no rosto para secar as lágrimas - Em dois dias, duas pessoas próximas a mim foram sequestradas por um bando de loucos, prendi e torturei um homem, vi a morte do mesmo e me tornei um incendiário e ocultador de cadáver... Cautela é o que menos me importa.

- Todos nós passamos por isso. - fala o investigador - Mas qualquer erro seu pode comprometer a segurança da sua irmã, de Bia... Da minha filha.

- Então não podemos perder tempo aqui, temos que ir atrás deles.

- Com você neste estado não vamos muito longe. - argumenta Lândyson - Fique aqui, se recupere e nós vamos cuidar disso.

- Não preciso de recuperação, preciso de uma arma. - responde Rafael.

- Uma arma? - Matias ri contrariado - Pra você atirar em outro suspeito?

- Eu o fiz falar, não fiz? - retruca o jovem - Eles estão com a minha irmã e se acham que vou ficar quieto estão enganados.

Rafael começa a se vestir, seu semblante esboçava ódio, queria ver os responsáveis na cadeia. O rapaz continua falando:

- Ou eles me devolvem a minha irmã ou me certifico de causar o máximo de danos que puder.

- Você venceu. - rende-se Lândyson - Vou chamar o médico e conversar com ele.

- Certo, eu cuido do estressadinho.

***

O hospital estava com lotação máxima. Faltavam leitos, doentes repousavam em camas improvisadas nos corredores e alguns esperavam sentados no chão. Com o surto de doenças virais na região como a dengue, a febre chikungunya e o zika vírus, a procura por atendimento no sistema de saúde pública havia aumentado drasticamente, o que ia de encontro com a precariedade dos hospitais e com o baixo número de profissionais para prestar atendimento.

Lândyson pediu a uma enfermeira que chamasse o Dr. Felipe, responsável por atender seu amigo. A moça que atendia pelo nome de Ingrid, o dissera que chamaria o médico assim que terminasse de aplicar a medicação em um paciente.

A moça demorou de voltar, o que era compreensível visto o número de doentes a espera de atendimento. Lândyson, cansado de esperar, partiu em busca do médico.

Em alguma destas salas ele vai estar.

Próximo ao final do corredor, o jovem nota uma porta semifechada, se aproxima com cautela para o caso de não ser o consultório de Felipe e se prepara para bater. O médico estava de pé em frente a mesa, falava ao telefone, o rapaz decide esperar para não interromper a conversa e pôde ouvir um pouco do que era dito:

- ...Sim, eu sei mas... Não posso agir ainda, preciso esperar que o deixem sozinho... Dá pra você me escutar? O seu conhecido está de cão de guarda em frente ao quarto, vou esperar que ele e o outro amigo do rapaz, um tal de Lândyson, se distraiam e ai me encarrego de dar sequência ao plano. Eu sei... Eu sei... De hoje não passa. Vou dar um jeito neles.

Rafa.

Pelo que pôde escutar da conversa enigmática, Lândyson havia notado que planejavam se livrar de seu amigo. Precisava avisar aos seus aliados para saírem dali.

No fim das contas Rafael estava certo em querer sair do hospital. Não estamos seguros.

Apressou-se em voltar para o quarto. Caminhou rapidamente, sempre olhando para a tal sala na qual o médico estava.

Precisamos fugir.

Chegando ao quarto se deparou com Rafael já arrumado, Matias estava sentado na poltrona ao lado da cama, pensativo.

- Temos que sair daqui. - anuncia Lândyson, ofegava.

- Como assim? - indaga o investigador.

- O médico... O escutei falando no telefone com alguém e ele planejava fazer algo contra nós.

- Filhos da puta! - a ira de Rafa fazia-se evidente - Eles estão em todos os lugares.

- O que faremos?

- Vamos sair daqui. - responde o policial.

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