Capítulo I

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Eleonor acordou e se deparou com o olhar impiedoso de seu marido.
Ela se encolheu no canto da cama, tornando evidente seu susto e medo.

- Minha cara, qual o motivo do susto? Por acaso, fiz algo que incentivou essa sua reação? - Perguntava Álvaro se aproximando da esposa que tremia.

- Não meu marido, desculpe. Só me assustei. - Respondeu de cabeça baixa, tentando evitar o olhar de Álvaro que estava vidrado nela.

- Então deixe de besteira, minha senhora, e levante-se, precisamos tomar café com sua amiguinha, quero me livrar o quanto antes dessa intrometida, depois que ela se for, vamos ter uma conversinha - ele disse levantando seu queixo e a fazendo encará-lo. Algo dentro dela a fez sentir que ela pagaria por ter recebido Célia em casa. Seus olhos se encheram d'agua e ela engoliu o próprio choro, ela assentiu com a cabeça.

Ele saiu do quarto a deixando com seus temores. Se trocou e desceu para se juntar ao marido e a sua amiga.

- Bom dia Eleonor - Célia cumprimentou a amiga que se juntou a eles na mesa.
- Bom dia Célia, como foi seu descanso? O quarto estava de seu agrado? - Perguntou Eleonor a amiga que prontamente sorriu.

- Obrigada querida, estava tudo a contento. Vocês realmente são ótimos anfitriões. - Disse Célia, fazendo com que Álvaro esboçasse um sorriso de satisfação.

- Eleonor é uma excelente dona de casa e cuida de tudo com esmero, não é querida? - Perguntou Álvaro fingindo ser gentil.
Eleonor sentiu sua respiração falhar e engoliu a seco.

- Claro meu senhor, faço tudo para que meu marido se sinta bem. -
Célia mesmo não deixando claro, sentiu sua amiga tensa e nitidamente nervosa. Definitivamente esta Eleonor não é a mesma amiga que conhece a anos e que sempre se mostrava forte e de personalidade forte. Aliás Célia sempre admirou o jeito espontâneo e divertido de Eleonor e estranhamente, ela estava tensa e extremamente calada, como se estivesse com medo de algo o tempo todo.

Ela se lembrava dos papos que tinha com a amiga e o quanto conversavam animadas sobre tudo, Eleonor chegava a brincar até quando o assunto era sério.

- Que bom que estão se dando tão bem, o senhor é muito gentil com Eleonor. - Disse Célia para observar a reação de sua amiga.
Eleonor ficou desconfortável, mas sorriu, tentando disfarçar o comentário da amiga.

- Nos damos muito bem Célia, só tenho achado minha esposa um pouco séria por demais, não concorda? - Álvaro deu um jeito de fazer parecer que Eleonor tinha mudado seu jeito por si só.

- Concordo, já havia reparado. - Concluiu Célia.
- Não mudei, só estou um pouco mais madura. Nada que possa preocupa-los, eu garanto, meu senhor. - Respondeu sorrindo para o marido que pegou sua mão beijando delicadamente.

Seu estômago revirava com a proximidade dele, seu fingimento estava cada vez mais difícil de engolir e ela almejava que sua amiga, fosse embora o quanto antes para deixar de conviver com tanta falsidade.

Após o café da manhã, Álvaro levou Célia para conhecer o resto da fazenda em um passeio a cavalo. Eleonor aproveitou e escondeu o diário que ganhou em um assoalho solto do quarto do castigo e fez questão de acompanhar Diná a escrava mais experiente da casa e mãe de Acácia. Dona Diná tinha muito carinho e respeito pela sua senhora e cozinhava divinamente.

- Minha filha, queria tanto poder evitar seu sofrimento, quem diria que como a senhora passaria por tudo que está passando. - Disse a escrava em tom carinhoso a sua patroa, que sem palavras a abraçou.

- Diná, obrigada por ser preocupar, mas não é necessário. Estou bem, só estou tensa com a presença de alguém tão próxima de minha família aqui, meu marido pode se enfurecer ainda mais e sabe do que ele é capaz, não é? - Disse Eleonor em confidência a sua escrava, que para ela era quase como uma mãe.

- Espero que o sinhosinho não desconte na senhora, meu coração se aperta só de vê-lo se aproximar.

- Vamos torcer para que ele continue sendo gentil e cordial com nossa convidada. - Conclui Eleonor dando o assunto por encerrado e saindo da cozinha.
Almoçaram e depois de algumas horas, Célia desceu com Acácia que a auxiliava com a mala.

- Senhor Álvaro, estou muito agradecida por sua recepção, estarei enviando lembranças a todos por vocês. - Disse Célia agradecendo Álvaro que sorria envolvendo seu braço pela cintura de Eleonor, a deixando mais próxima dele.
Célia então ofereceu sua mão a Álvaro que beijou a desejando boa viagem de volta e se aproximou de Eleonor e a abraçou, dizendo baixinho em seu ouvido.

- Se precisar, conte comigo. Estou a uma carta de distância.

- Obrigada minha querida, me lembrarei disso. - Respondeu Eleonor, enquanto Álvaro a fuzilava com os olhos, transparecendo sua fúria, por não saber do que falavam.
Sua mão coçava com vontade de machucar sua esposa que não agia da forma que ele aprovasse.

Eles acompanharam Célia até que ela entrasse na carruagem. Eleonor sentia um arrepio lhe percorrer a espinha, só pelo jeito que seu marido a apertou ela já sabia que levaria um corretivo.

- Pois bem, minha senhora, acho que temos que conversar, vá para o quartinho e me aguarde. - Ele ordenou com um brilho nos olhos.
Ela não respondeu, apenas se dirigiu ao quarto de costume e aguardou ajoelhada como ele tinha ensinado a ela.

Ele entrou no quarto e Eleonor continuou de cabeça baixa esperando por seu castigo, mas dessa vez, Álvaro foi ainda mais cruel, pediu que ela se despisse. Ela assim o fez ficando nua e ajoelhada, ele então tirou o cinto de sua calça e golpeou as costas de Eleonor com toda sua força a fazendo urrar de dor, o sangue escorria por suas costas, o choro foi sentido.

- O que estava falando com sua amiga? - Perguntou gritando.

- Nada senhor, ela só disse que eu poderia contar com ela e que se precisasse estava a uma carta de distância - Desabafou chorando.
- Se eu sonhar que escreveu para alguém eu te mato Eleonor, entendeu? - Perguntou ele com outro golpe em suas costas. - Você se arrependerá de não ter fingido melhor, acha que não sei que sua amiga estranhou suas ações. Cada palavra de Álvaro era pausada com um novo golpe.

Depois de espancá-la Álvaro com as mãos doendo, a chutou e saiu em seguida a deixando sangrar. Eleonor sentia que fosse morrer, a dor era incalculável, em sua boca ela podia sentir o sangue escorrer do chute que levou no rosto.
"Senhor me ajude, não sei até quando poderei aguentar, leve-me" Eleonor suplicava a Deus enquanto a dor ficava ainda mais forte ao tentar se levantar do chão.

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