Capítulo II

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Eleonor estava há mais de dois dias no chão do quartinho, sangrando e com dores insuportáveis. Cada respiração intensificava ainda mais as dores agudas, ela então se arrastou até o assoalho solto onde tinha escondido seu diário, com muito esforço o tomou em suas mãos e começou a descrever seu sofrimento.


" Como pude me enganar desta maneira, casar-me com um ser desprezível como Álvaro, jamais imaginei que sofreria tanto. Ele prometeu a meus pais que me protegeria e me trataria como uma rainha e aqui estou eu, sangrando por suas ações cruéis.

Nunca implorei tanto por misericórdia Senhor, venha a meu socorro, já não suporto mais tanto sofrimento. O meu castigo foi concordar com um casamento arranjado com alguém que se disfarçou de cordeiro na pele de lobo.
Quando conheci Álvaro, ele se mostrou tão gentil, cordial e apaixonado, mas assim que chegamos aqui, ele demonstrou o que sempre foi, um homem cruel e impiedoso.

Em nossa primeira noite, me jogou na cama sem nenhuma consideração, muito menos respeito, tampou minha boca e me penetrou, fazendo com que o sangue escorresse por minhas pernas, a cada penetração era como se me esfaqueasse. Depois dessa noite, eu o peguei de gracinhas com Acácia, uma de nossas escravas, assim que o abordei, ele me estapeou na frente dela, dizendo que eu não tinha o direito de indaga-lo.

Desde então, ele vem mostrando seu ódio por mim, percebo em seus olhos a satisfação em me ver sofrer. Por que meu Deus? O que fiz a este homem para merecer isso? Agora tenho que me calar, tenho medo de morrer nas mãos deste infeliz, sem socorro, pois não tenho a quem recorrer. Já pensei em escrever para meus pais, mas meu pai não acreditaria em mim, sempre o defendeu por demais. Ele iria pedir provas e não tenho nada que prove a não ser as marcas que tenho no corpo, mas Álvaro pode dar desculpas e dizer que eu sou uma relapsa, que não faço nada direito e ainda fiz com que alguma escrava fizesse tais marcas para me livrar do casamento como uma menina mimada e nenhuma escrava desmentiria, afinal todas elas sabem do que seu senhor seria capaz de fazer a elas.

Lembro me, que desde criança eu almejei ter uma família, queria filhos, um marido que me amasse assim como meu pai demonstra amar minha mãe, os via dançar após o jantar e ficava imaginando alguém assim ao meu lado quando me casasse, mas me enganei quanto a felicidade, não nasci para merecê-la e sim para padecer com a falta dela.

Senhor ajude-me, ou morrerei de desgosto. É muito pedir alguém que me ame?
Sou uma infeliz, ei de merecer."

Eleonor escrevia seu diário com muita dor e inconformidade, suas feridas eram como cicatrizes na alma. No final da tarde Álvaro mexeu na porta e Eleonor teve pouco tempo para esconder o diário, mas rezou para que Deus a ouvisse, não seria justo com ela não ter se quer o gosto de desabafar. Mesmo com dores, ela conseguiu ser rápida e escondeu o diário em tempo hábil, assim que seu marido adentrou, ela o olhou e ele a pegou com agressividade levando-a desmaiar de dor.

Ele a pegou no colo e subiu com seu corpo frágil, a colocou no quarto e ordenou que Acácia limpasse seus machucados e fizesse curativos, a deixando descansar.
Assim que Acácia saiu ele entrou e ficou olhando sua esposa adormecida. Seus pensamentos difundiam entre ódio e pavor, não poderia continuar deixando marcas nítidas em seu corpo, pois se alguém os visitasse e a visse, seria uma tragédia. Por mais ódio que ele guardasse do pai de Eleonor, ele sabia da influência de seu sogro.

Seus pensamentos eram intensos, a verdadeira vontade dele era de esganar aquela figura desprezível que dormia em sua cama, fazendo seu sogro pagar pela falência de sua família, quando negou o empréstimo a seu pai, mas precisava agir friamente, após o primeiro ano do casamento ele teria direito ao dote, ou seja, a herança da família dela, este tinha sido o acordo de cavalheiros entre eles, faltavam apenas cinco meses para que se livrasse de vez do peso de compartilhar sua vida com essa criatura mimada, que nem se dava o trabalho de satisfazê-lo como homem.
Ela despertou e seu coração acelerou assim que seus olhos perceberam a presença de seu marido. Ele se aproximou a fazendo encolher na cama.

- Eleonor, me perdoa - ele pedia fingindo arrependimento. Isso fez com que Eleonor franzisse a testa com dúvidas. Ela não respondeu só o observou e ele continuou. - Me perdoe amor, mas saí do sério ao ver que você e sua amiga pudessem estar falando mal de mim, quero fazê-la feliz, mas você não colabora e eu sou um turrão, não consigo me conter, por favor, me perdoe - Implorou abraçando suas pernas que tremiam ao toque dele.

Chorava de maneira sentida e ela se sentia culpada de alguma maneira, talvez não tivesse dando o máximo de si para que o casamento desse certo, seu jeito contrariado ao toque de seu esposo o forçava a ser violento e cobrar-lhe afeto.
Seria ela a culpada de todas as violências do marido? O que fazer mediante aquele homem que chorava desesperado pedindo seu perdão?

Ela não sabia se dava continuidade ao temor ou, se acreditava nas palavras dele, por um tempo imaginou que ele estivesse fingindo, mas ele se mostrava realmente arrependido, que homem choraria assim? Aquele homem sempre altivo e arrogante parecia um menino amedrontado em seus braços. Ela então decidiu acreditar em suas palavras e se deixar abraçar.

Álvaro sorriu com seu triunfo e amaldiçoou Eleonor em pensamento. Ela não percebia o que ele estava preparando e neste momento assinou sua sentença de morte.
Álvaro começou a tratar sua esposa com cuidados e muito carinho, a deixava à vontade para que ela pensasse que estava tudo bem entre eles. Seus dias melhoraram e finalmente Eleonor sentia que tudo estava as mil maravilhas, mas mal sabia ela o que a aguardava.

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