O sol atravessou a grande janela do quarto e me fez despertar. Espreguiço-me tomando conta de toda a cama e sorrio. Algo parece diferente.
Levanto-me indo diretamente ao banheiro do quarto, observo tudo e sinto que algo está diferente, flashes de uma banheira antiga no mesmo lugar, mas sem portas. Minha cabeça dói e sinto-me zonza por alguns instantes.
Assim que me consigo, tiro a roupa e entro na banheira ainda se enchendo de água.
Cada vez que a água toca minha pele eu relaxo, até que começo a ouvir uma conversa.
- Eleonor, pare com isso, querida! - Escuto a voz de uma mulher, mas não reconheço.
- Já disse, não precisa me pentear. Não quero dar-lhe nenhum trabalho prima. - Escuto uma voz familiar responder, mas não entendo, pois quem responde tem o mesmo nome que eu.
Levanto e enrolo a toalha em meu corpo molhado, sem enxugar. Vou até o quarto e não acredito no que meus olhos estão vendo.
O quarto está diferente, cortinas brancas e antigas, castiçais acesos e me identifico com uma das mulheres, mas quando olho para a outra uma forte dor de estômago toma conta de mim. Me curvo para frente e peço ajuda, mas pareço estar invisível.
Vejo os olhos da mulher que penteia meus cabelos, e percebo ódio, ela declama algo sem emitir som, pelas minhas costas.
- Obrigada Mariana, mas preciso descer e ver se o jantar está pronto.
- Quando quiser te ajudo priminha. Precisamos cuidar de você, está esperando nosso herdeiro. - Mariana diz forçando um sorriso.
Meu Deus! Será que estou tendo lembranças do que vivi aqui? Claro, está Mariana é a mulher que me envenenou. Ordinária!
Me a próximo mais delas, sabendo que não serei notada e olho bem nos olhos de Mariana e meu coração salta. - Meu Deus! - Exclamo com a mão na boca.
Esses olhos! Minha própria mãe. Qual seria a explicação para que alguém que me odiasse tanto em outra vida, viesse hoje como minha mãe?
Coloco o roupão que está na cama e saio do quarto, tentando não pirar. Desço as escadas e vou tateando o corrimão tentando não cair. Assim que chego na sala de jantar, Álvaro me olha sorrindo.
- Bom dia! Dormiu bem? - Pergunta.
- Sim. Obrigada e você? - Indago tentando parecer tranquila, mas em vão. Álvaro levanta da cadeira assustado e se aproxima de mim rapidamente.
- O que você tem? Está pálida. Venha, eu ajudo. - diz, auxiliando-me a chegar na cadeira.
- Não sei. Dormi bem, acordei disposta, mas assim que entrei no banheiro comecei a ter flashes de outros tempos aqui. Senti muita dor no estômago.
- Você disse que ta vendo coisas aqui. Acordada? - Alvaro questiona preocupado.
- Sim. E parece tudo tão real. - falo ainda sentindo dores.
Ele então ajoelha em minha frente e me abraça e como mágica a dor cessa.
O abraço apertado, sentindo um medo irracional de perdê-lo. Álvaro sente meu desespero e diz: - Calma! Estou aqui com você. Não vou sair daqui. Entendeu?
Sinto-me melhor e o encaro.
- Não entendo essa necessidade de ficar perto de você. Por mais que o médico tenha dito tudo aquilo sobre nossas vidas, parece tão surreal, não acha? Será que estamos ficando loucos? - Indago desacreditada.
- Não podemos dizer que o que estamos vivendo é normal, mas precisamos tentar entender. O que importa mesmo, é que agora podemos fazer a coisa certa, não é? - Indaga com um brilho lindo no olhar.
Isso me faz acreditar que tudo pode dar certo.
Álvaro se senta ao meu lado e com carinho me serve café. Fico ali com ele por mais alguns minutos, mas uma dor imensa toma conta de mim. Parecem facadas em meu estômago. A dor é tão aguda que, desmaio.
Algum tempo depois desperto, demoro um pouco para fixar meus olhos abertos e tomar ciência do local em que estou. Balbucio algo e Álvaro se aproxima.
- Shiiii - ele faz sinal para que eu não fale - calma! Estamos no hospital, você vai ficar bem.
Minha cabeça parece ter cem quilos, tento levantar, mas se quer consigo me mexer. Fecho meus olhos para descansar e acabo adormecendo novamente.
Mais tarde acordo mais lúcida e ao olhar todo o quarto vejo Álvaro sentado na poltrona ao lado da cama. O observo dormir, e o amor transborda todo meu ser. Como posso amar tanto alguém que nem conheço?
Enquanto penso e o observo, ele desperta e me olha.
- Oi - diz sorrindo - como se sente?
- Oi. Estou melhor. O que aconteceu? - Pergunto.
- Você teve uma dor muito forte, sua pressão caiu e achei melhor trazê-la para o hospital. - Explicou.
- E já sabe o que eu tive?
- Ainda não. O médico fez alguns exames, mas ainda não disse nada. Creio que ele esteja esperando os resultados primeiro.
Neste momento o médico entra no quarto e Álvaro se levanta, se colocando ao meu lado.
- Doutor! - Álvaro o cumprimenta, apertando sua mão.
- Senhor! - O médico retribui o cumprimento e volta o olhar para mim.
-Senhorita, como se sente? - Pergunta.
- Melhor doutor, mas sinto um grande desconforto no abdômen ainda. Descobriu o que eu tenho?
- Fizemos ontem uma endoscopia e um ultrassom, mas para ter certeza do que se trata realmente, preciso fazer uma biopsia por meio de uma laparoscopia.
- O que isso quer dizer doutor? - Questiona Álvaro.
- Descobrimos um tumor no estômago, mas para saber se é benigno ou maligno, preciso fazer uma biopsia.
- O senhor acha que pode ser câncer? - Indago desesperada.
- Ainda não sabemos, por isso, precisamos fazer uma biopsia. Por enquanto, não se preocupe, depois de saber com certeza, veremos como tratá-la. Está bem? - Pediu o médico, tentando nos acalmar.
- Está bem doutor. - Concordei baixando os olhos que já lacrimejavam. Alvaro se aproximou abraçando-me preocupado. O médico saiu e ali ficamos tentando ter forças para aguentar o que estaria por vir.
No final da tarde, duas enfermeiras me levaram para o centro cirúrgico e em instantes eu apaguei.
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O Diário de Eleonor
SpiritualEleonor é filha única de um casal da alta sociedade de São Paulo e casa-se com Alvaro, um homem que guarda vários segredos sobre sua vida, inclusive um caso tórrido com sua prima Mariana. Este casamento os levarão ao extremo. Eleonor no pior momento...