Assim que Alvaro e eu chegamos na fazenda, ficamos conversando sobre nossas vidas. Tudo estava sendo tão natural, espontâneo, mágico. É como se nos conhecêssemos a vida toda, mesmo que fôssemos totalmente estranhos um para o outro.
- Agora que ja sabemos muito um do outro. Poderia me responder algo? - Indagou Alvaro, olhando-me com os olhos brilhando.
Sentia-me envolvida por seu olhar, tinha uma ternura, que me fazia emocionar. Meu coração batia forte e constante.
- O que quiser. Diga! - Pedi sorrindo.
Ele colocou a taça de vinho em cima da mesinha de centro e apoiou os cotovelos nos joelhos. - O que deseja da vida? Ja pensou no futuro? - Questionou.
- Nossa! Que pergunta? - Disse espantada.
- Falei algo errado? Se por acaso não se sentir confortável, por favor, não precisa responder. - Explicou encabulado.
- Não é isso. Na verdade, nunca respondi esse tipo de pergunta em voz alta - falei pensativa. - Não sei se conseguirei me explicar, mas a vida toda, tive a impressão de estar a espera de alguém, como se estivesse incompleta. - Confessei.
- Sei exatamente como se sente. Ja tive alguns relacionamentos, mas nenhum deles me completava. Parecia estar no lugar errado, com a pessoa errada a todo tempo, por melhor que fosse a pessoa com quem estava. - Desabafou.
- A vida é muito complicada. Como podemos ter certeza de algo, quando nos sentimos tão confusos?
- Eu concordo. - Disse levantando-se. Foi até o mini sistem na estante e colocou uma música, algo bem romântico. - Dança comigo? - Perguntou estendendo a mão.
Não respondi nada, somente sorri e aceitei sua mão.
Alvaro me enlaçou pela cintura e deixando bem próxima dele. Sentia sua respiração tão próxima, que meus cabelos do braço se arrepiaram.
A música nos embalava de modo suave.
- Seu perfume é tão delicado. - Elogiou-me.
Olhei diretamente em seus olhos e nossos lábios se encontraram em uma dança de sabores agradáveis. Sentia como se ele tocasse minha alma, como se tudo que esperasse na vida, fosse este momento. Nos entregamos totalmente, o beijo era quente e envolvente, nos unia como uma unica alma.
Nos afastamos devagar, mas sentia um frenesi e excitada de uma maneira diferente de paixão. Não era desejo, era algo mais intenso, incondicional.
- Sentiu isso? - Alvaro indagou, acariciando meu rosto.
- Não sei explicar. Foi estranho, como se tudo isso fosse o que faltava esse tempo todo. - Tentei expressar com palavras.
- Exatamente. É como se eu tivesse esperado por você, minha vida toda. - Confessou.
- Eu também. - Concordei.
Ele beijo minha mão ternamente e se despediu. - Boa noite minha bela. Sinta-se a vontade para se deitar quando quiser e se precisar de algo, estarei no quarto ao lado.
- Obrigada. Você é um cavalheiro. - Agradeci, enquanto ele se distanciava.
Subi para o quarto em seguida, tomei um banho e me troquei. O sono não vinha, decidi dar uma volta pela casa. Desci as escadas, e algo me levou até uma porta ao lado de um escritório.
Resolvi entrar e ver o que havia por trás daquela misteriosa porta.
O lugar era grande e escuro, sem janelas. Cheguei a me sentir mal, mas continuei andando. De repente pisei em um assoalho solto e me abaixei para ver. Retirei o assoalho e coloquei a mão, alcançando um caderno de capa dura vermelho.
Assim que o abri, tive um flash, uma sensação estranha. Uma dor imensa tomou conta de mim. Senti um aperto no peito, não conseguia respirar.
Com muita dificuldade levantei e sai do quarto. Subi as escadas e entrei em meu quarto.
Sentei na cama, com a luz do abajur apenas. Comecei a ler.
É um diário!
A primeira página, tinha tanto sofrimento impregnado, parecia estar vivenciando a dor da pessoa que havia escrito.
Parecia que eu recordava tudo, mas como recordar algo que nunca vivi.
Senti o ódio tomar conta de mim, ao ler as atrocidades que o homem a fazia passar. Me atentei ao nome e vi que se tratava de alguém chamado Alvaro.
O medo transparecia meus olhos.
Meu Deus! Como alguém que parece ser tão gentil, pode ter feito algo terrível assim com outra mulher? Onde estou me metendo?
Tinha certeza que o homem responsável por tanta dor no diário era o mesmo a quem eu estava encantada. Não poderia ser coincidência. Como ele pôde maltratar alguém desta maneira. Sentia enjôo ao ler, ele a espancou cruelmente.
Chorava copiosamente, a dor estava impregnada em minha alma.
Na penultima folha do diário, reparei na data e percebi que não poderiam ser a mesma pessoa, pois o diário estava datado de duzentos anos atrás.
Fiquei surpresa com a coincidência.
Seria algum antepassado, parente ou algo parecido, daquele homem gentil, que me instalou em sua casa?
A noite passou e não consegui dormir.
Assim que a luz do sol adentrou as grandes janelas do quarto, me levantei e coloquei outra roupa.
Desci as escadas e dei de cara com Alvaro, elegante e meigo, me encarou.
- Bom dia bela adormecida. Como passou a noite? Descansou? - Indagou sorrindo.
- Bom dia Alvaro. Que mesa linda! - Exclamei ao ver a mesa repleta de coisas, bolo, pão, suco, café, leite e frutas.
- Fiz questão de levantar mais cedo e preparar um café reforçado. - Disse arrastando a cadeira para que eu me sentasse.
Sorri agradecida e me sentei. Ele se sentou de frente para mim e me serviu.
- Ainda não me disse se dormiu bem? - Insistiu.
- Para ser sincera, não preguei os olhos. - Confessei.
- Por acaso, estranhou o colchão? - Questionou.
- Não - falei bebendo um pouco do suco servido por ele - Posso te fazer uma pergunta?
- Claro, faça. - Respondeu.
- Ontem estava sem sono e decidi andar pela casa, acabei entrando em um quarto ao lado do escritório e encontrei um diário, dentro de um assoalho solto. O mais estranho é que o homem citado no diário tem o mesmo nome que o seu. - Expliquei.
- Que estranho! Posso ver? - Indagou.
- Só um minuto. Vou buscar. - Respondi, saindo para o quarto.
Peguei o diário e o levei a Alvaro, entregando-lhe.
Ele abriu e enquanto lia, franziu a testa. Seus olhos se escureceram, havia dor em seu semblante.
Ele fechou o diário e colocou a mão no peito, como se passasse mal.
- Você está bem? - Perguntei preocupada.
- Não sei. Sinto uma dor profunda. Essas palavras me apunhalaram, e o pior é que não tenho idéia do que seja.
- Viu a data do diário? - Perguntei.
- Data? - Retrucou.
- Sim. Olhe isso! - Pedi, pegando o diário e abrindo na página datada para que ele visse.
Ele me olhou chocado.
- Como pode? Não é possível algo tão antigo, escondido e em perfeito estado.
- Pensei o mesmo. O que acha se pesquisarmos a historia desta casa? Os antigos moradores? Quem sabe assim consigamos saber algo. - Disse limpando o canto da boca com o guardanapo.
Ele sorriu e acentiu.
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O Diário de Eleonor
EspiritualEleonor é filha única de um casal da alta sociedade de São Paulo e casa-se com Alvaro, um homem que guarda vários segredos sobre sua vida, inclusive um caso tórrido com sua prima Mariana. Este casamento os levarão ao extremo. Eleonor no pior momento...