Capítulo III

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A vida de Eleonor estava baseada na ilusão de algo que Álvaro queria transparecer, um conto de fadas nebuloso, que a qualquer momento transformaria o príncipe em um monstro violento e insano, sedento de vingança e ódio, mas Álvaro era ardiloso e sabia como enganar sua esposa.

Faltavam três meses para que Álvaro desse o esperado desfecho a sua história, mas algo não saiu como ele esperava.

- Senhora, entregaram este telegrama em seu nome - Disse Acácia de cabeça baixa, entregando-lhe o papel. Eleonor estremeceu ao ler a mensagem, temendo pela reação de seu marido, que a surpreende lendo o telegrama.

- O que diz ai? - Pergunta impaciente, mas pensa melhor e suas feições se suavizam.

- Meus pais estão a caminho meu marido, nos visitarão semana que vem - Ela responde sem encará-lo.

- Que bom! Vamos aproveitar e recepciona-los com um baile - Responde Álvaro, surpreendendo Eleonor que sorriu contente.

- Um baile aqui! É a primeira vez que abriremos nossa casa para convidados - disse Eleonor tentando conter a euforia.

- Pois então, mande um telegrama a Célia e peça que ela avise seus amigos, receberemos todos eles, temos quartos suficientes para receber pelo menos vinte pessoas confortavelmente. - Concluiu Álvaro. Ele se aproximou devagar da esposa que o olhava de um jeito amável, tomou-lhe as mãos e olhando diretamente em seus olhos prosseguiu

- Tudo para fazê-la feliz minha vida. Eleonor com os olhos marejados e tocada pela generosidade do marido. - Agora a felicidade nos acompanha meu senhor.
As escravas observavam a cena escondidas próximas a porta da sala e se entreolhavam nitidamente confusas, sabiam que Álvaro estava armando algo maléfico contra a esposa.

- Tenho notado que está ficando com formas arredondadas minha cara, tens engordado, cuidado com sua alimentação, gosto de sua forma esguia - notou Álvaro ao abraçar sua esposa.

- Tenho tido uma fome desmedida meu marido, e uma vontade imensa de descansar. - Confessou Eleonor.

- Precisamos chamar o doutor, pode ser que estejas adoentada. – Falou Álvaro, rezando para que sua esposa realmente estivesse doente, isso ajudaria muito em seus planos.

Ela não respondeu, apenas concordou com um aceno de cabeça.
Mas o que Eleonor não tinha ideia, era que seu plano ganharia uma aliada poderosa e muito astuta, Mariana uma mulher linda, ficou viúva de um velho muito rico com menos de dois anos de casada, tinha um caso indefinido com seu primo Álvaro desde a adolescência e ninguém jamais desconfiara dos dois.

Estavam sempre unidos por algum propósito maior, depois que ele decidiu se casar com Eleonor, se distanciaram, mas tudo premeditadamente pelos dois.
No dia seguinte o doutor Benito foi até a casa de Álvaro e consultou Eleonor, que estava pálida, apavorada com a provável doença que seu marido chegou a cogitar na noite anterior.

- Prontinho senhora. - disse o médico assim que terminou a consulta.
- E então doutor, o que eu tenho, é grave? - Perguntou Eleonor preocupada.
- Acalme-se senhora, nada que possa se preocupar, é uma indisposição normal para seu estado. - Respondeu Benito sorrindo.

- Como assim doutor? - Perguntou Eleonor sem entender.
- A senhora está grávida - o médico deu a notícia pegando Eleonor de surpresa. Ela levou as mãos na barriga e sorriu.

- Grávida!

- Vou deixar meu cartão, se sentir qualquer desconforto mande me chamar e virei o mais breve possível.

- Obrigada doutor - Agradeceu Eleonor o acompanhando até a sala, onde Álvaro os aguardava.

- E então doutor? - Perguntou Álvaro sedento por informações.

- A sua senhora está grávida senhor Álvaro, parabéns. Deixei meu cartão com o endereço de meu consultório, qualquer problema pode me chamar - respondeu o médico.

Álvaro sentiu uma pontada no peito, como se estivesse sendo esfaqueado. Como isso pôde acontecer? Isso dificultaria seus planos, ele sem esboçar reação, apertou a mão do médico e o acompanhou até a porta. Quando se virou para Eleonor, ela o olhava radiante, seus olhos tinham um brilho diferente. Ele então sorriu e a abraçou.

- Querida, estou muito feliz com essa notícia, vou ser pai! - Disse levando Eleonor as lágrimas. Na verdade Álvaro estava realmente feliz, sempre quis ser pai, mas não nessas condições, mesmo assim ele não perderia a chance, ele teria que tardar seus planos com Eleonor, mas não abriria mão de seu herdeiro.
Ele se ajoelhou e beijou a barriga de sua esposa com gentileza. Ela por sua vez abraçou sua cabeça e agradeceu a Deus por este momento, elevando seus pensamentos.

Os dias foram passando e Eleonor estava cada dia mais frágil, Álvaro a tratava com carinho, zelando de sua saúde a todo o momento, não ficava mais tanto tempo fora de casa e isso o levou a esquecer de seus planos momentaneamente.
Ele foi até o quarto e ajudou Eleonor a se trocar para o almoço. Ela cultivava um carinho imenso pelo marido que se mostrava amoroso e totalmente diferente do monstro que a espancava no começo de seu casamento.

Eles desceram e se sentaram no sofá aguardando que o almoço fosse servido.
De repente Acácia adentrou a sala e de cabeça baixa falou com os patrões.

- Sinhozinho tem uma senhorita lhe procurando lá fora.

- Senhorita? Está esperando visitas meu marido? - Indagou Eleonor.

- Que eu me recorde, não. Quem é Acácia? ela disse o nome dela? - Retrucou Álvaro temendo que fosse quem ele estava pensando.

- Ela disse que é sua prima senhor, Mariana. - Respondeu a escrava, fazendo Álvaro saltar do sofá. Ele logo se recompôs e fingindo surpresa, continuou - Mande a entrar.

Mariana entrou com sua imponência e beleza, irradiando todo o local e fazendo Eleonor ficar boquiaberta.

- Álvaro meu querido, quanto tempo? - Disse Mariana tirando a luva e estendendo a mão para que ele beijasse.

- Que honra recebê-la aqui prima! Veio para uma temporada ou só para uma visita cordial? - Perguntou Álvaro beijando sua mão.

- Primo, vim passar uma temporada, claro se não houver nenhum impedimento para isso, preciso de ar puro, fui ao médico e ele me recomendou que eu ficasse longe dos tumultos da cidade grande. - Mariana explicou.

- Se é assim será muito bem vinda Mariana. – Respondeu Eleonor.

- Obrigada priminha, você está bem? Está pálida. - Retrucou Mariana observando a esposa de seu primo.

- Ela está grávida Mariana, mas está bem, será ótimo tê-la conosco, quem sabe possa fazer companhia a Eleonor enquanto trabalho. - Disse Álvaro sorrindo.
Mariana fingiu que a notícia não a havia abalado e sorriu abraçando a nova prima com pensamentos de ódio, como essa menina insossa se atrevia a tomar seu lugar e ainda dar o que seu primo sempre quis e que ela armava a tanto tempo.

- Fique tranquilo primo, eu cuidarei de minha prima com muito carinho - respondeu sorrindo para seu primo que retribuiu o sorriso, sabendo que Mariana arquitetava algo que atrapalharia seus planos e isso ele não iria permitir, pelo menos não enquanto Eleonor estivesse carregando seu herdeiro no ventre.

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