Uma aldeia é uma aldeia, nada mais. Redonda ou quadrada, com construções iguais ou totalmente irregulares, era o mais próximo que se poderia chamar naquele tempo de lar.
A aldeia que descreverei agora não era nem de um tipo ou de outro, não seguia um padrão, parecendo ter sido construída às pressas, sem nenhuma característica marcante. Em resumo posso dizer que poderia ser considerada muito simples, até demais.
Possuía uma grande construção retangular no centro que servia como uma área de aprendizagem. Esta construção era cercada por diversos casebres, lares dos aldeãos, sendo que no norte da aldeia existia somente outra construção que se destacava em relação às outras, sendo um pouco maior que as demais e com melhor acabamento. Esta era a morada do senhor da aldeia, um tipo de chefe que só tinha menos poder que o mestre, que conheceremos daqui há pouco.
Era época do frio e a neve, que caia em todas as épocas, com menor ou maior intensidade, cobria tudo tornando ali um mundo branco e mesmo o povo já acostumado com este clima natural, sofria com a crescente queda de temperatura deste ano. Mas mesmo este fato não impedia que a rotina de séculos procedesse da mesma forma e um tambor começou a entoar, chamando os pequenos para seu compromisso diário.
De todos os lugares começaram a brotar seres barulhentos, que ao se unirem se tornavam ainda mais inquietos e o triste branco tornou-se num instante colorido, fruto da força da alegria que vinha de dentro deles, uma expressão de sentimentos daqueles que a cada dia descobrem novidades.
Quando os pequenos se aproximaram da entrada da área de aprendizagem, formaram duas filas, separando os sexos, e se aquietaram da mesma forma que o tambor. A grande porta dupla à frente deles simplesmente evaporou e os trinta pequenos seguiram em frente e quando o último deles entrou a porta retornou ao lugar de origem, mais pesada e mais firme do que nunca.
O silêncio voltou a reinar e quem observasse agora a aldeia, sem luz e aparentemente sem vida, diria que se tratava de um local abandonado há muito tempo, pelo menos era esta a impressão que o lugar parecia dar, como se fosse um disfarce, uma encenação necessária.
A área de aprendizagem era conhecida na aldeia como Vude e no seu interior os pequenos formaram um grande círculo e se sentaram no chão de madeira escura, aguardando a chegada do mestre, que não tardou. Ele já se encontrava num outro aposento dentro do Vude e fora ele quem tocara o tambor para chamar seus aprendizes. Entrou no círculo e parou no centro deste, baixando a cabeça em cumprimento, o que foi correspondido por todos os pequenos. Sentou-se também no chão e fechou os olhos.
Kueryon era o mestre na aldeia do clã Nehode há mais de cinco séculos, tendo somente agora começado a ganhar cabelos brancos. Era baixo e gordo, com um rosto em formato redondo, vestindo-se sempre da mesma forma com um manto branco feito de pele de animais e um laço preto amarrado na cintura. Após alguns momentos de meditação, sussurrou algumas palavras mágicas e começou seu trabalho, que consistia em não deixar que os poderes herdados dos antigos seres mágicos fossem totalmente perdidos, portanto ele despertava tais poderes nos pequenos, entrando em suas mentes. Esse processo de despertar poderes fazia com que o mestre ficasse com a mente conectada às dos pequenos, criando então por alguns momentos uma grande e poderosa força, e durante esse processo cada um dos pequenos ia aprendendo ou, para que fique mais claro, reaprendendo talvez seja a melhor expressão, uma vez que todos os seres da aldeia eram semimágicos, só não conheciam o caminho dentro de suas mentes para realizar tais magias e daí então o sugestivo nome de despertar.
Havia uma regra que era a mais importante dentro da aldeia Nehode, que em hipótese alguma deveria ser quebrada e cabia ao mestre fiscalizar o cumprimento desta lei em todos os seus detalhes, mas logicamente eram os pequenos que mais sofriam a tentação de quebrar tal procedimento secular. Num local onde a diversão maior era pescar, imaginem vocês como era difícil relembrar tantas magias interessantes e não poder jamais utilizá-las. Mas existia um motivo importante que será mais bem entendido no decorrer desta longa história, só que era fato sabido ao mestre que alguém dentre esses novos pequenos não levava muito a sério tal regra, pelo menos isso ele suspeitava, não com total certeza, devo explicar.
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A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)
FantasyNum mundo medieval é comum existir soldados, guerreiros, reis, princesas, castelos, arenas de combate, povos inimigos e logicamente, uma eterna guerra entre eles. Mas o que aconteceria com esse mundo se o precioso equilíbrio fosse quebrado? E se o m...