Guhesim não era diferente de Nehode no que dizia respeito às suas construções, todas irregulares, mas as semelhanças se encerravam nesse detalhe, pois além de ser pelo menos três vezes maior, incrustada numa região quente, era amplamente iluminada por pilares que sustentavam tinas arredondadas e metálicas, de onde as chamas crepitavam por todas as horas do dia e da noite.
Tudo isso a deixava bela de ser vista durante as longas madrugadas, onde as vielas desertas agora vislumbravam uma pessoa encapuzada perambulando sozinha.
Ele seguiu rapidamente, como se já conhecesse o caminho, e parou em frente a um pequeno casebre quadrado localizado na parte sudoeste da cidade, onde murmurou palavras num tom inaudível e a porta de madeira evaporou da sua frente, deixando o acesso livre.
Lá dentro, como esperava, uma senhora dormia profundamente em sua cama improvisada, sem nada a cobri-la. Aproximou-se lentamente como se flutuasse e iniciou uma breve meditação.
Quando um redemoinho negro começou a se formar a um metro acima da moradora do casebre, um raio de fogo irrompeu sobre ele, desfazendo-o e deixando seu invocador perplexo, que ao se virar rapidamente para a entrada, pode ver uma moça baixa com uma espada em chamas levantada acima de sua cabeça.
"Hoje não!" – gritou telepaticamente ela.
Antes que a mestra pudesse esboçar a menor das reações, as roupas do ser encapuzado caíram no chão de pedra, como se somente o vento as tivesse mantido em pé por um momento.
Imediatamente ela iniciou através da sua mente treinada uma busca e vislumbrou uma sombra que se movia em alta velocidade para o muro norte da cidade, exatamente para o lugar que ela imaginava.
"Fechem a passagem!" – ordenou ela para duas mentes conectadas à sua, mas sentiu no mesmo instante uma onda de dor em resposta.
Correu com todas as suas forças e ainda teve tempo de ver uma sombra sugando dois vassalos seus, enquanto uma segunda sombra atravessava o muro de pedra. Disparou mais dois raios de fogo e errou devido à distância, percebendo que o havia perdido.
No muro recitou as palavras decoradas e se viu num caminho estreito que a levava direto ao seu portal vermelho, mas imaginou ser tarde demais, pois ninguém ali viu. Descobriu que estava errada quando mais uma sombra apareceu sobre sua cabeça, vinda da mente de alguém agora oculto atrás de umas das muitas estátuas que enfileiradas formavam o corredor. Conjurou uma aura de fogo como proteção e rumou até o desconhecido, que assustado, desviou dela e correu na direção do portal.
Ao se aproximar a cerca de um metro do portal, ele tombou ao solo, atravessado por mais um raio de fogo. Seu corpo passou devagar do transparente para o sólido e ainda tremia quando ela o alcançou. A mestra o virou e antes que ele deixasse de existir, ouviu claramente em sua mente o seu último suspiro.
"Hoje sim!"
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A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)
FantasíaNum mundo medieval é comum existir soldados, guerreiros, reis, princesas, castelos, arenas de combate, povos inimigos e logicamente, uma eterna guerra entre eles. Mas o que aconteceria com esse mundo se o precioso equilíbrio fosse quebrado? E se o m...