Dentro das espessas paredes de Clad o rigoroso inverno que não se manifestava há mais de vinte anos, permanecia isolado do lado de fora.
Parecia que até o clima queria que todos permanecessem em seus lares, evitando assim os conflitos que surgiriam, mas os seres vivos têm uma predisposição a enfrentar todos os desafios, quando existe um objetivo em comum. E quando se trata de vingança, parece até que o sangue ferve dentro das veias e nesse caso, não há frio, calor ou tempestade que breque os desejos mortais.
Um soldado agora chegava ensopado de neve aos portões do castelo, fatigado pela viagem, e antes de se retirar para seus aposentos, manifestou o desejo urgente de falar com o tenente do exército vermelho, e não houve persuasão que o fizesse mudar de ideia.
Retirou sua armadura e já utilizava uma roupa de linho seca, junto a uma lareira que aquecia o ambiente, quando um homem com uma enorme cicatriz que cortava diagonalmente o rosto adentrou o recinto. Esse homem já tinha passado dos 50 anos, com o cabelo grisalho entregando facilmente sua idade, mas ainda demonstrava uma energia inabalável nos olhos azuis e uma cara de poucos amigos, por ser interrompido num horário de descanso.
"Espero que o soldado tenha algo de importante para me dizer, ou conhecerá o frio de nossas masmorras por vários dias..." – disse ele de forma austera.
"Meu prezado tenente, eu jamais o chamaria até aqui se não fosse um assunto de relevante interesse!"
"Pois fale logo!"
"Estávamos de guarda na entrada da caverna Itdyse quando três viajantes demonstraram desejo de cruzar por elas, para explorar o norte do nosso continente..."
"E vocês os deixaram passar?" – cortou o tenente rispidamente – "Quais eram suas ordens?"
"Sim, meu senhor, não podíamos deixá-los seguir, mas observei que um deles, provavelmente um guerreiro, trazia consigo um objeto de estimado valor para o nosso povo..."
"Mas deviam então ter prendido esse homem ou os três, se estes reagissem!"
"Meu senhor, foi a primeira coisa que me veio à mente, mas como eu disse eles eram três, e um deles era um gigante de bem mais de dois metros. Percebi que se os confrontasse, não conseguiríamos vencê-los, além de despertar neles alguma suspeita que os fizesse desaparecer e assim não pudéssemos recuperar aquela antiga espada..."
"Agora eles estão encurralados no norte gelado e terão que retornar pela caverna, onde podemos emboscá-los..."
"Quero crer que você, soldado, tomou uma decisão sábia, mas para isso preciso saber qual era objeto de valor que ele transportava."
"Eu a reconheci na hora, meu senhor, pois o seu portador a desembainhou no momento em que iríamos bloquear a passagem. Junto à empunhadura estavam moldadas as iniciais do seu antigo proprietário, Carreus Hati, e se não me engano essa mesma espada foi usada no passado contra o senhor..."
O tenente ergueu a mão num gesto rápido, pedindo silêncio, enquanto a outra mão acariciava parte da profunda cicatriz que marcava seu rosto. E após alguns minutos em silêncio meditando, prosseguiu.
"Fez bem o seu trabalho, soldado, será bem recompensado por isso. Descanse, mas não muito, pois temos contas a acertar com certo guerreiro que humilhou o nosso povo por duas vezes. Desta vez ele levará a pior!"
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)
FantasíaNum mundo medieval é comum existir soldados, guerreiros, reis, princesas, castelos, arenas de combate, povos inimigos e logicamente, uma eterna guerra entre eles. Mas o que aconteceria com esse mundo se o precioso equilíbrio fosse quebrado? E se o m...