17 - Guhesim

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"Mais uma pessoa desapareceu hoje!" – resmungou o ancião de cabeça baixa – "Agora são três em menos de um mês. Que me diz disso? Continua achando que não exista nada de errado acontecendo aqui?"

O silêncio reinou por incontáveis minutos, quebrado somente pelo som das labaredas das inúmeras tochas presas à parede do grande aposento da mestra.

"Precisamos tomar alguma atitude!" – arriscou ele novamente – "Não vai dizer nada?"

"Silêncio!"

A voz forte ecoou em sua mente, que destoava totalmente da aparente figura frágil que se encontrava à sua frente, que mais lembrava uma criança de tão pequena. Mas ele sabia bem que atrás daquela disfarçada fragilidade havia uma pessoa poderosa e astuta, maquinando e buscando luz para solucionar o mistério que envolvia sua antiga cidade.

"Saia!"

O ancião, conselheiro da mestra, não precisou de uma segunda ordem e obedeceu imediatamente. Ela, por sua vez, já se encontrava longe daquele lugar há um bom tempo, com sua mente vasculhando todas as outras, de crianças e adultos, que viviam em Guhesim há tantos e tantos anos, plantando, colhendo e vivendo em paz.

Não conseguia, inexplicavelmente para ela, alcançar as mentes dos seres que haviam desaparecido dali, como se eles houvessem deixado de existir, mas sabia que isso era impossível: mesmo quando um ser semimágico morria a sua aura podia ser seguida até Vivsu. Esse fato demonstrava que eles estavam em algum lugar, não fora da cidade mágica, pois isso ela teria descoberto na mesma hora, já que era a responsável por manter a barreira invisível que cobria a cidade.

Havia mais duas possibilidades que ela não queria considerar até esgotar toda a procura que fazia na cidade, em busca do mais insignificante vestígio, mas o seu trabalho estava chegando ao fim, pois restavam apenas duas dezenas de mentes para explorar. A primeira destas possibilidades era que alguns moradores encontraram uma forma de sair da cidade, mas ela descartou logo essa ideia, pois não havia um bom motivo que justificasse essa atitude e a proteção mágica existente era muito poderosa para ser burlada tão facilmente.

E foi quase no final do seu árduo trabalho que a primeira e única pista surgiu, numa criança que ainda não havia começado a despertar sua mente para a magia. Viu se formar em sua mente uma imagem muito clara: alguém havia sido carregado por uma sombra...

Essa descoberta, em vez de solucionar o mistério, apenas o complicou mais ainda, pois nessa segunda possibilidade, de que alguém estivesse por trás dos sumiços, a magia das sombras parecia ter sido invocada restando saber agora por quem e porque.

E mais importante ainda – pensou a mestra – como essa poderosa magia foi realizada se só existia um ser mágico com todo esse conhecimento ali. A não ser, é claro, que estivesse enganada.

A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora