Don Evandro estava possesso. Queria ver se Victoriano tinha mesmo coragem de repetir aquilo.
- Deixa eu ver se eu entendi, seu moleque! - disse ele. - Você está me desafiando, é isso?!
- Acalme-se, Evandro, por favor. - disse Dona Constanza.
- Cale-se mulher! O meu assunto é com esse "projeto de homemzinho" que agora deu pra me enfrentar!... Vamos, rapaz! Responda! - exclama Don Evandro.
- Já que faz tanta questão, meu pai, eu lhe respondo!... Não! Eu não viajarei pra Londres, não farei a sua vontade dessa vez! - disse Victoriano.
O primeiro impulso de Don Evandro foi dar um tabefe em Victoriano por sua impáfia, mas ele se conteve, o que não queria dizer que estivesse menos zangado.
- Não que isso me importe, mas será que eu posso saber o motivo desse seu acesso de rebeldia em achar que pode bater de frente comigo?! - pergunta Don Evandro.
- Logo o senhor saberá, meu pai. Mas já fique ciente que é um motivo muito forte, e por ele eu não vou embora de jeito nenhum! - disse Victoriano saindo.
Don Evandro se vira para a sua esposa.
- Você sabe, não é?... Claro que sabe! Ele te conta tudo! - disse ele.
- Sim, eu sei. Mas não vou te contar. - disse ela. - Você vai saber pelo nosso filho, na hora em que ele quiser te dizer. - disse Dona Constanza saindo.
- Maldição! Moleque petulante! - exclama Don Evandro.
***
Casa da Família Huerta.
Isabel tentara digerir o que sua irmã acabara de lhe contar.
- Minha irmã, pelo amor de Deus! Você ficou louca?!
- Isabel, será que você nunca se apaixonou? - pergunta Inês.
- Sim! Mas nunca pelo filho dos patrões! - disse Isabel.
- Mas o sentimento é mútuo. Victoriano também me ama. Ele até me salvou do Loreto. - nesse momento Inês coloca a mão na boca em sinal que acabara falando demais.
- Ôpa! O que Loreto tem a ver com essa história? - pergunta Isabel.
Inês estava com receio de contar, sabia que sua irmã era cabeça quente, e tinha receio também que ela contasse para o pai delas.
- Desembucha, Inês! O que o Loreto tem a ver com tudo isso? - Isabel insistia.
- Loreto me viu na cachoeira e tentou me beijar à força. - disse Inês.
- Aquele desgraçado! - exclama Isabel.
- Se não fosse o Victoriano eu nem sei o que poderia ter acontecido.
- Eu vou capar aquele infeliz! Maldito Loreto! - disse Isabel furiosa.
- Calma, Isabel! Não aconteceu nada! - disse Inês.
- Graças à Deus, não?!
- E ao Victoriano também, não esqueça - disse Inês.
Isabel senta na cama, perto da irmã.
- Inês, irmãzinha, eu me preocupo com você. Não quero que se machuque. E eu não estou falando só do Loreto. Victoriano é o filho do patrão, gente assim é acostumado a brincar com os sentimentos de gente como nós.
- O Victoriano é diferente. Ele não é como Don Evandro. - disse Inês. - Provavelmente, ele puxou a Dona Constanza.
- É, deve ser. Aquela senhora é uma santa! Não entendo como uma mulher tão boa pôde ter casado com um demônio como aquele Don Evandro, que Deus me perdoe! - disse Isabel. - Mas, ainda assim, Inesita, tenha cuidado.
- Isabel, eu amo o Victoriano e ele me ama... - disse Inês com um sorriso e um brilho de confiança nos olhos. - Quero te pedir uma coisa.
- Já sei, não quer que eu conte nada pro papai. Tá bom, não conto. Mesmo porque, quem tem que falar com ele é você... E o Victoriano também, viu mocinha? - disse Isabel.
- Nós vamos falar com ele. Prometo. - disse Inês.
- Agora vamos, tome um banho e troque de roupa. Temos que ir para a casa grande cuidar do jantar dos patrões. - disse Isabel.
***
Na Casa Grande.
Don Evandro falava com Seu Emiliano.
- E aqueles novilhos que se extraviaram, Emiliano? - pergunta Don Evandro.
- Já cuidei disso patrão, o gado já foi recuperado e cercado. - disse Seu Emiliano.
- Muito bem, Emiliano! É bom saber que eu posso sempre contar com você! - disse Don Evandro.
- É o meu trabalho, patrão. - disse Seu Emiliano sem alongar muito a conversa. - O senhor precisa de mais alguma coisa?
- Não. Você já pode encerrar por hoje. - disse Don Evandro.
- Com sua licença então, patrão.
- Pode ir.
Ao sair, Seu Emiliano dá de cara com Loreto. Os dois se encaram.
- O que faz aqui, peão? - pergunta Seu Emiliano.
- O patrão mandou me chamar. - ele responde.
Quando Seu Emiliano ia saindo, Loreto o provoca.
- Mande lembranças minhas à Inês.
Seu Emiliano volta e o agarra pelo colarinho.
- Fique longe da minha filha, seu infeliz! - exclama Seu Emiliano.
Don Evandro sai de seu escritório.
- O que é que está acontecendo aqui?! - ele exclama.
Os dois se soltam e ficam calados.
- Emiliano, eu já disse que você está dispensado por hoje. - disse Don Evandro. - E você, Loreto, no meu escritório. Agora.
***
Inês e Isabel estavam na cozinha cuidando dos seus afazeres quando Seu Emiliano entra com tudo e agarra Inês pelo braço.
- Papai, o que é isso?! - ela exclama.
- Você anda se encontrando com aquele patife do Loreto?! Responda Inês! - pergunta Seu Emiliano.
- Pai, solta ela! - disse Isabel. - Solta, pai! Tá machucando ela, solta!
Seu Emiliano ao perceber que a filha Inês, ficou assustada com sua atitude e estava chorando, a solta. A mesma estava abraçada com Isabel.
Ele respira fundo.
- Inês, me responda. Você anda se encontrando com esse infeliz do Loreto? - pergunta Seu Emiliano.
- Não papai, eu juro! - responde Inês. - Ele é que vive atrás de mim, mas eu não dou e nem nunca dei "trela" pra ele, o senhor sabe!
- É verdade, pai. - disse Isabel. - Sou testemunha. A Inês nunca daria confiança a um tipo como Loreto.
- Está bem. Desculpe minha filha. - disse Seu Emiliano acariciando o rosto da filha. - Me perdoe, eu me excedi com você. - ele a abraça.
- Está tudo bem, papai. - disse Inês acalmando o pai.
- Vocês duas são tudo o que tenho. Nem sei o que faria se acontecesse alguma coisa a vocês. - disse Seu Emiliano abraçando as filhas.
- Não se preocupe tanto, Seu Emiliano, somos suas filhas. Sabemos nos defender muito bem. - disse Isabel.
- Ainda assim, tenho cuidado. Inês, de agora em diante, você só vai sair de casa se sua irmã for junto. - disse Seu Emiliano.
- Mas pai, eu não sou mais criança! - disse Inês.
- Eu não quero discussão. - disse Seu Emiliano. - Vou esperar vocês nos estábulos. - disse ele saindo.
- E agora, Isabel?... Como eu vou me encontrar com o Victoriano desse jeito? - disse Inês.
- Calma, vamos pensar em alguma coisa. - disse Isabel.
***
No escritório de Don Evandro.
- Loreto, eu te chamei aqui porque tenho um servicinho pra você. - disse Don Evandro.
- Pode dizer, patrão. - disse Loreto.
- Se fizer direito, vai ser muito bem recompensado.
- Eu tô aqui pra servir o senhor, Don Evandro. - disse Loreto.
- Meu filho tinha uma viagem muito importante marcada. Só que de última hora resolveu desistir. Ele disse que é por um motivo muito forte. Eu quero saber que motivo é esse. - disse Don Evandro.
- Eu já desconfio o que possa ser, patrão. - disse Loreto já pensando em Inês.- Não quero desconfianças Loreto. Quero certezas. Você vai seguir o meu filho, pra onde ele for, saber tudo o que ele faz, e depois contar pra mim. Você entendeu?
- Sim, patrão. Pode deixar comigo. - disse Loreto.
***
Já era quase hora do jantar. Victoriano estava em seu quarto, deitado em sua cama, olhando para o teto. Pensava em Inês. Tinha um sorriso estampado em seu rosto. A amava de todo o coração, e se sentia o mais sortudo entre os homens por ela ter o escolhido para amar.
"Ah, Inês! Como eu te amo!" pensava ele.
De repente, alguém bate na porta.
- Pode entrar. - disse Victoriano se sentando.
A porta se abre e ele se depara com sua amada.
- Com licença. - disse Inês não podendo conter o sorriso.
- Inês! - sorri Victoriano.
- Sua mãe me pediu que te chamasse pro jantar.
- Eu já vou. - disse Victoriano se aproximando da porta.
Porém, ao chegar perto, ele puxa Inês para dentro do quarto e fecha a porta.
- Victoriano, o que está fazendo?!
Ele a abraça bem apertado.
- Ah, "mi morenita"! Eu estava com tanta saudade!
- Mas só faz algumas horas que nos vimos. - disse ela.
- É que agora que eu sei que você me ama, como eu te amo, cada minuto, cada hora que passo sem você do meu lado é uma eternidade pra mim. - disse Victoriano.
- Eu também, meu amor. Sabe?
- O quê?
- A verdade é que sua mãe pediu pra Isabel vir te chamar. Mas aí, como a minha irmã tá muito ocupada, eu resolvi "quebrar esse galho" pra ela. - disse Inês com um sorriso travesso.
- Quer dizer que agora eu sou um "quebra galho"? - disse Victoriano sorrindo.
- Eu tô brincando, meu amor! - disse Inês. - Eu quero estar com você o tempo todo. Pra sempre.
- Pra sempre. - disse Victoriano. - Eu te amo, Inês.
- E eu a você, Victoriano.
Os dois, estavam com suas testas coladas. Victoriano acaricia o rosto de sua amada, que fecha os olhos para sentir o toque de suas mãos. Ele a traz para um beijo apaixonado, intenso, cheio de amor e desejo. Não era como o primeiro beijo deles na cachoeira, dessa vez Victoriano estava desejando Inês loucamente. Queria sentir o corpo dela em seus braços.
Ele vai levando-a para cama e a repousa delicadamente, sem deixar de beijá-la um segundo. Estava começando a beijar seu pescoço, Inês estava quase que totalmente entregue, os beijos de Victoriano a deixavam fora do eixo. Ele começou a deslizar sua mão pela cintura dela chegando até suas pernas, quando ele estava começando a querer subir o seu vestido, ela o deteve.
- Victoriano, pare por favor! - disse Inês ofegante.
- Me desculpe, meu amor! - disse Victoriano ao perceber que havia passado do límite. - Eu... Eu não sei o que me deu. Me perdoe, sim? - disse ele segurando o rosto de Inês.
- Está tudo bem. - disse Inês. - Eu é que te peço desculpas. Eu fiquei nervosa, eu nunca... É que eu nunca...- Inês fica constrangida.
- Não se preocupe "mi morenita linda" - disse ele abraçando-a - Eu entendo e não vou te apressar pra nada. Vou esperar o seu tempo.
- Não está zangado? - pergunta Inês.
- Olhe pra mim... Inês, eu te amo. Agora, mais do que nunca. - disse Victoriano lhe dando um beijo terno e apaixonado.
De repente, alguém bate a porta.
- Victoriano, filho, você não vai descer pro jantar? - era Dona Constanza.
Victoriano e Inês se olham.
E agora?
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Fuiste Mía
FanfictionInês e Victoriano se conheceram na juventude. Ele, era filho dos patrões; Inês era filha dos empregados da fazenda, mas isso nunca foi empecilho para que uma linda amizade surgisse entre os dois e também o amor. Porém, o destino conspira para que...