Alícia não entendia qual era o efeito verdadeiro da palavra de proteção. Na verdade, não sabia muito sobre o pacto em si. Sua mãe lhe dissera algumas coisas. Sempre dava sermões sobre o assunto. "Não fale com estranhos, não beba, não fume, não faça um pacto protetor-protegido". Ela quase tinha orgulho de si mesma por ser o único conselho que não ignorara. De acordo com Ruby, o pacto trazia junto de si o ciúmes, que se transformava em inveja, que se transfomava em dor. E a dor abria um leque de opções para se escolher. Desespero, paranoia, suicídio...
Ela nunca havia lhe contado qual era sua palavra de proteção. Dissera apenas que nunca havia usado e nunca a usaria. Talvez fosse uma cor; ou um animal; ou um nome. Alícia nunca descobrira. Nem a resposta para a pergunta "e o que acontece se você falar?" Isso até Dave Fellows ser capturado, amordaçado, torturado e ter dito a estúpida palavra longicórnio.
Bia já era cabeça quente e explosiva, mas daquela vez ela se superou. Ateou fogo em tudo o que conseguiu por as mãos. Gritou, xingou, pulou na neve com raiva e amaldiçoou a tudo e a todos. Uma máquina de destruição. Era nisso que a palavra de proteção transforma o protetor. Ela imaginou que o protegido fosse agora o destruído. Toda sua deteriminação e coragem roubada por seu protetor, caminhando pelas veias de Bia e alimentando cada células de seu corpo. Isso e nada mais. Talvez raiva. Mas raiva era apenas a Bia do dia a dia. O protegido roubava a dor, o medo e a insegurança de seu protetor. Desespero, paranoia, suicídio. Alícia não queria nem saber se estava certa ou não. Precisavam achar Dave antes dele não aguentar mais.
Antes que os cães prediletos de Dneva pudessem uivar e pedir ajuda, Bia pulou em cima deles e nocauteou-os com uma pedra quente. Osso ainda conseguui produzir um ganido alto o suficiente para que o restante chegasse. Todo o restante. Chiuauas, são bernardos, labradores, pastores alemães e bulldogs. Um exército de cachorros cercando as quatro crianças. Bia tirou o arco das costas e preparou uma flecha antes dos cães entenderem o que estava contecendo. Não atirou de imediato. Seus olhos fervilhavam de raiva, suas mãos pegavam fogo e ela não se importava. Ela cheirou bem o ar antes de soltar a flecha. É, eu sei. Cheeseburgers.
Ela não mirou nos cães. Mirou em algo bem mais florsta a dentro. Alícia esperou ouvir um grito estridende e doentio de Dneva, mas ouviu risos.
-Não é assim tão boa no arco! Peguem-nos. DNEVA FINALMENTE TERÁ SUA VINGANÇA!
Alícia tirou um faca do cinto, mas não queria atirá-la. Não conseguis lutar contra cães. Chiuauas bonitinhos e labradores peludos. Só estavam seguindo ordens. Ordens de uma louca. Como poderia tirar a vida de algo assim?
-Ela não é legado de Tâmara –Riley gritou. –Dneva é legado de Edgar. É a lua, a escuridão, o frio. Não pode controlar cães. São apenas treinados por elas, não manipulados.
-Então faça alguma coisa –Bia gritou de volta. –Eu vou atrás dele.
Bia virou-se e subiu numa árvore. Sua agilidade fora impressionante. Poucos segundos depois, pulava de galho em galho, de árvore para árvore, deixando alguns cães latindo para as copas sem folhas como cães perseguindo um gato. Enquanto isso, Riley gritava para os cães. Dizia que os entendia, que só queria ajudar, mas eles não pareciam entender. Missie atirou umas maçãs com alcaçuz dos cavalos na direção dos cães. Eles pararam, cheiraram e mastigaram. Alguns apenas continuaram a rosnar.
-Olha, não queremos causar nenhum mal –Riley conversou com eles. Agora pareciam responder.
Alícia podia ter presado atenção na conversa em palavras e latidos, mas um galho quebrou-se no chão à esquerda. Não havia ninguém ali. Outro galho, na mesma direção. O som baixo e crocante de crack que a neve faz quando se pisa nela. E ninguém. Nada. Tudo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Érestha- Castelo de Marfim [LIVRO 2]
FantasyLivro 2 A surpresa trará novos amigos. A missão, velhos inimigos. A família trará um dragão. As aventuras de Dave, Riley e Alícia continuam no segundo ano em Érestha. Dave continua preocupado com a família, principalmente com a notícia de um novo me...