I -Dave

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As férias foram as mais maravilhosas da vida de Dave Fellows. Ele e os amigos gêmeos, Riley e Alícia Weis, se encontravam frequentemente por quaisquer motivos que pudessem encontrar. Dave conheceu o Rio e os gêmeos, São Paulo. O menino dos olhos azuis ficou maravilhado com a praia e o mar, com a natureza e os turistas, e com as noites na laje das favelas. Vizinhos e amigos apareciam aos montes para almoçar com os Weis e chamavam Ruby de rainha pela sua culinária e generosidade. Alícia havia ficado extremamente animada com o fascínio de Dave por suas coisas favoritas. Riley aconselhava-o a não dar ouvidos a todas as ideias da irmã, mas ele apenas dava risada e continuava a querer explorar mais. Em São Paulo, Dave ficou muito feliz em apresentar os gêmeos para Nicolle. A menina ficou loucamente animada e levou os turistas para todos os pontos mais importantes da cidade. Dave queria poder levar a melhor amiga com ele para Érestha, mas a menina não tinha um legado, não fazia parte da província de nenhum príncipe, nenhuma princesa. Tinha que se contentar em aproveitar sua companhia nas férias.

Contudo, não estava de férias do emprego de representante. A princesa Thaila o havia presenteado com um comunicador de vidro em algum ponto em junho. Era um cubo, feito na verdade de cristal, com a imagem de uma mulher com um vestido enorme e coroa na cabeça feito a lazer dentro dele. A imagem dentro do objeto piscava uma luz roxa constantemente, significando que Thaila, quem possuía o comunicador correspondente, o estava chamando. A princesa gostava tanto da cor roxa que Dave estava ficando enjoado.

Nos bastidores do reino, como gostava de chamar os assuntos em que se envolvia, Dave via coisas que queria poder esquecer. O desespero de cidadãos que já haviam sofrido os horrores da guerra era de cortar o coração. Muitos ficavam loucos e se refugiavam em acampamentos no meio das florestas, outros muitos ainda optavam por sair do reino. Alguns iam ainda mais além e escolhiam a morte sob a possibilidade de uma segunda guerra; tiravam suas próprias vidas e fugiam do que temiam. Algumas pessoas começaram a afirmar que seus legados proviam do rei e exigiam que ficassem legalmente na província de Éres até que se fosse provado o contrário. Dave tivera duas semanas bastante cheias usando seu legado nesses casos. Como um identificador de auras, ele podia comprovar essas afirmações.

O legado de Dave o permitia dizer com certeza quais eram os legados de outras pessoas, ou pelo menos era isso que Thaila havia lhe dito. Sentia que era capaz de muito mais, mas não contestava as palavras da princesa. Ele ainda estava aprendendo a identificar cada um dos legados de cada um dos príncipes e princesas. Quando ele olhava para alguém que fazia parte de Érestha, que tinha um legado, ele só precisava se concentrar em ver além do físico. Ele sentia. Sentia o fogo e o gelo do príncipe Elói, a luz e a escuridão de Edgar e o céu de Tamires. Princesa Thaila o treinava, apresentando uma pessoa e desafiando-o a dizer que legado de que príncipe ela tinha. Dave estava ficando cada vez melhor nisso legado. O que lhe motivava a ser tão dedicado era a memória de seu pai. Reginald Fellows fora não só um importante soldado do exército real e grande amigo do rei, como também um identificador de auras. Para Dave era muito importante levar a frente a reputação do nome Fellows, que o pai já havia iniciado no reino. A boa reputação. Muitos consideravam Reginald um herói. Outros o chamavam de covarde. Aparentemente, ele havia abandonado o batalhão que comandava para salvar sua família em São Paulo. Dave tentava não pensar muito na parte do abandono e apreciava o fato de dele ter salvo sua mãe e o bebê que se formava em seu ventre.

Além de tudo, o legado de Dave Fellows o possibilitava de achar passagens para dentro e para fora de Érestha. Ele e os gêmeos Weis inventaram um jogo onde passavam por uma passagem qualquer e tinham que adivinhar onde haviam parado. Na maioria das vezes era impossível saber, pois paravam numa floresta ou num campo aberto. Mas quando acabavam em uma cidade, Riley sempre adivinhava onde estavam. Dave desejou poder levar Nicolle e sua mãe consigo, mas nenhuma das duas podia entrar no reino. Em setembro, a família Weis partiu numa viagem para algum lugar bem frio, e Dave passou alguns dias em casa, sem nada de muito interessante para fazer, eventualmente indo buscar Nicolle na escola e indo com ela até o prédio de sua prima.

Érestha- Castelo de Marfim  [LIVRO 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora