Surpresas na dor

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Karina andava de um lado a outro da sala do pequeno apartamento que dividia com Cobra, ele já havia saído há quase uma hora e desde então a loira não parou de ligar para o namorado. Ele não atendia.

Estava apreensiva, sabia que Cobra só estava de cabeça quente, e tudo se resolveria entre eles, tinha que se resolver. Não poderia imaginar uma vida sem ele.

Sua mente martelava, confusa. Por que não respondeu o namorado? Por que não disse à ele que não sentia nada por Pedro? Bom, nada não seria verdade, Karina sente mágoa, raiva. Pedro a machucou de uma forma quase irreparável, achou que nunca fosse colar os pedaços do coração quebrado. E então Cobra conseguiu juntar cada caco. Ele merecia uma resposta, merecia ouvir mais vezes o "eu te amo". Ele dizia as três palavras à ela todos os dias, todo santo dia. Karina não sabia qual o problema em externar seus sentimentos, amava Cobra, mas dizer isso à ele era mais complicado. Talvez ele tenha ouvido a frase umas quatro vezes em todos esses meses. Agora ela se sentia mal por isso, tinha certeza que esse seu jeito fechado fizera ele desconfiar. Se mostrasse mais seu amor ele não teria inseguranças.

Mas isso iria mudar! Só precisava conseguir falar com ele.

Seu telefone tocou, o coração disparou, só podia ser ele.

Atendeu sem nem ao menos olhar o identificador de chamadas. Já estava pronta pra gritar pelo celular mesmo que o amava e ele já podia voltar pra casa, mas não foi a voz de Cobra que ouviu do outro lado da linha.

- Karina Duarte?

- Sim. Quem está falando?

- Aqui é da emergência, seu namorado sofreu um acidente, pegamos seu nome nos contatos dele...

O homem da voz grave continuava falando, algo como "você pode vir até aqui?", mas ela não queria ouvir mais nada.

Um acidente?

Deixou o celular cair da mão, o corpo desabou no sofá, tentando processar alguma coisa. Precisava ir até ele.

Correu pelo apartamento pegando o que fosse necessário, enquanto ligava para um taxi. Nada.

Desceu do prédio às pressas, talvez fosse mais fácil achar um pela rua. Nada.

Estava desesperada, sentiu a primeira lágrima cair.

Pedro estava jogado no sofá de sua casa, João o acompanhava ouvindo o monólogo do amigo sobre tudo o que passou nesses dois anos na Irlanda. Contou sobre cada tentativa falha de esquecer Karina, cada momento bom que aprendia sobre música, as pessoas que conheceu. Fez questão de não manter laços fortes com nenhuma delas. Contou também sobre a conversa com Karina naquela manhã, em como ela não queria o ouvir, Cobra chegando, e ele ficando sem resposta. E por fim contou a mais nova novidade. Seus pais iriam se mudar.

Delma contou que estavam apenas esperando ele voltar, para que pudessem se desfazer da empresa e deixar Pedro abrir o próprio negócio no ramo da música. O casal já tinha dinheiro suficiente para passar bons anos sem trabalhar, e foi o que decidiram fazer. Férias permanentes pelo mundo.

Pedro sabia que os pais - principalmente a mãe - eram maluquinhos, mas nunca imaginou eles fazendo mochilão pelo mundo. Agora tinham um filho criado, formado, pronto para montar a própria vida, só queria aproveitar o casamento que nunca desgastou ao longo dos anos.

Partiriam em três dias.

Pedro foi interrompido de seu discurso pelo celular do amigo tocando na maior altura.

- Fala, K. - João atendeu recebendo um olhar curioso de Pedro quando pronunciou o apelido da amiga.

- João, você pode vir até minha casa? - a voz de Karina era fraca e não escondia o choro.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora