Quando tudo parece tão confuso

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Karina encarava o teto respirando profundamente, ainda sem sair do abraço de Pedro, ela não disse nenhuma palavra, só tentou curtir o momento, da melhor forma possível.

Ele se remexeu na cama, com cuidado para não acordar a bebê, sentou no colchão de repente tentando tomar coragem para fazer a pergunta que martelava em sua cabeça há vários minutos.

-Karina como vai ser agora? -Saiu baixo, quase em um sussurro, mas ela pôde escutar.

Sentou também, e a única coisa que separava os dois de ficarem mais próximos fisicamente é o corpinho da pequena bebê, que dava leves suspiros entre o sono.

-Não sei, eu nem pensei nisso. -Enfiou uma mecha de cabelo atrás da orelha, olhando para os pés.

-Mas eu pensei, podemos tentar outra vez, com mais calma, curtindo mais as coisas. -Ele sorriu de um jeito que ela não via á muito tempo, um sorriso safado, irritante, um sorriso único, um sorriso feito especialmente para os lábios carnudos de Pedro, um sorriso que ela nunca admitiria que sentiu a maior falta.
-Você continua safado, isso não mudou.
-Com você, agora, não mesmo.
-Podemos tentar. -Ele aumentou o sorriso, até seus olhos fecharem. -Mas continuamos dormindo em quartos separados, e eu quero fazer isso aos poucos, até eu me acostumar.
Karina murmurou meio perdida, e ele percebeu que ela escondia algo, e não disse tudo que havia para dizer, mas achou melhor não pressioná-la, ela falaria quando estivesse preparada, e os dois finalmente teriam a tão adiada conversa.
Foi se aproximando com cuidado, até alcançar o maxilar dela, o tocando com a palma da mão, ela fechou os olhos esperando que continuasse, e é o que ele iria fazer, e quando seus lábios já estavam roçados, o barulho brusco do celular, comandado por uma enorme vibração, fez com que os dois se afastassem.
-Pode atender.
-Deixa tocar, depois eu retorno à ligação. -Falou apressado para continuar.
-Atende Pedro. -A contra-gosto pegou o celular, visualizando um número desconhecido, atendeu no segundo da quarta chamada. -Alô?
-Pedro, é a Nat.
-Ah...Oi Nat, como vai? -Foi impossível não olhar para o lado, sendo fuzilado com um olhar imediatamente.
-Eu vou bem, você passa aqui na gravadora que horas?
-O que? Porque?
-Você me convidou para sair ontem esqueceu? Eu já tô na frente da gravadora esperando. -Levou uma das mãos até os cabelos, escovando os fios nervoso, acabou esquecendo de desmarcar o encontro dos dois, ou melhor, nem teve tempo.
-É mesmo...Hoje não vai dar, eu...Acabei esquecendo, vou precisar cuidar de uns papéis...da gravadora é claro, podemos marcar para outro dia?
Ele já foi melhor para inventar desculpas, bem melhor.
-Claro, depois conversamos então, até amanhã. -Desligou depois de um suspiro, parecendo decepcionada.
-Você vai sair com ela outra vez? -Deu um meio sorriso, se controlando para não rir do evidente ciúmes e estragar tudo.
-Não sei, talvez, eu não podia dispensar assim do nada Ka, ontem mesmo eu marquei.
-Ah claro! Pois a um tempo atrás você não se importava em dar foras em garotas, muito pelo contrário.
-Eu mudei Karina, agora eu sei que as mulheres têm sentimentos, uma coisa que eu não compreendia antes.
-Então ela já tem sentimentos por você? É correspondida por um acaso? -Ela tentou manter a calma, murmurando baixo, e saiu da cama, pegando a filha no colo.
-Não é nada disso Karina calma.
-Eu quero dormir, estou com muito sono, vou colocar a Ângela para dormir primeiro, quando eu voltar talvez seja melhor o quarto estar vazio Pedro, tenha uma boa noite. -Revirou os olhos saindo completamente vermelha, ele acabou murmurando um boa noite também, deixando escapar um sorriso bobo.
~*~
Pedro se remexia entre os lençóis, apertando os olhos, em busca de um sono acalmo como quase todas as noites. Mas não chegava, seu corpo parecia não estar cansado, as pálpebras não pesavam, e já passava das três horas da madrugada, ou seja, metade da noite em claro, sem conseguir pegar no sono.
-Droga! Preciso de ar. -Praguejou irritado levantando da cama.
Não muito longe dali, Karina passava pelo mesmo problema, mas ela já estava irritada, por não conseguir dormir, a diferença é que sabe o motivo da insônia repentina: Pedro.
Ele não sai de sua cabeça, e por mais que não queira admitir nem para si mesma, a noite passada ficou na mente, o corpo parecia implorar por uma repetição.
Achou ridículo se sentir como uma adolescente com hormônios a flor da pele, mas é o que está parecendo.
Desistiu de tentar dormir, e resolveu levantar para tomar um copo 'd água, talvez isso fizesse o sono aparecer. O corredor estava extremamente escuro, mas enxergava como se tivesse centenas de velas iluminando o local. Foi passando devagar em passos leves, mas perdeu a concentração quando passou pelo quarto de Pedro, que tinha a porta fechada. Parou de frente para a maçaneta, chacoalhando a cabeça para espantar a idéia absurda.
-Karina? -A voz rouca e grossa a assustou, fazendo com que colocasse a mão sobre o peito.
-Que susto Pedro! Você não deveria estar dormindo?
-Sim, é você também. -Cruzou os braços desconfiado.
-Eu...Tô sem sono, levantei para beber um copo d' água.
-Eu também... -Passou por ele nervosa, parando do outro lado do corredor. -Porque está sussurrando?
-Não estou sussurrando.
-Está sim...Eu vou dormir, boa noite.
-É boa noite...Eu acho...-De costas ele se voltou para a porta do quarto, travando para abrir.
Karina parou na metade do caminho, e olhou para trás, sentindo o corpo pulsar.
Ele virou para o lado, e observou a mulher, a analisando muito bem, com uma camisola fina e transparente demais, cabelos bagunçados e o rosto amaçado. Uma imagem torturante demais.
E novamente ele esqueceu tudo a sua volta, e correu até ela sendo acompanhado, pularam nos braços um do outro chocando suas bocas em um beijo urgente.
Ela deu um pulinho envolvendo os pés no quadril do rapaz, enquanto ele apalpava todos os pedaços de seu corpo por debaixo da camisola, a fazendo grunhir com o contato dos dedos frios.
-Karina...-Conseguiu dizer puxando o ar ofegante assim que se afastaram.
-Não diz nada. -Sussurrou passando os dedos pelo lábio inferior do homem, antes de atacá-lo novamente.
~*~
Caíram na cama exaustos e Pedro acabou puxando a loira para seus braços, sem tirar o sorriso alegre estampado no rosto.
Ele deu um tempo para as respirações se regularem, e ela parecer mais calma.
-É tão difícil continuarmos assim.
-Começamos ontem, e eu nem sei se vai continuar.
-Claro que vai, pelo menos eu quero. -Alegou exasperado. -Karina essas coisas me machucam, você me beijar e depois fingir que não aconteceu nada, me tratar com indiferença, isso machuca, essa possibilidade me assusta.
-Eu sei, entenda Pedro, isso também é difícil pra mim.
-Vamos tentar mais uma vez, pra valer. -Ele falava olhando para o teto, não percebendo o estado em que ela se encontrava. -Eu amo você Ka, e sei esperar você conseguir me amar também. -Ela suspirou com os olhos marejados, evitando transbordar em lágrimas.
Poderia tentar, tentar quantas vezes quisesse, mas tentar não é conseguir, talvez ela nunca conseguisse, ou talvez conseguisse com o passar do tempo, ela não sabe, tudo parece tão confuso.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora