Culpa desconfortável

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Era pouco mais de cinco da manhã quando os primeiros raios solares começaram a surgir, Karina foi a primeira a se incomodar com a claridade. Abriu os olhos com certa dificuldade e assustou-se ao perceber que haviam dormido sobre a toalha na grama. Seu corpo ainda estava nu, ela abraçava Pedro que retribuía o abraço, uma perna estava por cima das duas dele. Sentiu a brisa gelada da manhã atingir sua pele e se encolheu um pouco mais sobre o peito do namorado. Ele pareceu se incomodar com os movimentos e acabou se mexendo, não demorou muito para acordar também.

Karina percebeu que ele estava despertando e escondeu o rosto, estava com vergonha em acordar naquela situação, mais ainda por estar completamente nua enquanto ele vestia uma cueca.

- Karina? - Pedro sussurrou com a voz rouca de quem acaba de acordar e tentou erguer o corpo com ela nos braços - Eu sei que você tá acordada, esquentadinha, levanta.

- Fecha os olhos. - ela disse baixo arrancando uma risada de Pedro - Não ri! É sério.

- Tá! - respondeu sorrindo e fechando os olhos enquanto ela largava seu corpo e tateava pela grama a procura de suas roupas. Já estava de calcinha e abaixada pra catar sua blusa jogada quando sentiu mãos rodear sua cintura - Você nessa posição é covardia.

Sua pele arrepiou-se imediatamente ao ouvir Pedro. Ele a abraçava por trás e beijava seus ombros despidos.

- Pê... Deixa eu me vestir? - a voz de Karina era fraca e parecia não condizer com as palavras. Sua cabeça estava um tanto inclinada para trás, recostada em Pedro.

- Está com frio?

- Um pouco.

- Vamo dar um mergulho?

- O que? - ela perguntou um pouco assustada.

- Um mergulho no lago, eu te garanto que a essa hora a água está quentinha. É o melhor horário pra dar uma caída lá. - ele continuava falando com a voz baixa e rouca, e distribuindo beijos no pescoço da loira.

- Eu não sei...

- Vem! - ele nem deu tempo para Karina responder, agarrou sua mão e a puxou para água.

Ele tinha razão, estava quente, o que fez causar um choque térmico gostoso em suas peles. Pedro ainda segurava sua mão, e a guiou até uma profundidade aceitável para sua altura.

- Caramba! Isso é uma delícia. - Karina se animou brincando com a água até mergulhar deixando apenas a cabeça a vista.

- Delícia é você aqui toda molhada, só de calcinha.

A menina arregalou os olhos para Pedro sentindo o rosto esquentar de forma anormal. Ele riu e a puxou para um beijo.

Ela quis protestar por terem acabado de acordar e não ter feito higiene alguma, mas sentir a língua de Pedro invadir sua boca a fez esquecer qualquer aversão aquela ideia. Agarrou os cabelos dele e aprofundou o beijo sentindo o sol iluminar de vez o lugar.

Separaram-se ofegantes, e Pedro lhe deu um selinho antes de sumir em um mergulho. Ela ficou ali, parada, processando tudo que estava acontecendo, só agora havia realmente parado para pensar. Tinha perdido sua virgindade e agora estava nua num lago com Pedro. O que tinha acontecido com a velha Karina? A velha nunca deixaria isso acontecer.

- Vai ficar aí parada? - ouviu ele gritar um pouco afastado e balançou a cabeça saindo do transe.

Nadou até ele e se enganchou em seu pescoço o permitindo deslizar pela água com ela agarrada. Beijaram-se por alguns bons minutos na água e resolveu que era hora se sair para um banho de verdade quando sentiu Pedro brincar com sua única peça e a invadir afundando as mãos em sua bunda.

- Um banho de verdade juntos? - ele sorriu malicioso quando ela sugeriu que deveriam sair dali.

- Não, Pedro. Cada um no seu banho.

Saíram da água e Karina correu para vestir a camiseta de Pedro jogada na grama, entrou correndo na casinha simpática e se dirigiu rapidamente para o banheiro do quarto onde havia acordado no dia anterior. Pedro estava logo atrás dela rindo de suas reações. Karina era surpreendentemente divertida, sem querer ser, seu jeito único e envergonhado a deixava mais adorável.

Ele catou as coisas espalhadas e levou tudo para dentro, jogando em cima da mesa da cozinha. Foi até o banheiro social e tomou uma ducha rápida, ao sair constatou que Karina ainda estava no banho.

- Tá viva? - gritou ao entrar no quarto para procurar uma roupa.

- Sim! - ela gritou de volta e ele sorriu.

Voltou para a cozinha a fim de preparar algo para comerem, viu o celular em cima da mesa e notou que não tinha voltado a desligar o aparelho, haviam duas mensagens de João e uma ligação perdida. Se sentiu ligeiramente mal por ter se gabado ao amigo as custas de Karina, as mensagens de João querendo saber como havia sido e se ela era realmente boa o deixaram péssimo, mas tentou ignorar. Não respondeu e desligou o celular deixando-o em um canto qualquer.

Karina apareceu usando um short jeans de lavagem preta e uma camisa vermelha de Pedro, os cabelos curtos estavam molhados e o cheiro do shampoo invadiu o ambiente.

- O que a madame deseja comer? - ele perguntou com uma voz engraçada e apontou a cadeira próxima ao pequeno balcão. Ela sentou-se e o olhou sorrindo tímida.

- Qualquer coisa.

- Infelizmente não temos essa opção, mas posso ofecer torradas com geleia, bolo, pão com peito de peru, suco de laranja ou leite. Você escolhe. - finalizou com o maior sorriso no rosto. Aquele sorriso sincero que fazia seus olhos fecharem e Karina sorrir de volta.

- Isso é um banquete!

- Nada além do que você mereça. - ele disse simplesmente e o sorriso que ela mantinha até aquele momento se desfez - O que foi? Falei algo errado?

- Já disse que não gosto quando você banca o senhor perfeitinho que fala coisas bonitas. Me faz gostar mais de você.

- E eu não sei qual o problema nisso, eu mesmo gosto mais de você a cada dia, não me incomoda. - na verdade incomodava, Pedro não gostava de gostar tanto da garota, mas não podia evitar.

- Eu tenho medo de me machucar, Pedro. Quanto mais eu gostar de você, mais propensa a desgraça eu estarei.

As palavras foram como um tiro no coração do garoto. Porque era exatamente isso que aconteceria se ela descobrisse a maldita aposta, e Pedro não podia suportar a ideia de vê-la sofrer por sua causa.

- Não gosto quando fala assim, aproveita o agora. - ele caminhou até ela e se encaixou entre suas pernas, segurou o rosto macio de Karina e a encarou no fundo dos olhos - Nós estamos aqui, juntos, bem e felizes. Para de pensar negativo.

Ela assentiu e lhe deus um beijo calmo e rápido.

- E essa torrada, sai ou não? - perguntou acabando com o clima um tanto tenso que tinha se instalado.

O resto do final de semana foi regado a brincadeiras e muitas conversas divertidas, Pedro não a deixava lembrar um minuto sobre os problemas, queria mantê-la afastada de tudo e com aquele sorriso no rosto. Tentou conversar sobre a noite que tiveram, mas Karina recusou veemente, pediu que deixasse pra depois, provavelmente ficaria muito envergonhada e acabaria com a viagem.

As horas passaram depressa demais e logo chegou o momento de partir.

- Eu amei esse final de semana, Pê, espero voltar aqui mais vezes. - já estavam na estrada de volta para casa.

- Quantas vezes você quiser, linda. Só me dizer quando precisar fugir de tudo mais uma vez.

- Obrigada.

- Não por isso. - ele desviou o olhar da estrada pra sorrir à ela.

- Não só por isso, por tudo. Você tá me fazendo um bem danado.

Mais uma vez aquele sentimento de culpa o invadiu, manteu o sorriso tentando disfarçar o desconforto e voltou a prestar atenção na estrada. Ligou o rádio em uma música qualquer, em um volume baixo, e segurou a mão de Karina a fazendo carinho até a garota pender a cabeça pro lado e dormir profundamente.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora