Aprendendo a ser pai

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Parece que foi ontem, ontem que um pequeno bebê enxergava o mundo pela primeira vez, ontem que Pedro sentia um amor inexplicável por aquela criança, só em pegá-lo em pequenos segundos, ontem que Karina resolveu ficar e aceitar a ajuda daquele que jurava nunca mais ver, ontem que ela amamentava a filha pela primeira vez, mas não, por mais incrível que possa parecer, tudo isso aconteceu a exatamente um ano atrás, doze meses, 365 dias, 8760 horas, 525600 minutos. Tempo em que Pedro velou o sono de Ângela, observou quase todas as suas mamadas, acordou durante a noite ao escutar um choro agudo e a pegou no colo acalmando-a aos poucos, tempo em que Pedro Ramos aprendeu o que é ser pai.

-Você parece com fome. - Pedro concluiu ajeitando a bebê em seu colo, pegou a mamadeira onde havia uma pequena quantidade de leite materno e observou a bebê sujar o bico faminta.

Nos últimos meses Karina resolveu que o melhor é fazer a filha desapegar do leite materno aos poucos, até porque tem ficado um pouco cansativo amamentá-la toda hora.

A pequena menina secou a mamadeira em questão de segundos e soltou uma leve gargalhada quando o pai a segurou alto no colo, ela tem soltado alguns sons uma vez ou outra, mas nunca uma palavra completa, nenhuma.

Karina e Pedro ansiavam por este momento, a relação dos dois foi crescendo com o tempo, não que tenham voltado, ela nem sequer pensa nessa possibilidade, mas acabou dando uma chance para aproximação, uma amizade que foi crescendo com o passar dos meses, e ela já não tenta mais evitá-lo como antes, nem se sente incomodada com sua presença.

Neste exato momento, Karina cruza os braços na altura dos seios e dá um sorriso leve, enquanto observa os dois no jardim da mansão, tem ficado cada dia mais incrível olhar como eles se dão bem um com o outro, as vezes durante a noite quando a bebê se põe a chorar, nem mesmo a mãe resolve, ela só se acalma totalmente no colo de Pedro.

Um vento leve bagunçou os cabelos loiros de Karina, loiros e ainda compridos, ela tira uma mexa do rosto que dificultou a sua visão, e se aproxima em passos lentos vendo Ângela cair dentro da cesta que a horas atrás estava cheia de frutas, a menininha soltou um riso gostoso de ouvir com o movimento. Mesmo ainda de longe Karina conseguiu ouvir a filha dizer com dificuldade, balbuciar baixinho e depois repetir.

-Pa-...Pa-Papai. - a reação de Pedro é uma mistura de surpresa e alegria. Ele retirou a bebê da cesta e a rodopiou de leve no ar.

Ele não demorou para perceber a presença de Karina no local e levantou entusiasmado.

-Você ouviu ? Ela falou, pela primeira vez, papai, ela falou Karina!

A loira assentiu desconcertada e sorriu de leve minutos depois.

- Ela já ama muito você.

- Você também...

- Quero dizer, ela tem um apego maior por você, uma coisa grande.

- Eu tô me saindo bem nisso, essa coisa de ser pai. - algumas coisas não mudam, e ele continua nada modesto, ela sorriu de leve com o pensamento e tomou a filha nos braços quando percebeu que o tempo estava escurecendo.

- Acho melhor entrarmos, parece que vai chover. - Pedro concordou e começou a recolher as coisas do jardim enquanto Karina caminhava de volta para a casa levando a filha nos braços.

Ela nunca diria isso para Pedro, mas ele está mesmo se saindo bem, um ótimo pai.

- Ela falou mesmo? Filho, esse é um momento para ser guardado para sempre! - Delma dizia entusiasmada, Pedro conseguia imaginá-la perfeitamente no momento, com uma das mãos sobre o peito talvez até dando alguns pulinhos de alegria enquanto sorria.

- Eu sei mãe! Ela disse mesmo, é difícil de acreditar até agora, ela anda tentando falar a semanas. - explicou segurando firme o telefone nas mãos.

- Eu, mais que tudo agora, preciso ver a minha neta, vou conversar com o seu pai, e voltar o mais rápido possível. - sorriu escutando a mãe pronunciar a palavra "neta", ela sabe a história toda desde o começo assim como Marcelo, os dois apoiaram e até se contaram orgulhosos do filho, mas estando do outro lado do mundo, nunca disfarçam sua ansiedade para conhecer Ângela pessoalmente.

- Você já viu ela, mãe, várias vezes.

- Por fotos, Pedro, fotos, não é o suficiente, faz tantos anos que não pego um bebê no colo, até esqueci a sensação.

- Você não existe mãe. - riu de leve. - Quando vocês voltam?

- Precisamos conversar ainda, até porque o seu pai está amando a cidade, principalmente os hotéis.

- Mãe...

- É sério as camas são ótimas, você devia fazer uma viagem dessas com a Karina.

- Mãe! Eu já expliquei tudo...

- Exatamente, imagine que incrível vocês fazendo as pazes do topo da torre Eiffel.

- Mãe!

- Se eu conseguir convencer o seu pai logo na semana que vem já estamos aí.

- Tudo bem, vou contar para a Karina mais tarde.

- Não conte, vou fazer uma surpresa para a minha nora.

- Mãe! Hoje a senhora acordou com a língua afiada hein.

- Senhora está no céu menino, não faça eu me sentir uma velha, e eu não superei o fato da Karina morar na mesma casa que você e continuar sendo minha ex nora.

- Mãe eu preciso desligar, mais tarde conversamos.

- E da próxima vez coloque a minha neta na linha, ainda não perdi as esperanças dela dizer vovó pelo telefone.

- Era a sua mãe? - Karina apareceu na sala logo após ele desligar o telefone.

- Era, ela está bem ansiosa para conhecer a Ângela.

- Eu gosto da sua mãe... Muito. - deu um meio sorriso. - A Ângela está lá em cima, ela acordou agitada hoje.

- Eu vou lá. - Discretamente ela analisou ele subir as escadas afobado, é sempre assim quando se trata da filha, ainda é um pouco estranho vê-lo tão entusiasmado com a ideia de ser pai, muito diferente do Pedro de anos atrás.

~*~

Uma semana depois Delma havia ligado mais de três vezes no dia, avisando que estava de volta com Marcelo e que a primeira parada dos dois seria uma loja de fraldas. Ângela crescia a cada dia, de um modo pequeno e discreto, Pedro tratava de acompanhar todos os avanços da menininha, que acabou pronunciando a palavra "mamãe" dois dias depois.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora