Eu fui uma aposta?

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Pedro deixava a água cair como se ela fosse trazer a resposta do seu dilema. Mas a verdade é que seu coração já havia decidido, sentir Karina naquele momento, se preocupando em ter feito algo foi uma surra em seu coração. Não poderia ver ela angustiada daquela forma, não poderia ficar mais longe. Dane-se o futuro, ele não iria a lugar algum.

Saiu do banheiro com a decisão tomada, sentia-se leve e queria poder gritar o que sentia para Karina, e talvez ele fosse, talvez estivesse cheio de coragem e iria dizer à ela naquele momento que a amava, não fosse a imagem de uma Karina chorosa e de olhos vermelhos.

- Karina...

- Nojento. - foi a única palavra que ela conseguiu pronunciar para descrever o que achava dele no momento.

- Karina, me escuta, isso... Isso é uma coisa idiota, eu sei, mas não faço mais isso - não sabia até onde ela tinha lido, mas esperava que não tivesse chegado a última anotação.

Um riso sarcástico cortou o choro contido da loira e fez o coração de Pedro gelar.

- Eu fui uma aposta, Pedro?

- O que? - ele estava atordoado, não sabia o que pensar, não lembrava de ter escrito sobre isso.

- É o que diz no "Karina Duarte". - as lágrimas da menina pareceram aumentar e talvez Pedro estivesse prestes a chorar junto à ela.

- Karina, por favor, eu posso explicar...

- Eu não quero ouvir! Eu... Não tô conseguindo olhar pra você agora. - disse catando tudo seu que tinha espalhado pelo quarto.

- Karina, me ouve!? - Pedro estava desesperado, seguia os passos que ela fazia pelo cômodo, mas Karina sussurrava que não queria o ouvir - KARINA!

Ela correu, rapidamente descendo as escadas que davam à sala, e alcançou a porta rapidamente.

- Não vem atrás de mim, vai ser pior.

Foi a última coisa que ela disse antes de sair com a mochila nas costas, Pedro a observou, mesmo se ela deixasse não iria atrás, pelo menos não naquele momento, estava apenas de toalha. Ele resmungou um "droga" socando a porta ao fechá-la e deixou o corpo amolecer no chão enquanto as lágrimas finalmente caiam.

Karina correu. Não tinha um destino, apenas correu, não poderia ir pra casa agora, era arriscado Pedro ir atrás dela, e ela não queria vê-lo agora, precisava pensar.

Uma aposta?

Não poderia ser... Lembrava de como eles começaram, e se falassem isso para ela naquela época, acreditaria sem pestanejar, mas agora... Ela conhecia Pedro, não poderia ser verdade. Não que ele não fosse capaz de uma aposta idiota com os amigos, ela sabia que sim, ele era. O que ela não acreditava era que ele pudesse estar fingindo todo esse tempo, não poderia ser.

Deixou mais algumas lágrimas rolarem em seu rosto, o dia estava quase acabando, caminhava por uma calçada enorme ao lado de um parque gramado, correu até uma árvore e sentou encostando-se nela enquanto tentava inutilmente parar de soluçar.

O que Pedro fez ou deixou de fazer antes de namorá-la não lhe importava, sabia que ele já tivera muitas e aprendeu a conviver com isso, então pouco se fodeu para aquelas escritas em seu diário pervertido; era nojento, e doente, sim, mas não conseguia se importar com isso. O que lhe doía era saber que se entregou a uma aposta, um jogo, uma brincadeira.

- Burra! Idiota! Claro que ele não gosta de uma bruta que nem sabe se vestir direito! - enquanto gritava, pendia a cabeça para trás a tacando de leve no tronco da árvore - Como eu pude ser tão burra?!

Sabia, desde o primeiro momento, que Pedro era problema, mas se deixou levar mesmo assim; abaixou a guarda. Entregou seu coração a ele e agora estava completamente estraçalhado.

Pensou em tudo que viveu nos últimos meses, era mesmo demais pra ser real.

Não. Tinha que ser real! Não era possível alguém fingir tão bem, por tanto tempo. E todas as vezes que ele havia dito que a adorava? Que se sentia bem ao seu lado?

- Por que, Pedro? - sussurrou antes de fechar os olhos e se levantar dali, iria para casa. Era tarde e Pedro não lhe procuraria mais.

Bianca a questionou o motivo dos olhos inchados, mas Karina nada respondeu, trancou-se no quarto e se jogou na cama deixando tudo voltar novamente, sua boca estava salgada com tanta lágrima que escorria por seu rosto.

Dormiu sem perceber, e acordou com Bianca batendo em sua porta, perguntando se estava tudo bem, olhou para o relógio e viu que era tarde, tinha perdido a primeira aula. Gritou para Bianca que estava tudo bem, apenas com dor de cabeça, e levantou-se assim que a irmã saiu para o trabalho. Caiu embaixo do chuveiro esperando que a água fria a deixasse melhor, mas só piorou a situação, pois lembrou que seu último banho havia sido com ele.

Ele ainda não tinha ligado, nem tentado se explicar. Pedro não era de desistir fácil, ela mesma era a prova viva disso.

Vestiu-se rapidamente decidida a procurá-lo, não sabia o porquê de fazer isso, mas queria ouvir dele que tudo não passou de uma mentira, porque ela não podia aceitar isso simplesmente. Ontem não conseguiria ouví-lo, estava magoada demais, enojada demais. Mas esperava que hoje conseguisse, pelo menos, encará-lo.

Chegou na universidade esperando encontrá-lo, não voltaria na casa dele, não mesmo. Viu que os meninos estavam todos na mesa de sempre, menos ele. Respirou fundo antes de se mover, queria ter certeza antes de ir até lá, estava com raiva deles também, de alguma forma sabia que eles tinham um pé nessa história toda, talvez até um corpo inteiro.

- K! - ouviu a voz atrás de si e pensou se virava ou não, tinha noção de que sua cara entregaria as horas de choro - K, você tá bem?

- Tô, Cobra.

- Ei, olha pra mim... - disse tocando o ombro dela e girando seu corpo - Tá tudo bem mesmo? Você faltou o primeiro horário.

Karina respirou fundo e fechou olhos antes de responder.

- Eu preciso resolver uma coisa, Cobra, depois a gente conversa, ok?

- Tá. - ele disse meio incerto e observou a garota caminhar até a mesa dos garotos.

Duca foi o primeiro a vê-la. Olhou para João e de volta para Karina, Lírio percebeu os olhares e seguiu também.

- Será que ela veio bater na gente?

- Deixa de ser idiota, Lírio. - levou um soco no braço vindo de Duca.

- Cadê ele? - ela não fez questão de cumprimentar nenhum deles. Eles não mereciam sua educação. A voz soava fria e poderia explodir a qualquer momento.

João estreitou os olhos confuso, e olhou para os amigos, eles estavam da mesma forma.

- Como assim?

- Não testem a minha paciência. - a loira fechou os punhos e cerrou os dentes - Ele me deve uma explicação. Cadê ele?

João deixou o queixo cair não acreditando que o amigo havia mesmo feito aquilo. Pedro lhe ligou na noite passada entre soluços pesados, que mais pareciam urros de dor, contando que Karina havia descoberto tudo e saíra correndo de sua casa, contou também que havia tomado sua decisão, e que partiria pela manhã, não tinha mais nada que o prendesse ali. O que João não sabia era que Pedro não tinha contado nada a ela, não sabia até aquele momento.

- Ele foi embora, Karina.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora