Primeiro passo para seguir em frente

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Pedro se surpreendeu, e de um jeito bom, ótimo até.

Naquela noite todo o pessoal da empresa resolveu jantar em um restaurante no centro, no começo a contragosto, mas ele cedeu ás insistências de João e acabou indo. Nos primeiros minutos estava afastado dos amigos, com o pensamento longe, não prestando atenção na conversa, a verdade é que observar o movimento da rua pareceu ser mais interessante que qualquer outra coisa. Faltava apenas uma pessoa no grupo de colegas, Natália, que chegou um pouco atrasada, sempre bonita e elegante ela cumprimentou um por um dos colegas, deixando um beijo no rosto para Pedro. Se isto fosse a anos atrás ele viraria o rosto e o beijo seria nos lábios, mas seu instinto canalha, se é que ele ainda possuiu um, não deixou que fizesse isso, pelo contrário, a possibilidade nem se quer passou por sua cabeça.

Mas a tal surpresa veio com o passar dos minutos, quando a mulher morena e bonita começou a puxar assunto, fazendo perguntas sobre sua vida, perguntas essas que Pedro não se incomodou em responder. Logo depois foi a vez dele de perguntar, que fez o mesmo nível de perguntas.

"Então você mora sozinha á bastante tempo?" - soltou vendo ela assentir sorrindo encantadoramente.

"Soube que você tem uma filha, eu amo crianças, como ela se chama?"

"Ângela. Ela é minha vida, bastante inteligente para a idade dela, acho que eu me saio bem nessa coisa de ser pai."

"Você parece ser aquele tipo de pai babão, o que é normal para alguns homens pais de primeira viagem." - sorriu outra vez antes de pedir mais uma bebida. E assim os minutos foram se passando, como se existissem somente os dois na mesa, que por sinal, estavam sentados de frente um para o outro, ambos afastados dos outros colegas.

No final da noite, quando todos decidiram ir embora, ela deixou escapar que estava sem o carro, e que por isso acabou se atrasando na pressa para encontrar um táxi. João deu um olhar malicioso para o amigo acompanhado por um tapinha nas costas e sumiu entre os colegas de trabalho.

- Quer que eu te leve até o seu apartamento? - colocou as duas mãos nos bolsos da calça.

- Não vou atrapalhar? Talvez o próximo táxi nem demore muito. - ela fez o que todas as outras costumavam fazer no tempo da universidade. Um charme básico, ou "se fez de difícil", como muitos costumam dizer. Mexeu algumas vezes no cabelo, e depois que Pedro voltou a insistir, ela aceitou finalmente.

- Odeio engarrafamentos! - resmungou analisando a enorme fila de carros a sua frente.

- São ótimos para bater um papo algumas vezes, enquanto os carros não saem da frente.

- Sobre o que quer conversar?

- Eu soube que você mora com uma mulher, a mãe da sua filha, suponho. - comentou simplesmente fazendo o homem pensar sobre as especulações que outras pessoas costumam fazer sobre a sua vida.

- É, ela mesma, Karina.

- Bonito nome. - sorriu outra vez, e ele teve certeza de que não foi um sorriso forçado como as mulheres fazem quando o assunto é outras mulheres - Então vocês...

- Não não, somos só amigos mesmo.

- E moram na mesma casa?

- É complicado... Eu prefiro não entrar em detalhes. - os carros pareceram ter sumido e ele voltou a guiar o veículo pela rua. - Mas e você? Muitos namorados?

- Que isso, ultimamente meu único objetivo tem sido o trabalho, mas eu gostei de sair com você... Vocês. Devíamos fazer isso mais vezes.

Percebeu a indireta, e percebeu também que seu instinto a respeito de mulheres continuava ótimo, só está meio mofado, mas é como se conseguisse adivinhar o pensamento da morena, ou talvez ela seja transparente demais.

- Claro, eu estou livre amanhã á noite, você quer?

- Vou adorar. - sorriu outra vez até seus olhos fecharem, em uma única noite Pedro conseguiu se acostumar com esse sorriso, e até gostar dele.

- Então você levou a Nat até a casa dela?

- Levei, João, é um apartamento bem bacana até.

- E ela convidou você para entrar?

- Convidou e eu recusei, mas não foi do jeito que está pensando, ela convidou por educação. - afirmou entrando em casa. - Típico! Enfim, você gostou do papo dela?

- Ela é legal, inteligente, um pouco curiosa, mas eu gostei.

- Então?

- Então, eu acabei chamando ela para sair, amanhã. - escutou um barulho estranho do outro lado da linha, e de repente João começou a tossir parecendo perplexo.

- Até me afoguei agora, você tá falando sério, Pedro?

- Claro, porque? Você achou cedo demais? Espera, foi você mesmo que pediu para eu a convidar.

- Ela deve ser mesmo legal, para você seguir um conselho meu.

- Amanhã conversamos, João, eu tô super cansado, e quero dar um beijo na Ângela antes de dormir. - se despediu do amigo antes de desligar.

Próximo a porta há uma tomada que dá acesso às luzes da sala, assim que seu dedo tocou no botão ele se assustou ao encontrar Karina na sala, usando apenas uma camisola, com os cabelos desarrumados, e os braços cruzados acima dos seios, o analisando.

- Boa noite, Karina.

- Boa noite. - respondeu com um olhar intrigado.

- Acordada a essa hora?

- Não estou com sono... Desculpa, eu não pude deixar de ouvir sua conversa.

Engoliu em seco sem ter o que responder, mas percebeu que é estranho pensar assim, de fato, é mesmo solteiro e livre para conhecer outras mulheres.

- Ah, é... Eu gostei dela, vamos sair outra vez amanhã. - falou como se tentasse se explicar, mesmo sabendo que não devia isso à Karina.

- Você quer ouvir minha opinião? - Karina nunca pergunta antes de dizer o que pensa, ela só diz. Mas neste momento foi como se ela precisasse de uma confirmação, uma deixa para fazer uma loucura, e ele deu essa deixa ao concordar imediatamente - Não quero que você saia com ela amanhã.

Pedro deixou a boca abrir revelando seu estado perplexo.

- Posso saber o porquê? Eu não tenho o direito de ser feliz? - as bochechas dela estavam vermelhas, provavelmente pela irritação e frustração. Fazia tempo que ele não a via assim tão esquentada.

- Você não é feliz?

- Não completamente, você sabe muito bem o motivo.

- Você não vai sair com ela. - afirmou se aproximando em passos rápidos, ela estava decidida, convicta.

Então foi tudo rápido, rápido demais, em uma velocidade extraordinária. Karina ergueu os pés ficando de sua altura e avançou sobre seu corpo, grudando os dedos nos cabelos castanhos, como só ela sabe fazer, e os lábios dela, macios e carnudos, os mesmos lábios de anos atrás, foram chocados contra os dele. Em um único segundo Pedro esqueceu até seu próprio nome, e o porquê de estar irritado segundos atrás. A única coisa que lembrou foi que Karina Duarte, aquela que ele pensou ter perdido tantas vezes, estava novamente em seus braços, porque é onde ela deve, e parecia querer estar.

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora