Solidão

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"Em algum lugar, você está olhando por nós...

Eu sei que sim, eu sinto.

Eu te sinto!

No ar, no vento, em cada brisa... No céu, minha estrela cadente."

É parecido com um bloquinho, e todas as folhas estão preenchidas. E ele só consegue ler um poema, não precisou ver nomes para entender de quem se tratava.

Com o corpo travado ele tem dificuldade em colocar o caderno novamente no lugar, usando as mãos que tremem suadas. Suspira confuso e caminha até a cama sentando no colchão, porque ela nunca falou do caderno? Talvez a sensação gelada seja só exagero, não há nada demais escrito entre as folhas, mas só em saber que ela pensa e escreve sobre ele, já provoca um medo que não sentia a alguns meses.

"São só palavras, Pedro! Só um texto como todos os outros, ela gosta de escrever..."

Esconde o rosto com as mãos apertando os olhos, belo efeito esse que frases podem causar. Tenta se convencer da insignificância daquelas páginas, mas dentro de si ele sente um aperto, e sabe que são mais que páginas.

"Isso não tem importância alguma, ela te ama!"

Ergue a cabeça fixando o olhar em uma das paredes do quarto, a quem está tentando enganar? Ela nunca disse, não a frase toda, ela nunca afirmou amá-lo, e antes isso não o afetava tanto, pois acreditava ser amado, mas agora...

- Ama mesmo? - se pergunta em voz alta, mas por uma soma de curtos segundos ele não tem uma resposta.

- Quem ama o que? - entra curiosa, tão lenta que não percebe o estado em que ele se encontra no primeiro momento.

Ela tem esse poder, de nunca perceber nada.

Com os olhos marejados ele se vira, e ela gela assustada.

- Você, eu. Você me ama mesmo? - franze a testa aparentando confusão.

- Que pergunta é essa, Pedro?

Levanta exausto caminha até o caderno e entrega nas mãos dela, que assustada, encara a capa delicada do objeto, antes de se voltar para o namorado, que sem dúvidas espera uma explicação.

- Isso... Não é o que está pensando. São só, desabafos, eu gosto de escrever... Você sabe. - balbucia nervosa.

- Claro, desabafos. - murmura irônico já com os olhos brilhando.

Karina não gosta quando duvidam do que falam, ela detesta. E detestou vê-lo duvidar, seu rosto já está começando a se avermelhar.

- Eu te amo, Pedro, por que essa cena toda? - ele solta o ar e aperta os punhos.

- Cena? Qual o seu problema? Há meses atrás eu acreditava que o problema era eu, mas agora percebo que não, é você, que ainda não esqueceu o Cobra.

- Eu nunca vou esquecer o Cobra, Pedro! Ele é uma lembrança bonita...

- Ele tá morto, Karina! E você faz questão de reviver essa lembrança todos os dias enquanto escreve nesse caderno.

- Não tem nada demais! Eu não entendo...

- É fácil de entender, de aceitar também, eu preciso aceitar, Karina, aceitar que você simplesmente não me ama.

Nas últimas três palavras ele solta as lágrimas, que deslizam silenciosas.

- Não diga bobagem, Pedro! Eu amo, você sabe que eu amo...

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora