Família perfeita

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Capítulo

-Ela é tão pequeninha. -Ângela fala brincando com os dedos da bebê. 

-É mesmo, parece um anjinho, como você. - Pedro falou sorrindo bobo. 

Era o último dia de Karina no hospital, e não lembra de ter saído de perto da loira nem por um segundo. 

No decorrer do tempo receberam algumas visitas, Bianca que se ofereceu para ficar algumas horas com a irmã para que ele fosse para a casa tomar um banho rápido e comer alguma coisa, João que babou considerando a hipótese de ter mais uma afilhada, e Ângela que fez birra e se recusou a sair de perto do bebê. 

Naquele dia Karina acordou pouco mal humorada, não aguenta mais ficar parada, deitada em uma cama sem nada de interessante para fazer, fora que a nova filha suga todas as suas energias e é um pouco mais agitada do que Ângela quando nasceu. Mas ela se acalma na presença de Pedro, e dorme por horas seguidas nos braços do pai, ele se ofereceu para cuidar da filha para que a mulher dormisse um pouco, antes de cair no sono ela comentou que ele leva mesmo jeito com crianças. 

Na verdade ele leva jeito para ser pai. 

-Papai porque a mamãe não acorda logo? Eu quero ir pra casa. 

Olha para trás e sorri vendo Karina dormir tranquilamente, como quase não conseguiu fazer nos últimos dois dias.

-A mamãe está muito cansada, quando ela acordar vamos direto para casa. 

A garotinha concorda e volta a brincar com os dedinhos pequenos da irmã.

Ao contrário de Ângela, ela não nasceu com os olhos da mãe, muito pelo contrário, é uma cópia perfeita de Pedro, os poucos e curtinhos fios de cabelo que possui são castanhos mel, igual aos olhos, grandes e castanhos. 

Até algumas pintinhas no pescoço ela tem, poucas e quase impossíveis de reparar.

-Bom dia.

-Boa tarde, já são quase três horas. -Olha para o relógio rindo quando ela faz uma careta.

-Essa cama não é tão confortável quanto a nossa, mas deu para repor as energias.

-Mesmo?

-Só até a gente chegar em casa, quero dormir até amanhã.

-Eu também tô quebrado, mas se ela não dormir, não dormimos também. 

-A Bianca já foi embora? Quando eu dormi ela estava aqui ainda. 

-Foi sim, e o João convidou ela para tomar um café. -Sorri malicioso adivinhando o que o amigo deve estar fazendo agora.

-Café? As três da tarde?

-Jura que você não imagina o tipo de café que eles foram tomar? -Ela nega com uma cara interrogativa. -Qual é Ka. 

-Ah, não acredito, você não perdeu a mania de maliciar coisas assim tão inocentes.

-Inocentes? Está um calor de rachar e ele convidou ela para tomar café, se fosse um sorvete pelo menos.

-Ah Pedro! Pare de debater a vida amorosa dos dois e vá já  discutir a minha alta com o médico.                                        

                                     ***

-Cuidado com os degraus Ka. -Pedro alerta com dificuldade em meio á um amontoado de bolsas que segura com uma mão, e Ângela com outra. 

-Para com isso Pê, não é porque acabamos de sair do hospital, que eu tô doente. -Ela responde meio irritada com tanto cuidado e ouve uma risadinha leve. 

Karina suspira deixando escapar um leve sorriso, senta no confortável sofá exausta. 

Nunca pensou que sentiria tanta falta de casa, e olha que não passou nem uma semana no hospital, nunca gostou de hospitais, o cheiro de remédio se torna enjoativo. 

Aproveitando que a bebê acabou dormindo enquanto ainda estavam no carro, poderia aproveitar para fazer o mesmo.

-Como é bom voltar para casa. - Comenta ajeitando com cuidado a filha na cadeirinha de transporte. -Vamos colocar ela com cuidado no berço e dormir a tarde toda. 

-A não mamãe. -Cruza os braços fazendo um biquinho. -O papai disse que quando a gente voltasse, eu podia ficar a tarde toda brincando com ela.

-Seu pai prometeu, e ele vai cumprir. 

-Quer que eu faça uma massagem nos seus pés agora não mais inchados? -Pergunta não escondendo a intenção maliciosa.

-Mais tarde. 

-Fique aí, quero te mostrar uma coisa. 

-O que?

-Surpresa.  -Ele sobe as escadas correndo, e quando volta depois de um tempo, trás nas mãos uma grande caixa decorada. -Pra você. 

-O que é? -Passa a ponta dos dedos pelo laço sorrindo. 

-Abre.  

Ela o encara curiosa e abre a caixa desconfiada. 

-É sério, Pê? -Solta uma gargalhada gostosa pegando a figura peluda que pula de dentro da caixa. 

-Você me fez o homem mais feliz do mundo, e eu pensei em te dar um presente, mas você não é bem o tipo de mulher que curte jóias, flores e chocolate, por isso eu resolvi dar algo que você fosse amar. Lembrei do nosso tempo de namoro, você gostava muito do simba. - Karina olha para ele e entrega o cachorrinho nas mãos de Ângela para poder puxá-lo para um beijo.

Antes Pedro não era bom com declarações, essas palavras mostraram que ele mudou nisso também. 

-Você é incrível. 

-Gostou? 

-Muito, eu sempre quis ter um cachorro. -Pega uma das mãos dela e entrelaça seus dedos. 

Eles ficam assim por um bom tempo, só se olhando, e escutando os latidos baixos e a alta gargalhada de Ângela que parece gostar das lambidas do alegre cachorrinho. 

-Ka?

-Fala.

-Olhando assim, eu acho que temos uma família perfeita. 

-Você acha?

-Claro, moramos em uma grande casa amarela, temos duas filhas lindas, e um cachorro, sem contar que estamos no sofá agora. É o cenário de uma família perfeita em um filme americano.

-As vezes você fala umas coisas tão idiotas, que chegam a serem engraçadas.

-Você acha?

-Tenho certeza, e tenho certeza de mais uma coisa...

-O que?

-Eu aprendi a gostar delas. -Em instantes a boca dela é coberta pela dele. 

Pode ser que ele tenha razão, são uma família perfeita, as vezes de um jeito meio torto, mas são. 

Eu vou tenta conserta vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora