– Filhote de águia!
Faena Eochad fez uma reverência. Cercada pelos ramos de um enorme salgueiro, ela olhou para cima, tentando encontrar a dona da voz que a saudara. Ma Ulna gostava de ficar sentada nos galhos mais altos, empoleirada como um gato, deixando cair sua longa trança cor de pérola.
– Finalmente veio. Achei até que veria você antes...
– Ma Ulna – Faena falava alto, enxergando apenas a trança que caia, quase tocando o chão – Eu ia mesmo vir antes, mas fui dissuadida por meu irmão. No entanto... hoje eu tive um sonho... e preciso de sua sabedoria.
A elfa suspirou, esperando que aquilo realmente ajudasse. Ninguém sabia ao certo o que Ma Ulna era. A dokalfar acreditava que ela era o espírito daquele salgueiro; outros achavam que Ulna era a própria Afeldhun se manifestando. De qualquer modo, uma coisa era certa: não havia ninguém na floresta dentro da floresta que não a respeitasse, e Faena sempre se sentia estranhamente tola e jovem quando cercada pelas folhas e troncos do salgueiro ancião. A elfa negra sacudiu a cabeça, afastando seus pensamentos, e esperou, ouvindo o barulho do vento por entre as folhas. Viu a trança cor de pérola se recolher e, momentos depois, avistou uma mulher diminuta descendo pelo tronco da árvore. Faena sempre tinha a sensação de estar vendo um esquilo quando observava Ma Ulna. Seu corpo enrugado de um metro e meio guardava uma agilidade desconcertante, incompatível com seus membros encarquilhados.
Ma Ulna, no entanto, não estava preocupada em parecer coerente.
Ao chegar ao chão, a velha caminhou com os pés descalços e parou à frente de Faena, encarando-a com seus olhos nublados de branco. A túnica verde-oliva da anciã brilhava, coberta de orvalho, e as milhares de contas coloridas que ela gostava de usar ao redor do pescoço tilintavam.
– Faena – ela disse, sorrindo – Você tem os olhos e a teimosia de sua mãe. Já lhe disse isso?
A dokalfar assentiu.
– Sim, Ma Ulna. Sempre.
A mulher sacudiu as mãos, sinalizando para que Faena se sentasse. A elfa negra obedeceu e acomodou-se na relva macia, cruzando as pernas.
– Agora sim – a mulher disse – Muito bem, filhote de águia. Você teve um sonho. Conte-me.
A dokalfar respirou fundo e falou, de uma vez só, tudo o que tinha visto. Contou sobre o vento, a tempestade e o cordeiro. Falou sobre a cura e sobre a morte da criatura inocente. Ma Ulna escutou, compenetrada, mas depois de alguns segundos, deu de ombros.
– Que mensagem isto lhe traz, filhote? – ela perguntou.
Faena foi pega de surpresa. Tinha pensado que ouviria respostas, e não uma pergunta. De qualquer modo... havia um cordeiro; ele a ajudara e morrera logo depois. Parecia uma imagem bem clara, mas os sonhos sempre tinham significados ocultos, e Faena não sabia ao certo o que dizer sobre aquele.
– Eu não sei – ela foi sincera.
A mulher sorriu.
– Mas saberá. Agora, Faena, vamos falar sobre o real motivo que lhe trouxe aqui. Você sabe que os anciãos já me consultaram, não sabe?
– Sim, Ma, já me disseram – Faena mordeu os lábios – Mas...
A velha, de repente, desceu o punho na cabeça da Asynja.
– Então por que você está aqui? – ela trovejou.
– Ai! – Faena reclamou, esfregando o galo – Ma Ulna!
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Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)
FantasyCerta manhã, Myron, o sumo sacerdote de Silena, simplesmente não desperta. Vivo, mas em um estado de coma, o clérigo não pode dizer o que há de errado, para desespero de sua esposa, Valenia, e de seus filhos, Eladar e Lyriel. Na mesma época, relatos...