Capítulo 45 - Filho de Myron e Valenia

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Olena respirou fundo e expirou longamente, esperando que aquilo tirasse um pouco do peso que sentia no peito.

Menos de duas semanas atrás, ela era apenas uma jovem aprendiz de clériga querendo estudar com um grande sacerdote. Agora, era uma viajante cujos pais não faziam ideia de sua aventura, sentindo algo de estranho no ar.

As estrelas brilhavam e a Lua minguava no céu, mas ainda emprestava sua luz pálida à relva que cercava a Colina de Prata. Olena estava próxima de Faedran, que dormia sentado, encostado a uma rocha aos sopés do monte. Ela preocupava-se com ele, seu primeiro paciente, mas preocupava-se ainda mais com a doença de Dufel e com o coração de Lily. Driali, pelo menos, parecia tão sólida quanto a pedra alta na qual estava sentada, vigiando a escuridão para além do círculo luminoso da fogueira. Dara dormia logo abaixo dela, imóvel. Tudo parecia ter voltado aos eixos, na medida do possível. Claro, Lyriel devia estar chorando baixinho, enrolada ao saco de dormir, mas Dufel estava ao lado dela, cantando, e Lena sabia que a voz dele era melhor consolo do que qualquer outra coisa. Não havia mais nada que a anã pudesse fazer, não por enquanto; ainda assim, Olena sentia um aperto no estômago, um princípio de enjoo, e por vezes chegava a pensar que havia algo se aproximando...

Você está tensa, Olena. É só isso.

– Curandeira?

Um sussurro. Faedran. Ele nem abrira os olhos, mas ela tinha certeza de ter ouvido sua voz. Ele não estava dormindo como eu pensei.

– Dokalfar? O que há?

– Quero lhe perguntar algo. Pode se aproximar um pouco mais, por favor?

Ela se levantou. No mesmo instante, Driali voltou a cabeça e Dufel passou a seguir Olena com os olhos. A anã fez um gesto para mostrar que tudo estava bem e os irmãos continuaram a fazer o que estavam fazendo. Lena se sentou bem próxima de Faedran e esperou que ele fizesse sua pergunta. Ao perceber que ela estava a seu lado, o dokalfar murmurou, discreto:

– A senhorita notou algo de diferente no bardo?

Lena inclinou a cabeça, tentando entender onde o elfo queria chegar.

– Por quê? O que quer dizer?

Ele abriu os olhos. As pupilas amareladas de Faedran pareciam um pouco mais escuras. Elas estreitaram-se, apreensivas.

– O lobo me revela coisas, curandeira. Ele me disse algo preocupante sobre o contador de histórias, e eu pensei em lhe dizer.

A anã sacudiu a cabeça, e por sua expressão Faedran adivinhou que ela já sabia o que ele iria contar.

– Não diga. – Ela atalhou, rápida. – Eu sei, e Lily também. Mas não quero que Driali saiba.

Faedran franziu a testa.

– Se todos sabemos, o certo seria contar a ela.

– Agora não, dokalfar. Não interfira, por favor. Isso não é de sua alçada. Quem descobriu primeiro fui eu, a responsabilidade é minha. E quem deveria contar a ela é o próprio Dufel.

O dokalfar assentiu, sério. Parecia incomodado, mas não opinou mais sobre o assunto.

– A situação se complica. – Ele sussurrou, depois de um tempo em silêncio.

– Sim. – Lena concordou. – Você ainda não conseguiu contatar sua irmã?

Ele balançou a cabeça.

– Sinto muito... ela está fechada para mim.

Faedran estremeceu. Que diabos estava acontecendo com ele? Ele estava mentindo. Falara com Faena há segundos, e seu coração ainda batia mais rápido por causa do medo. Faena cortara a conexão dos dois de súbito, mas Faedran enxergara, antes de perdê-la, a imagem de um elfo pálido sorrindo. O dokalfar sentiu o desespero de sua irmã quando ela se deu conta de que aquele elfo corria um perigo ainda maior do que correra em Elwing. Ela se importava com o clérigo, muito mais do que Faedran esperaria, e isso ainda o deixava confuso. Como Faena e as vidas deles haviam mudado tanto em apenas uma semana? Ma Ulna havia dito que aquela jornada era sobre curar sua irmã, mas era surreal demais para que ele pudesse entender.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora